Luanda  - Uma longa conversa entre amigos no qual se abordou sobre questões relacionados aos desafios de combate à pobreza e desenvolvimento sustentável de Angola e caminhos a seguir, terminou com as seguintes palavras:  “Se temos tantas ideias assim, então porque continuamos com estes problemas básicos, uma vez que Angola tem estado no top cinco dos países com maiores orçamentos anuais do continente Africano? Portanto, o dinheiro não é dos nossos maiores desafios.”  

 
Fonte: Club-k.net
 
Bem, não sendo possível encontrar uma só razão objectiva que responda de forma taxativa ao tal questionamento, resolvemos reflectir sobre o assunto para encontrarmos as possíveis causas.  
 
Como se sabe, por mais rico que um país seja, se não tiver homens suficientemente preparados para transformar a riqueza potencial em riqueza real, nada é feito. 
 
As nossas lacunas de pessoal qualificado em algumas áreas chave são mais que evidentes. Mas existem áreas que deveriam estar melhor servidos. O país tem pessoal com alguma capacidade que poderiam mudar o curso actual, se houvesse vontade e estratégias para tal.
 
O país nunca teve tantos quadros como agora, nem mesmo no tempo colonial. Para além dos formados internamente, existem também aqueles provenientes do exterior, mas os nossos problemas parecem não diminuir. 
 
O país tem recebido quadros provenientes de universidades de renome internacional e que terminam os seus cursos com mérito e mesmo com distinção. Pela formação obtida, alguns desses quadros poderiam trabalhar em qualquer parte do mundo, mas resolvem regressar ao país para contribuírem para o seu desenvolvimento. Todavia, uma vez no país, são diluídos na letargia e nas práticas correntes que os impede de aplicarem os conhecimentos adquiridos. Ao profissional não é permito a introdução de novos paradigmas que sejam contrários ou muito diferentes do sistema vigente. Por isso, muitos profissionais se tornam figuras decorativas sem liberdade de pensamento ou iniciativa. Muitos se transformam em replicadores da ineficiência e do comodismo.
 
 
Só assim se explica, por exemplo, que muitos jornalistas da imprensa pública estejam a fazer uma cobertura da campanha eleitoral de forma tão tendenciosa e vergonhosa como a que estamos a assistir. Muitos estão conscientes que não estão a agir dentro dos parâmetros da deontologia ou ética da sua profissão, mas por causa do sistema em que funcionam, são obrigados a trair as suas consciências e tudo o que aprenderam.
 
 
Infelizmente, o que se está a passar na imprensa é uma demonstração clara do que se passa na maioria dos sectores do país, no qual o excesso de partidarização mata o pensamento crítico e a criatividade dos profissionais. A realidade é que muitas das iniciativas que se pretendem implementar no país e que muito se têm prometido nas eleições, nunca serão cumpridas caso não haja coragem para se dizer “basta”. 
 
 
Quando se encoraja o profissional a fazer vista grossa às acções que vão contra as suas convicções e à verdade, estamos a encorajar e a abençoar a corrupção e outras práticas indecorosas. Porque a mensagem que se passa é, “podemos violar as regras sem qualquer problema, se o resultado final for benéfico para nós”.  Como consequência, muitos profissionais já não têm receio de violarem regras para que possam aumentar o saldo das suas contas bancárias ou para que não percam os seus empregos. Não se pode combater à corrupção sem o encorajamento à integridade, e esta não deve ser feita somente com discursos ou leis, mas com práticas. O “sal que se pretende colocar na gasosa” não irá resultar em coisa alguma se a mentalidade continuar a ser a de se olhar de forma impávida às violações que resultem em benefícios ao nosso favor. 
 
 
O mais triste é ver que muitos dos “pseudo-intelectuais”, “analistas” e “especialistas” que defendem que não existe outro partido com mais quadros preparados para dirigir o país do que o MPLA, já não conseguem ver o seu papel ridículo e a falta de honestidade intelectual nas suas intervenções. Na verdade, o comportamento desses intelectuais e especialistas confirma o que disse acima: desde que o resultado final seja ao nosso favor, qualquer prática é aceitável. 
 
 
É por causa dessa condescendência à mentira que o país está onde se encontra. Devemos todos ser defensores do cumprimento de regras se quisermos construir um país forte e desenvolvido. Esta é a grande diferença com os países fortes e desenvolvidos do mundo, a integridade no cumprimento do dever. 
 
 
Devemos ter vergonha de dizer que somos um país democrático quando mais de 80% do tempo reservado à competição política interna é a favor de um só partido. Qual será o mérito de uma vitória eleitoral se o campo esteve inclinado a todo o tempo?