Brasil - A questão do desenvolvimento, vem sendo muito debatida e continua sempre actual, novas teorias são elaboradas, visto que existem ainda no mundo, países subdesenvolvidos e porque o desenvolvimento não é um produto acabado, ou seja, os próprios países desenvolvidos querem ser cada vez mais desenvolvidos, e para estes, o pressuposto que se põe hoje é o da sustentabilidade do desenvolvimento, enquanto que para quase totalidade dos países africanos - muitos deles independentes a mais de meio século - continua ainda os mesmos problemas básicos como analfabetismo, pobreza, desemprego, doenças, falta de saneamento básico e outros males; resumindo, com baixos índices de desenvolvimento humano.

Segundo a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, o “desenvolvimento sustentável é um conjunto de processos e atitudes que atendem às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas próprias necessidades”. Mas será que os países pobres estarão dispostos e capacitados a desenvolver os seus países sem perigar a existência das futuras gerações? Será fácil convencer um pobre que não tem nada para comer, a não derrubar uma árvore (para vender lenha ou carvão para o seu sustento), dizendo-lhe que deve preservar a árvore para garantir o equilíbrio ecológico actual e futuro? São questões para reflexão.

Os países africanos transitaram do Século XX para o século XXI pobres e pelas políticas e o tipo de gestão que fazem dos seus recursos vão continuar atrasados pelo menos mais um século. Esta, pode ser tida como uma visão fatalista, mas é a pura realidade porque nada nos indica o contrário, visto que a acumulação de capital humano, tecnológico, científico físico (infraestruturas) e mesmo cultural, leva tempo e ainda não começou a ser feita, na verdade. Os chamados tigres da Ásia, nos 1950, eram países subdesenvolvidos e nações como o Ghana, Camarões estavam praticamente ao mesmo nível que a Coreia do Sul, Hong Kong e Singapura, mas quarenta anos depois os asiáticos deram saltos gigantescos rumo ao desenvolvimento. O século XXI é o século da Ásia, porque eles cimentaram as bases para o sucesso na segunda metade do século passado.

Os países ocidentais são o que são hoje porque acumularam capital humano, tecnológico, científico, físico e cultural. A base de acumulação do capital humano, tecnológico, científico é a educação de qualidade. Os países que mais se desenvolveram ou desenvolvem no mundo são os que mais investiram ou investem no homem, mas os africanos ainda não se aperceberam disso, e isso pode ser constatado na estrutura dos gastos governamentais dos seus países, em que a maior parte dos seus orçamentos é destinada à defesa, segurança, com compra de meios bélicos devido aos endémicos conflitos armados, resultantes da má distribuição das riqueza e de tenções étnicas.

Angola por exemplo, continua atribuir uma verba na ordem dos 7,9% para a educação, quando tem uma taxa de analfabetismo acima dos 50% e não possui recursos humanos qualificados para levar o país ao desenvolvimento económico e social.

No caso do investimento no capital físico, os países desenvolvidos têm infraestruturas sólidas e duráveis, ao contrário da África. Verifica-se no nosso país por exemplo, grandes investimentos públicos em infraestruturas, mas muitas destes empreendimentos, vê-se à olho nu que não são duráveis, ou seja, não são sustentáveis, o que pode gerar conflitos intergeracionais, uma vez que muitos deles estão a ser feitos com recurso a dívidas que terão de ser pagas pelas gerações futuras. Quando se faz uma obra que pouco tempo depois já está degradada, em função da desonestidade de alguns gestores públicos e empreiteiros, está-se a usar irracionalmente os recursos prejudicando também as futuras gerações.

O recurso à dívida, do qual muitos países africanos fazem, não é um mal em si porque até os países mais ricos têm dívidas, mas o endividamento pode ser virtuoso ou ruinoso. É virtuoso quando os recursos são usados para promover o desenvolvimento económico sustentável e humano, é ruinoso quando são usados irracionalmente, como acontece com a maior parte dos países africanos, que não investe de forma substancial na educação e instrução de qualidade, não podendo assim acumular o know how suficiente para descobrir, explorar e transformar os seus recursos naturais em bens transaccionáveis. Não investem em infraestruturas económicas e sociais de qualidade, desperdiçando os escassos recursos em bens supérfluos, privando assim, as gerações futuras de bens que elas terão de pagar, apesar de não usufruir deles.

O que vimos até aqui, é a sustentabilidade da actividade económica do Estado no que tange ao uso de recursos públicos para o financiamento do desenvolvimento, mas hoje, já se fala da sustentabilidade nas empresas. (¹)“Para o sector empresarial, o conceito de sustentabilidade é simultaneamente trazer rentabilidade económico-financeira do empreendimento, promovendo a inclusão social (com respeito a realidade local, diversidade cultural e aos interesses de todos os públicos directa e indirectamente, envolvidos no negócio), com redução - ou optimização - do uso de recursos naturais e do impacto sobre o meio ambiente, preservando integridade do planeta para as futuras gerações”.

Nas bolsas de valores das economias desenvolvidas, um dos itens que ultimamente vem pesando na cotação das acções, é o da sustentabilidade, ou seja, as pessoas já se questionam se as actividades da empresa em que ela vai investir, são socialmente responsáveis.

A sustentabilidade aqui, é vista como a soma dos fundamentos económico/financeiros e dos fundamentos trabalhistas, ambientais, culturais e comunitários. As empresas modernas já fazem o chamado Balanço Social Anual, tendo como principais elementos de análise: i) indicadores sociais internos da empresa; indicadores sociais externos; iii) indicadores ambientais; iv indicadores de corpo funcional; v) informações relevantes quanto ao exercício da cidadania empresarial e; vi) outras informações.

Portanto, a sustentabilidade que se pretende para as empresas, assenta em quatro pilares fundamentais: i) casamento do crescimento económico com o desenvolvimento sustentável nos processos de inovação e no desenvolvimento de novas actividades; ii) uso de métodos de produção e soluções tecnológicas ecologicamente equilibradas para a protecção do meio ambiente; iii) responsabilidade social prioritária sobre os colaboradores, criando condições de trabalho motivadoras; iv) responsabilidade social alargada, garantindo a segurança das comunidades vizinhas, das autoridades e da sociedade no seu todo.

(²) Pode-se concluir que o desenvolvimento sustentável ou a sustentabilidade do desenvolvimento, pressupõe a preocupação não só com o presente mas com a qualidade de vida das gerações vindouras, protegendo recursos vitais, incrementando factores de coesão social e equidade, garantindo um crescimento económico amigo do ambiente e das pessoas.
 
Referências
 
(¹) Conferência da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil. São Paulo, 2008
www.minfin.gv.ao - Orçamento Geral do Estado 2009: Despesa por Função
http://www.solvay.pt/sustainabledevelopment/0,,1210-5-0,00.htm
(²)http://www.apambiente.pt/POLITICASAMBIENTE/DESENVOLVIMENTOSUSTENTAVEL/Paginas/default.aspx
 
Fonte: Ricardo Cavudissa