Luanda - No fim do século passado, no sul de Inglaterra, uma pessoa que mais tarde recebeu a alcunha de "anjo", distribuía grandes quantidades de dinheiro à população à medida que ia passando pelas cidades do litoral. Esta notícia precipitou muita gente a deslocar-se a cidades como Southampton e Bournemouth.

Fonte: Club-k.net

Vem isto a propósito de um acontecimento recente em Angola: desde o início de Julho, o Ministério dos Transportes entregou à TCUL (Transporte Colectivo Urbano de Luanda) 240 autocarros, mais 20 mini-autocarros à província do Bengo, 45 mini- autocarros à província de Cabinda e 30 mini-autocarros à província do Bié. Segundo o ministro Augusto da Silva Tomás, este programa vai abranger todas a províncias do país. Ora, uma vez que Angola se encontra, desde 2014, em plena crise económica devido à baixa do preço do petróleo no mercado internacional, que tipo de reacção merece esta iniciativa por parte do povo?

 

Analisemos os factos. O Ministério dos Transportes recebeu um crédito adicional do Orçamento Geral do Estado 2017 para suportar as suas despesas no âmbito do Programa de Investimento Público (cf. édito de JES no contexto do decreto presidencial n.o 122/17, de 9 de Junho).

 

Ate aqui tudo bem, porque a Lei n.o 15/10 de 14 de Julho (Lei do Orçamento Geral do Estado) determina, no n.o 1 do artigo 27.o, que os créditos suplementares especiais são autorizados por lei e abertos por decreto presidencial.

 

Mas há contradições: em menos de um mês, mesmo com este suplemento milionário, os pilotos da TAAG estiveram em greve, o país perdeu a Emirates, o aeroporto de Luanda já não será inaugurado em Agosto. Em compensação, o país ganhou até à data 305 novos autocarros – e tudo indica que mais virão – para facilitar a mobilidade do cidadão. Há quem diga que isto parece uma medida eleitoralista, porque quando a oferta é demais, até o santo desconfia.

 

Sabe-se que, quanto maior o crescimento económico de um país – e não é este o caso de Angola –, maior é a procura de meios de transporte e da sua eficácia. Os transportes, tal como as comunicações, são um elemento estratégico para qualquer país ou governo, e Angola não é excepção. No entanto, este reforço exponencial acontece em Angola em plena campanha eleitoral, e esse facto não pode ser ignorado.

É legítimo perguntar quais foram as verdadeiras motivações para o significativo suplemento finaceiro atribuído ao sector dos transportes depois da aprovação do OGE 2017, se, por contraponto, por exemplo, os hospitais pediátricos em todo o país

continuam com escassez de material essencial, como luvas e seringas. Vejamos então quais são as verdadeiras motivações:

Comissões na compra de meios no Ministério dos Transportes.


Em 2008, aquando da sua nomeação em substituição do ministro Brandão, veterano quase vitalício, o novo ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás, afirmou que o momento “não era para palavras”, pois era prioritário conhecer a situação do sector: “Temos que saber como vai a situação do sector para melhor actuarmos”, frisou.

 

Natural da província de Cabinda, Augusto da Silva Tomás foi vice-ministro da Indústria (1989-1991). Entre 1991 e 1995, foi governador de Cabinda, um ano depois, ministro das Finanças e, no período compreendido entre 1996 e 2007, exerceu as funções de deputado à Assembleia Nacional e PCA do Banco BCA, do qual é sócio. Foi também secretário de Estado para o Sector Empresarial Público.

 

Nesta altura, em 2007, estava na mesa do ministro um projecto privado promovido pela empresa AASPM SA relativo à compra de três barcos hovercrafts anfíbios, com capacidade para transportar cem passageiros cada, desde o embarcadouro do Mussulo até ao Jango Veleiro. Éramos cinco sócios, e cada um de nós detinha 20% da empresa. Os sócios, segundo o projecto, eram Augusto Tomás, Albino Malungo, Siyanga Abílio, Pedro Neto e Mário Cumandala. Foi encomendado um estudo de viabilidade, depois entregue a duas instituições bancárias, e ambas abraçaram o projecto, avaliado em 17 milhões de dólares.

 

A verdade é que este projecto morreu, e entretanto ressuscitou, mas desta vez como projecto do governo, usando catamarãs?

 

Eu fui um dos promotores do projecto, e apresentei a ideia a Augusto da Silva Tomás, secretário na altura, tendo como base um projecto similar no sul de Inglaterra, de transporte de passageiros para a Isle of Man. Quando Augusto da Silva Tomás foi nomeado ministro, rapidamente me informou de que já não podia apoiar este projecto, devido a conflito de interesse.

 

A razão desse posicionamento teria a ver com o facto de o sr. ministro ter de emitir uma licença de operação para o projecto. Tentei convencê-lo, dizendo que o seu nome não aparecia nos documentos de incorporação da empresa, já que quem assinava era o seu filho primogénito, Inocêncio da Silva Tomás. Lembrei ao ministro que o próprio presidente da República fazia o mesmo com os seus filhos. A resposta foi: "Ele é presidente e eu não sou." Assim morreu o projecto.

 

Para minha surpresa, Inocêncio da Silva Tomás, o filho do ministro, um dia aparece-me e diz: "Tio, eu nunca mais serei pobre." Perguntei porquê. Eis a resposta: "O meu pai me deu uma fezada aí na UNICARGAS e rendeu-me uns três milhões de dólares. Claro, vou dividir com ele."

 

Caros angolanos pacatos: estamos diante do crime de corrupção activa, semelhante à Operação Lava Jacto do Brasil. Ou seja, tráfico de influências, nepotismo e falta de ética. E assim um projecto que já tinha financiamento bancário morreu à nascença, por causa da moral de um moralista sem moral, o sr. ministro Augusto da Silva Tomás.

 

A compra de equipamentos que rendeu os três milhões de dólares a este jovem abençoado foi para a empresa de transportes pesados UNICARGAS, de que ele era o director geral na altura. Podemos então imaginar quantos milhões terão embolsado, só em comissões, o sr. ministro e os seus familiares, com as obras do CFL, CFB, CFM, a compra dos aviões da TAAG, a modernização de todos os portos de Angola e os aeroportos nacionais.

 

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Mesmo após 42 anos de independência e 14 anos de paz, parece que continua a ser necessário libertar os angolanos. A verdade é que o dinheiro do povo está a ser usado a bel-prazer pelos homens do presidente JES. Todos sabemos que o ministro Augusto da Silva Tomás, actual candidato do MPLA e membro do seu Bureau Político, não é caso único.

 

Se hoje houvesse um concurso para apurar o ladrão número um do governo podre do MPLA, ninguém teria dúvidas em atribuir o troféu a José Eduardo dos Santos, inultrapassável em termos de acumulação de capital. JES está entre os presidentes mais ricos de África, e é pai da primeira bilionária africana, a sua princesa Isabel dos Santos.

 

Sei que, ao divulgar estes factos, vão chamar-me assassino de carácter. Mas quer que fique claro que não estou a ser usado nem pela UNITA, nem pela CASA-CE para trazer a público estes roubos desenfreados.

 

Em 2009, de resto, fui acusado pelo sr. ministro Tomás de ser traidor e de pertencer à UNITA. A razão? Chegou ao conhecimento da sua esposa que ele tinha comprado uma vivenda e uma viatura Audi Q5 para a sua amiga de então, uma ex-Miss Angola. A minha participação nesta história? Fui eu quem lhe apresentou esta beldade no Hotel Alvalade. Daí ele inferiu que fui eu quem contou sobre a situação embaraçosa à sua esposa. Estou assim mais do que habituado a ser alvo de calúnias.

 

A corrupção é a grande doença de Angola. Aproxima-se um dilúvio, no próximo dia 23 de Agosto. É a oportunidade para o país se libertar do MPLA. Caso contrário, o dilúvio durará cinco anos, e Angola em 2022 estará pior que o Zimbabué.

Que as verdades aqui denunciadas sirvam para libertar Angola num futuro próximo.

Florida, 4 de Agosto, 2017