Lisboa - Tinha a fama de ser um dos “barões da droga” na Guiné-Bissau, mas com a ressalva de se tratar de um “bom barão”, ao contrário dos outros: com os proveitos do negócio ajudava muita gente – daí a sua nítida popularidade e correlativas ambições políticas.

Tornou-se notado como assessor de imprensa de Samba Lamine Mané, quando este foi ministro da Defesa. Foi também nessa fase que se aproximou de Nino Vieira e começou a ganhar a sua confiança. Entre o acto da rebelisão militar contra N Vieira, em Jun.1998 e seu triunfo completo, em 1999, notabilizou-se pelos cerrados ataques que fazia na Rádio Nacional a Ansumane Mané e outras figuras amotinadas. A Junta Militar, recém-instalada no poder, vingou-se dele passeando-o nas ruas de Bissau amarrado e com um cigarro na boca. Kumba Yalá, que ele também atacara na Rádio Nacional, nomeou-o ministro de Estado junto da Presidência depois de eleito PR; mas pouso depois exonerou-o, sem nunca terem sido conhecidas as razões.

 K Yalá foi entretanto afastado. Henrique Rosa, como PR interino e Carlos Gomes Jr, no seu primeiro consulado como PM, também entenderam mantê-lo afastado. Voltou a aparecer em evidência nas eleições presidenciais de 2005 como um dos principais apoiantes de N Vieira. Era considerado conhecedor do “ofício secreto” e entendido na arte da agitação; a grande utilidade que teve para a vitoriosa candidatura de N Vieira foi a de infiltrar as outras, para saber o que se passava no seu âmago. N Vieira, que fez dele ministro do Interior e depois seu próprio conselheiro, parece que não tinha inteira confiança nele – e ele sentia isso.

Recém-filiado no PAIGC, em Mar.2009 decidiu apoiar activamente o seu novo partido nas eleições legislativas – aproximando-se assim de Carlos Gomes Jr e distanciando-se de N Vieira, que subtilmente apoiava o PRID.

No seu primeiro Governo, C Gomes Jr nomeou-o ministro da Administração Territorial, que parece ter aceite a contragosto, mas na expectativa de um dia vir a ser nomeado para a pasta da sua eleição: o Interior, na alçada do qual está “a segurança”, como preferia dizer, em vez de “serviços de informação”. Diz-se que a sua candidatura presidencial, à revelia do PAIGC, não era mais que um estratagema destinado a desistir depois de negociar com C Gomes J um lugar mais honroso ou mais à sua altura no Governo – seguramente o do Interior.

O último rumor que corria acerca dele – exemplo do espírito ardiloso que lhe era reconhecido – era de que extorquia dinheiro a comerciantes libaneses por meio da apresentação aos mesmos de provas forjadas de envolvimento dos mesmos em negócios da droga.

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Fonte: AM