Luanda - Funcionários da Rádio Nacional de Angola (RNA) acusam o secretário do presidente da República para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa, Manuel Rabelais, de usar a Rádio Regional da Catumbela (RRC) para pagar salários a familiares e à empregada doméstica de uma das suas concubinas.

Fonte: Maka Angola

A influência de Manuel Rabelais na comunicação social do Estado supera os poderes do actual ministro da Comunicação Social, José Luís de Matos. Manuel Rabelais já exerceu os cargos de director da Rádio Nacional de Angola – proprietária da RRC – e de ministro da Comunicação Social. Actualmente, para além de secretário de imprensa do presidente, Rabelais é o director do Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração (GRECIMA), nome oficial do departamento de propaganda da Presidência da República.


Desde então, é Manuel Rabelais quem praticamente manda de novo na Rádio Nacional de Angola, por via do seu presidente do Conselho de Administração, Henriques Manuel João dos Santos.


Desde há vários meses, a RRC tem nas suas folhas de salário sete “colaboradores-fantasma” que recebem mensalmente um total de 1,330,918 kwanzas.


Os pagamentos são processados com aparente legalidade, incluindo número mecanógrafo, subsídios, descontos para o INSS e para o Imposto de Rendimento de Trabalho.


Entretanto, o Maka Angola investigou para além das aparências.


A instalações da RRC estão em fase de construção. No entanto, a emissora emite em período experimental desde há dois anos, não tem funcionários efectivos e, em termos práticos, não funciona. A sua emissão é preenchida apenas com música, entremeada com spots de autopromoção.


Um dos indivíduos listados na folha de salários, de seu nome Leandro Vandame Chaves, é responsável por ligar o computador, para garantir a emissão durante o dia. Leandro é sobrinho de Susana Chaves, uma das concubinas de Manuel Rabelais.


Segundo fontes da RNA, Susana Chaves aufere um salário superior a 500 mil kwanzas, directamente pago pela emissora nacional, na qualidade de “trabalhadora-fantasma”. Não é funcionária da rádio. Comparativamente, vários jornalistas da Rádio 5, também do grupo RNA, auferem à volta de cem mil kwanzas mensais.


Por sua vez, o irmão de Susana e cunhado de Manuel Rabelais, Paulo Chalana Chaves, funcionário do Banco BIC, também recebe da RNA um ordenado mensal de 214,697 kwanzas, conforme a folha de salários em posse do Maka Angola.


Diligentes, fontes da RNA asseguram que o secretário de informação do presidente José Eduardo dos Santos interveio também na inclusão da empregada doméstica de Susana Chaves, Angelina da Conceição António, como “colaboradora” da RRC. A mesma ganha 169,680 kwanzas mensais.


Por que não ficar de bem com Deus e ajudar quem em tempos o ajudou quando vivia na Casa do Gaiato, em Benguela – uma instituição de acolhimento de menores desamparados?


Na década de 70, o padre António Manuel Andrek Hombo foi tutor de Manuel Rabelais na Casa do Gaiato. O chefe da propaganda presidencial mexeu os cordelinhos, e o sacerdote – que é professor na escola missionária de Santa Cruz, no Lobito – passou a ganhar 453,006 kwanzas como colaborador da RRC.

 

Na Catumbela e na Rádio Nacional de Angola circula a informação de que Manuel Rabelais tem estado atarefado em demandar a nomeação do padre Hombo como director da RRC. A RNA dispõe de inúmeros quadros capazes de assumir o cargo, e a imposição de Manuel Rabelais tem causado descontentamento no seio da direcção deste órgão estatal.


À excepção do padre, os restantes indivíduos que constam da folha salarial da RRC também estão ligados a Susana Chaves.

Para intitular este caso, bem podemos tomar de empréstimo a canção de Rui Veloso: “O fado do ladrão enamorado”.