Luanda  - Foi ontem 19-09-2017 inaugurado pelo presidente José Eduardo doa Santos o memorial da célebre batalha do Cuito Cuanavale, a batalha ocorreu entre outubro de 1987 à Março de 1988 e é considerada como sendo a maior de todos os tempos entre forças regulares em África ao sul do Sahara e a sua maior relevância advém do facto de com o seu desfecho estabeleceu-se um quadro negocial que ditou a retirada das forças estrangeiras (Sul Africanas e Cubanas) de Angola, a implementação efectiva da resolução 435/78 das Nações Unidas sobre a Independência da Namíbia e em consequência a libertação de Nelson Mandela e abertura de Angola a democracia multipartidária. De facto, o desfecho da referida batalha propiciou alterações profundas da situação política de Angola, Namíbia e da Africa do Sul.

 
Fonte: Club-k.net
 
A batalha do Cuito Cuanavale apesar da sua importância histórica é apenas uma de muitas enfrentadas pelas Fapla entre 1975 à 1991 para a salvaguarda da integridade territorial e da soberania conseguida com a proclamação da independência nacional e de 1992 a 2002 pelas FAA para a Salvaguarda da democracia multipartidária.
 
 
Ao longo das duas guerras (1975-1991 e 1992-2002), a sobrevivência do regime político vigente deveu-se fundamentalmente a grande simpatia e apoio das populações com a entrega dos seus filhos para integrar as forças armadas. Alguém poderá dizer que o processo de incorporação era coercivo, certo, mas se a causa em defesa não fosse do interesse da maioria da população o país teria registado muitas formas de resistência das famílias para evitar a integração de seus filhos nas forças armadas. Assim, podemos concluir que foi graças ao engajamento das famílias Angolanas que o regime político do MPLA sobreviveu e assegurou a manutenção da Independência e da soberania.
 
 
Com o fim da guerra que durou cerca de 27 anos, muitas famílias tinham perdidos membros importantes (Pai, mãe ou filhos), muitos homens e mulheres tinham sequelas graves (lesões físicas e ou psicológicas) e outros, mesmo sem lesões físicas tinham ficado sem possibilidade de avançar com os estudos ou aprender uma profissão.
 
 
Com a conquista da paz no ano de 2002, esperava-se do estado uma postura que pudesse permitir a reabilitação da sociedade Angola compensando progressivamente as famílias de todo o país com a criação de um quadro de partida aceitável antes mesmo da liberalização total da economia.
 
 
O estado poderia/ deveria, após o registo/Censo de toda a população planear e determinar os benefícios a afetar às famílias como por exemplo, uma residência, acesso dos filhos ao sistema de ensino gratuito e com qualidade, acesso dos filhos menores de 5 anos a creche e jardim de infância; merenda escolar para os filhos até ao fim do I ciclo; formação profissional e emprego para homens adultos; subsídio de desemprego para pais desempregados e outros. Poderia/deveria também planear e estabelecer em várias regiões remotas do interior de Angola polos de desenvolvimento agrícolas e industriais com infraestruturas de apoio como residências, escolas, lojas, igrejas, hospitais, etc para que muitas famílias fossem pacificamente realocadas.
 
 
O que assistimos após 2002, foi o estabelecimento de uma sociedade bastante injusta. À famílias, propõe-se a adesão a projectos habitacionais em que devem pagar valores altos quando não cobraram a nação o sacrifício de seus filhos; o perfil ideal para acesso a  emprego com melhor remuneração passa a ser o de indivíduos educados fora de Angola; Aos jovens exige-se experiencia para ter emprego quando se poderia estabelecer mecanismo de treinamento no emprego se fosse de obrigação das autoridades.
 
 
Termino dizendo que o país através do poder político precisa refazer a sua agenda para que todas as famílias possam se rever nela e se engajem como o fizeram no período difícil da guerra.
 
Miguel Safo
Licenciado em Ensino de Sociologia