Luanda - A recondução do general Teixeira de Brito para o cargo de governador provincial, tem estado a gerar no seio da população do Kuanza Sul, um clima de enorme descontentamento e de revolta. Sobas, camponeses, intelectuais, estudantes, políticos, empresários e grupos de pressão, sentem-se desamparados, injustiçados e traídos por tão má decisão de João Lourenço. O estado de frustração e repulsa é bem sentido em conversas de rua, redes sociais, comentários radiofónicos, encontros de famílias, universidades, bares, campos de jogos e até nas organizações de base do próprio partido. A insatisfação é extensiva a todos os quadrantes da vida social sem exceção.

Fonte: Club-k.net

A razão apresentada como justificativa para a recondução do general, de nada serviu para convencer ninguém, desde os mais atentos aos mais distraídos. Segundo os analistas locais e com muita proximidade ao partido, a tão propagada vitória de “cinco zero”, não é fruto da dedicação do general Teixeira de Brito e da sua equipa como a superestrutura do partido faz entender. A vitória folgada teve por base o facto do Kuanza Sul ser por tradição um dos maiores bastiões do MPLA, associada também a confiança depositada no novo candidato. É de lembrar que com o seu antecessor o deputado Serafim do Prado, os resultados das eleições de 2012 foram também os taxativos “cinco zero” e com uma diferença numérica mais expressiva em relação a 2017. Resumindo e concluindo, face ao contexto, com Teixeira de Brito, Serafim do Prado, Higino Carneiro, Ramos da Cruz ou qualquer outro 1.o Secretário do partido, os resultados seriam invariavelmente os “cinco zero”.

Para esmiuçar a problemática da contestação no quadro das informações obtidas na generalidade através de consultas, entrevistas das fontes e redes sociais; no foco da abordagem destacaram-se como aspectos negativos e dominantes da governação do generalíssimo Teixeira de Brito, os seguintes pormenores:

Administração do partido

Ao tomar as rédeas do MPLA na província, Brito Teixeira desarticulou toda uma organização que sempre prevaleceu coesa, disciplinada, eficaz e que demonstrou ao longo dos anos, domínio e maturidade nas suas acções. Nas vestes de 1.o Secretário, através de eleições dissimuladas e realizadas nas vésperas do congresso do partido, Teixeira de Brito pôs de parte os dirigentes mais competentes e respeitáveis do comité provincial e dos comités municipais, indicando para substituição dos mesmos

indivíduos dóceis a sua vontade, medíocres, leigos em política e praticantes de um servilismo repulsivo. As intrigas, as queixinhas e a bajulação a partir desta altura foram validadas pelo chefe, e destroçaram então todo um ambiente de convivência salutar no seio do partido. Diga-se em abono da verdade, que com um comité tão dotado de fraquezas, o MPLA no Kuanza Sul, jamais teria alcançado um resultado tão espetacular se não fossem o afeto e a estima deste povo por este partido. Mas que por azar do destino, o mesmo povo foi ignorado e crucificado a última da hora.

Acção governativa

Brito Teixeira afirma-se mais como um comandante militar do que como político ou gestor público. Desrespeita de forma consequente e abusiva as normas de administração do estado em várias vertentes; define regras absurdas para além do que é concebível; tem uma paixão mórbida pelas incompetências e uma pré- disposição crónica pelo nepotismo.

No que toca a gestão financeira, o atropelo as normas de execução do orçamento, tem sido uma prática corrente operada pelo gabinete do plano dirigido por um dos seus amáveis sobrinhos. As quotas orçamentadas para a saúde, hospitais, educação e administrações municipais, são abusiva e regularmente retiradas das respectivas dotações, para cobertura de despesas extras do governo provincial. Para que fins, só ao gabinete do plano e ao próprio general compete responder. Acrescer também, que as dívidas contraídas de forma desmesurada pelo governo às empresas privadas e a particulares com o aluguer de moradias, pensões, hotéis e restaurantes, tornaram-se impagáveis.

O sistema de saúde da província é dos mais precários do país. Há uma falta gritante de medicamentos, médicos especialistas, equipamentos hospitalares e tudo mais que o cidadão comum possa imaginar. As cidades e os municípios da província nos últimos 5 anos, não tiveram o mínimo progresso visível. Lixo, poeira, lama, estradas ruins e esburacadas, jardins áridos, capim, falta de iluminação pública, edifícios descoloridos e cidadãos infelizes, são hoje os cartões-de-visita das cidades, vilas e comunas do Kuanza Sul. O palácio oficial “o símbolo arquitetónico da cidade capital” encontra-se em estado de abandono por falta de verbas para conclusão das obras por mais de 4 anos; em contrapartida as obras do “palácio do Atúco” vão a bom porto, em fase terminal e a um ritmo acelerado. Que ironia.

No capítulo económico, segundo o empresariado local, com a governação de Brito Teixeira não existem perspectivas nenhumas para o desenvolvimento da economia da província, devido a constante falta de vontade política, falta de estímulos e de um ambiente de negócios que proporcione condições para melhoria da actividade produtiva e não só.


Concluindo, a má prestação da governação do general Teixeira de Brito derivada do culto de personalidade, autoritarismo e arrogância excessiva, falta de planeamento, e falta de organização, será mais um pesadelo para a população e um tremendo obstáculo ao crescimento económico, político e social da província nos próximos 5 anos. Inacreditável, porque apesar do último mandato do general ter sido bastante desastroso quanto ao desempenho governativo, o governo central desatento as reclamações da população, insiste na sua permanência.

Recordemo-nos do tema da campanha do MPLA «Melhorar o que está Bem e Corrigir o que está Mal». Lógico que quanto ao Kuanza Sul, o mal não foi corrigido e mais uma vez há persistência no que está errado, situação que de certeza a médio prazo poderá provocar enormes dissabores ao partido, numa praça política forte e com todos os condimentos a seu favor [...].

As autarquias estão as portas e serão o próximo grande desafio. O recado está dado “abyssus abyssum invocat”.

Proença de Andrade

Politólogo e Investigador