Luanda - O Presidente do grupo, Álvaro Torre, faz da adrenalina e da pressão diárias um modo de vida. Ei a entrevista na integra:

 Vai acabar com o mistério de uma vez por todas?
Quem são os donos da Media Nova?

Ora vamos então falar sobre o Grupo Media Nova, agora que está efectivamente implantado, com plataformas a funcionarem, pelo menos uma Rádio, um jornal e uma estação de Televisão. Como é que tudo isto nasce? Qual foi o propósito dos accionistas?

Permita-me corrigir que o grupo está em fase de implantação e não efectivamente implantado! Este projecto nasce devido à visão de um grupo de empresários angolanos que tiveram a coragem de apostar em mudar o panorama da comunicação social em Angola.

O propósito dos accionistas é o de contribuir para o desenvolvimento da nação angolana através de lançamento de plataformas de media de reconhecida qualidade mundial e dessa forma criar as bases para um negócio rentável.

As poucas vezes que se referiu a este arrojado projecto empresarial, e quase sempre em entrevistas no estrangeiro –Portugal sobretudo, verificou-se que uma das perguntas mais recorrentes e apetecíveis era: quem são os donos da Media Nova? As respostas foram sempre inconclusas e até esquivas. Há alguma razão de peso para ser assim?

As respostas foram sempre muito objectivas! Sempre disse que os donos da Media Nova são um grupo de empresários angolanos que se associaram numa Sociedade Anónima, para permitir o desenvolvimento do projecto numa base neutra e empresarial, para o qual tive o privilégio de ser convidado a administrar.

Vai acabar com o mistério de uma vez por todas?

Penso que acabei, não?

Acho que não, mas….avancemos, de qualquer modo. Porquê que só agora aceitou falar?

Porque há momentos para tudo! Prefiro falar quando há obra feita! Um projecto desta dimensão numa área sensível como esta onde infelizmente não existem alternativas de qualidade, é preciso ver para acreditar. A TV ZIMBO sendo a plataforma mais crítica, só agora entrou na sua emissão regular e na distribuição por cabo. Por isso cedi ao vosso convite.

Diz-se que a Media Nova foi concebida de propósito para acabar com a imprensa privada. Faz algum sentido esta apreciação?

De forma alguma. A Media Nova também é parte da comunicação social privada. Acreditamos é que os nossos produtos se distinguem pela qualidade e riqueza editorial e que naturalmente terão a preferência do público em detrimento de outros órgãos de comunicação com estilos diferentes de comunicar.

Já agora, como é que o Grupo olha para as outras plataformas, para a mais de uma dezena de jornais que já existiam ou surgiram depois, as Rádios, a própria Televisão pública?

O grupo olha para qualquer plataforma de qualidade com respeito e como parceiro na responsabilidade de informar e ajudar a desenvolver o país.

O Semanário O PAÍS circula desde 14 de Novembro, a TV Zimbo começou a emitir um mês depois e a Rádio Mais está no ar desde 28 de Dezembro. Já lá vão, portanto, uns meses de presença num mercado de forte concorrência entre meios. A questão é: acha que a paisagem da mídia em Angola mudou com a intervenção da Media Nova?

Estou convencido que está a mudar…

O Grupo pensa em novas plataformas ou fica-se pelos três órgãos que já funcionam?

Vamos lançar em breve mais três títulos, um semanário económico, a revista mensal EXAME Angola e uma news magazine quinzenal.

Acha que há mercado publicitário suficiente para alimentar toda a máquina?

O mercado publicitário irá crescer exponencialmente, mas será muito disputado e acreditamos que com produtos de excelência iremos conseguir ter o apoio das empresas.

Quando se acompanha a emissão da TV Zimbo salta à vista, claramente, o reduzido número de spots publicitários. Alguma coisa falhou na sua conquista de mercado ou tudo se deve ao facto de ser um ente novo, se calhar ainda não suficientemente conhecido pelos animadores da economia?

A TV ZIMBO acabou de entrar na MULTICHOICE e só agora começa a ser conhecida. Para ter a valorização correcta do nosso espaço publicitário, decidimos esperar por este momento para fazer o ataque comercial.

Por exemplo, se questionar qualquer pessoa, vai ver que à hora do telejornal a preferência é ZIMBO! Assim sendo conseguimos hoje uma muito melhor valorização da venda de publicidade do que quando não éramos conhecidos! Muito em breve vai ver o resultado da nossa estratégia.

Qual a estratégia para fora de Luanda?

Sabe-se que já funciona uma extensão da Rádio Mais no Huambo… Nas principais províncias de Angola, teremos centros de produção da TV ZIMBO.

Quanto à Rádio Mais teremos empresas locais que serão autónomas da Rádio Mais Luanda.

Temos também equipas da MEDIA NOVA Distribuidora em todas as principais províncias, que asseguram e gerem a distribuição local do produtos.

Não podemos esquecer que temos uma delegação da MEDIA NOVA em Lisboa, para servir de frente avançada na recolha e divulgação de informação na Europa por um lado e, por outro, ter uma equipa comercial que venda espaço publicitário para os nossos meios.

Vamos agora falar dos quadros para pôr a funcionar o Grupo. Onde é que a Media Nova vai contratar os seus profissionais?

Como em qualquer actividade, o segredo das empresas passa pela qualidade dos recursos humanos.

Por isso a MEDIA NOVA vai ao mercado, procurar os melhores profissionais.

Que critérios de peso determinam a contratação desses quadros, a experiência, será?...

Experiência, mas não só. A atitude e a sua motivação por participar num projecto nacional que se quer moderno e diferenciado.

É impossível passar ao largo da situação e dos comentários que suscitam as contratações fora de portas.

Volta e meia os jornais atiram-se contra a Media Nova e dizem que existirá uma tentativa de “aportuguesamento da imprensa angolana” com esses contratos e falam em vantagens e regalias que prejudicarão eventualmente os seus colegas angolanos. Verdade ou má fé? Pura Ignorância ! No nosso grupo temos um universo de 80 jornalistas espalhados pelas várias plataformas dos quais 3 são portugueses. Para além dos jornalistas temos alguns técnicos estrangeiros que estão connosco e que aceitaram o nosso convite para colaborar neste projecto e ajudar nas áreas para as quais não existem nacionais com formação disponíveis no mercado.

Estamos satisfeitos por termos hoje no nosso grupo portugueses, brasileiros e espanhóis que numa simbiose perfeita com os angolanos trabalham e vão transmitindo os conhecimentos e experiência necessários em áreas tão diversas como fotografia, gestão, tecnologia e grafismo.

Mergulhemos na essência do Grupo, no seu modelo comercial. Qual a quota de mercado publicitário que a Media Nova quer dominar?

Temos de ser ambiciosos nos objectivos e queremos liderar, mas não me vou aventurar a falar em quotas de um mercado cujos dados não são muito fiáveis.

As tabelas publicitárias definidas pela Zimbo, pela Rádio Mais e pelo semanário O PAÍS são comportáveis ou, pelo contrário, proibitivas?

São ajustadas à dimensão do mercado e claro que são comportáveis pois os nossos clientes terão o retorno natural do investimento publicitário ao veicularem em produtos líderes e com visibilidade e divulgação garantida.

Aproveitemos para esclarecer um dado que circula à boca pequena, segundo o qual a gráfica DAMER selecciona a sua clientela, ou seja, nem todos podem imprimir na casa. Antes de mais, a DAMER é também uma empresa do Grupo Media Nova?

A DAMER GRÁFICA não é uma empresa do grupo MEDIA NOVA, mas tem administradores comuns.

Existe uma parceria estratégica entre as duas empresas para actuação no mercado. Claro que a DAMER GRÁFICAS tem de ser criteriosa na selecção dos seus clientes porque “nem tudo o que vem à rede é peixe”. Mas note-se que imprimimos hoje a CARAS, a ÁFRICA TODAY e outras edições que não são do grupo MEDIA NOVA.

Então todos que o queiram podem imprimir as suas publicações na moderna gráfica, é isso?

Dependendo da capacidade produtiva da gráfica.

Retomando o tema publicidade, o que tem de diferente a Media Nova para oferecer aos anunciantes?

Para além da qualidade dos seus meios e produtos, a MEDIA NOVA desenvolveu esforços para ter um serviço completo e chave na mão com a integração de uma DISTRIBUIDORA nacional e com a participação numa agência de publicidade a PUBLIVISION, capaz de desenvolver campanhas inovadoras ajustadas aos públicos alvos dos clientes.

Os anúncios chegam às plataformas em versão “pronto a usar” ou o cliente tem a possibilidade de encontrar outro serviço que não seja apenas a inserção, a veiculação?

O cliente pode recorrer a nós para resolvermos problemas de comunicação e desenvolvermos campanhas publicitárias de A a Z.

Temos um serviço completo !

Vemo-lo sempre a correr de um lado para o outro, permanentemente em reuniões e deslocações. Está satisfeito com os resultados, acha que estamos perante uma aposta ganha, ou está perante uma grande dor de cabeça, como sucede em muitos projectos concebidos de uma maneira mas que a execução depois confirma ser um tremendo problema apenas? E os accionistas estão satisfeitos?

Posso dizer que tem sido uma experiência muito gratificante ver o projecto a evoluir, mas é preciso ter consciência que este é um grupo empresarial de capitais privados e tem forçosamente que trabalhar por objectivos de modo a garantir a sua rentabilidade. A minha maior dor de cabeça é gerir a verba que me foi confiada e não apresentar desvios orçamentais.

Mas a maior gratificação é trabalhar com uma equipa de pessoas das mais variadas áreas e com experiências muito diversas e sentir que isto é a força que permite a excelente penetração que os produtos têm no mercado.

 

* Luis Fernando
Fonte: O Pais