Luanda - Confrontado com insistentes informações que davam como certa a sua iminente defenestração do último Executivo do Presidente José Eduardo dos Santos, o então ministro da Justiça, Rui Mangueira, tirou um coelho da cartola que lhe salvou a “pele”: aliciou o filho varão do ex-Presidente, José Filomeno dos Santos (Zenu), com um milionário contrato para que esse persuadisse o pai a mantê-lo no Governo.

*Paulo Alves
Fonte: Club-k.net

Há três meses das últimas eleições, e quando se atribuíam, a partir mesmo do Palácio da Colina de S. José, a Eduardo dos Santos fortes intenções de defenestrar o seu ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, por mau desempenho governativo, Rui Mangueira apelou a uma arma a que os filhos do ex-presidente não resistem: o dinheiro fácil. Ofereceu, então, a Zenu dos Santos, sem qualquer concurso público, um contrato de 250 milhões para chamar a si a produção do Bilhete de Identidade nacional. O contrato tem a duração de dois anos.

O coelho que Rui Mangueira tirou da cartola salvou-lhe a “pele”. Foi mantido no Executivo até ao fim.


Com o milionário contrato assegurado e sem saber sequer por onde começar, Zenu fez o que outros seus irmãos fazem: correu atrás de chineses para fazerem o que ele nunca soube nem saberá fazer. Para dar alguma “seriedade” ao “negócio” com Rui Mangueira, Zenu criou uma empresa de   Sistemas e Serviços,  de Tecnologia, Informação , e fez parceria com os chineses da CEIC – China National Electronics, Import & Export Corporation com os quais divide os milhões (cabendo-lhe obviamente a parte de leão), mas não o trabalho.


A sua empresa   gaba-se de reunir “profissionais experientes e altamente qualificados para criar, planear e implementar soluções adequadas aos objectivos dos clientes”. Além do endereço físico (Belas Business Park), nenhuma referência ao seu portfólio ou à data da sua criação. No caso dos filhos de José Eduardo dos Santos eram frequente as empresas serem criadas depois do patriarca lhes destinar milionários contrários.


O recurso a “mulas” estrangeiras é prática rotineira dos filhos do ex-Presidente da República. Abocanhar, sem concurso, milionárias ou até mesmo bilionárias empreitadas públicas para, de seguida, subcontratarem empresas estrangeiras tornou-se no modus operandi dos “meninos”.


Absolutamente inepta no ramo da construção civil, Isabel dos Santos não se coibiu, no entanto, de se habilitar à construção do estádio 11 de Novembro. Logo que o pai lhe ofereceu a parte de leão do projecto, correu a subcontratar outras empresas para fazerem o que a sua Urbeinveste Projetos Imobiliários nunca soube fazer. A mesma Urbeinveste Projetos Imobiliários abocanhou, também, as obras da Marginal da Corimba, mas endossou o trabalho que é trabalho a empresas da Holanda, o país com melhor know how nesta matéria.


Sem nenhuma experiência na indústria petrolífera, Isabel dos Santos pediu e o pai fez-lhe a vontade de dirigir a Sonangol. Mais uma vez inepta no ramo, a primeira coisa que fez foi correr a Portugal. Não encontrando por lá gente que valesse alguma coisa, já que os quadros mais qualificados já estão ocupados, Isabel dos Santos contentou-se com raia miúda, constituída por jovens acabados de sair das universidades e que encontraram na Sonangol o seu primeiro emprego. Subitamente envolvidos num mundo de que muitos deles nunca sequer tinham ouvido falar, esses jovens “tugas” ocupam a maior parte do tempo a fumar nos corredores da Sonangol.


José Filomeno dos Santos obedeceu ao mesmo procedimento-padrão quando o pai lhe confiou, sem qualquer critério que não fosse o biológico, o comando do Fundo Soberano de Angola. Mal se viu com o “bolo” nas mãos, Zenu dos Santos correu atrás de suíços, alemães (uma das quais, a germânica Ruth Metzler, saltou do barco a semana passada por razões éticas) para fazerem o que ele não é capaz de fazer. Sucede que esses estrangeiros transformaram o nosso Fundo numa verdadeira farra de enriquecimento próprio. Em virtude da absoluta inépcia da pessoa a quem o antigo Presidente da República atribuiu responsabilidades só devidas a adultos pensantes, o Fundo Soberano de Angola foi sequestrado pelo suíço Jean Claude de Morais.


Sem o monitoramento directo do seu mentor Jean Claude de Morais, que agora se dedica a esconder em paraísos fiscais os trocos que sobraram do Fundo Soberano, a parceria de Zenu dos Santos com os chineses da CEIC está a “patinar”. Não é apenas ao varão de José Eduardo dos Santos que falta experiência nessa área. Os chineses também nunca lidaram com essa matéria. Da combinação da inépcia de um com a de outros resulta enorme constrangimento para o Estado angolano, cujo reflexo mais expressivo é a drástica redução de bilhetes de identidade produzidos anualmente.


Para agradar José Filomeno dos Santos e ganhar-lhe o favor de permanecer por apenas mais três meses no Governo, Rui Mangueira “abalroou” a DGM Sistems, empresa com o qual o Ministério da Justiça tinha um contrato válido por cinco anos. À data da sua rescisão unilateral, faltavam exactos três anos para expirar .

Até ser afastada do negócio, a DGM Sistems produzia mensalmente 200 mil bilhetes dotados do que há de melhor em matéria de segurança. O modelo tecnológico usado por ela é decalcado do que os norte-americanos usam para a produção dos seus principais documentos, nomeadamente a carta de condução e o passaporte.