Excelência;
Queremos reiterar os votos de respeitosos cumprimentos, e aproveitamos o ensejo em apreço para lhe dizermos que mesmo sabendo que tem o poder para o fazer, e respeitando as suas opções na escolha das pessoas a quem tem vindo a nomear como titulares dos cargos de maior destaque a nível local, deploramos o facto, de viva voz, tudo por causa dos critérios de que se tem socorrido, e só o fazemos porque temos liberdade de exprimirmos as nossas ideias sobre a vida pública nos termos dos artigos 40° e seguintes da Constituição da República.
 

Excelência;
 
É muito grande o apreço que os cidadãos desta cidade planáltica lhe têm, afecto este que se fundou na entrada triunfal com que se apresentou à nossa (que também é sua) província aquando da sua nomeação e discurso de tomada de posse, bem como pelos exemplos de transparência, humildade e compromisso com a lei que ostentou até à realização das últimas eleições.
 
Antes que os elogios o seduzam e deixe de ouvir a vos do povo e faça leitura errada daquela que tem sido a opinião da maior parte da camada mais jovem e comprometida com o saber do nosso tecido social, digne-se saber por esta via que, o sentimento tem sido de grande desilusão, abandono e recuo democrático das conquistas aparentemente conseguidas com a sua vinda para cá.
 
Senhor Governador, recebe-mo-lo de braços abertos e com verdade lhe desejamos as boas vindas. É com a mesma verdade que lhe devemos dizer que não tendo nada contra as pessoas que escolheu para dirigirem a província, tudo temos contra a exclusão injustificada da classe intelectual local das principais instituições que “ditam a sorte” da província.
 
Sabemos que redunda de forma aberrante termos que utilizar a expressão nepotismo no presente ensaio, pois é notório que sua excelência domina melhor do que nós as figuras que caracterizam qualquer forma de governo.
 
Egrégio Governador;
 
Estamos cônscios de que não seja maduro criticarem-se opções pessoais, mas a nossa crítica às suas escolhas fundam-se no direito que aos cidadãos da província do Huambo assiste de participarem directa e activamente da vida pública local, não têm outro palco para realizarem os seus anseios. Ou seja, as suas escolhas pessoais geram consequências públicas. O Huambo é conhecido como o berço da ciência a nível nacional, isto é, é uma província com uma forte tradição académica, tanto assim o é, que é a única província no país que tem um Bairro Académico, por isso, seria de bom tom (mesmo não tendo esse dever), que pelo menos justificasse publicamente perante as pessoas que o apoiaram incondicionalmente as razões que lhe impeliram a ter que importar tantos cérebros em detrimento dos cérebros locais.
 
Enquanto cidadãos locais, é bastante Legítima e desprovida de qualquer preconceito a expectativa de vermos os filhos do Huambo a participarem a todos os níveis da vida pública da província. Essa expectativa é tão legítima que se encontra materializada nos termos do artigo 213.o da Constituição da República, ou seja, é tão normal que as pessoas locais participem da vida local que o legislador constituinte consagrou a figura das autarquias locais, figura que pode ser chamada a título de analogia para fundamentar o nosso ponto de vista. Do jeito que a nível nacional incomoda que que pessoas nacionais capazes sejam excluídas das principais áreas de influência do país, a nível provincial também o dói e isso não tem nada a ver com trabalismos, regionalismos ou outra qualquer forma de descriminação. A não ser que entendamos que este tenha sido o interesse do nosso legislador ao mais alto nível ao ter consagrado as autarquias locais como forma de exercício do poder!? Aliás, a ideia de autodeterminação nacional e local emana não só da nossa Constituição da República, como dos principais diplomas de caris internacional quais sejam: a Declaração Universal do Direitos Humanos, Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, só para citar alguns.
 
Excelência;
 
Para não sermos tão prolixos e em jeito de síntese, queríamos dizer-lhe que em tempos em que se perspectiva a implementação das autarquias locais, era nossa legítima convicção que por via do exemplo, nos brindasse com essa nobre experiência, investindo na massa intelectual local e a capacitasse em caso de notar alguma insuficiência para o alcance dos seus desideratos.
 
NB:
Não estamos a reivindicar cargos de direcção e chefia para nós ou para interpostas pessoas determinadas, apenas a lamentar o afastamento da massa intelectual local que é notoriamente substituída por pessoas com quem sua excelência mantém vínculos de uma proximidade que em muito transcende a profissional.
 
Sem outro de momento, digne-se tomar conhecimento do que nós que o elogiamos à chegada, pensamos do estado da sua administração.
 
Euclides de Castro (Mais nova Epístola) "