Menongue – Os professores do Instituto Médio Agrário do Missombo, província do Kuando Kubango, estão há mais de quatro anos sem verem a cor dos seus ordenados. Os mesmos (desesperados) já não sabem o que fazer para ver ultrapassada a situação que parece não ter fim. “Só mesmo Deus senhor jornalista”, ironizou uma das vítimas.

Fonte: Club-k.net
A situação é mesmo preocupante. Cerca de 36 professores do Instituto Médio Agrário do Missombo não recebem seus salários desde a inauguração da instituição, em 2014, pelo o então vice-Presidente da República, Manuel Vicente. E a direcção provincial de Educação não tuge nem muge.

Segundo a nossa fonte, os mesmos – que se alimentam apenas de ar – são obrigados a percorrerem, diariamente, cerca de 18 quilómetros à pé (da cidade de Menongue) até a instituição. “Estamos muito indignados com esta situação”, disse o denunciante. 

“Venho fazer esta denúncia porque estamos desesperados e como pai de família que somos, os senhores já devem imaginar o que é trabalhar mais 4 anos sem salário, a direção da educação nada faz para selecionar o nosso problema”, justificou.

Tendo em conta a situação, os lesados pretendiam, recentemente, paralisar com as suas actividades de forma a pressionar a entidade empregadora [o Governo Provincial do Kuando Kubango, através da Direcção Provincial de Educação], a resolver o problema. “Mas fomos ameaçados pelo vice-governador para Infraestrutura que reuniu conosco há duas semanas”, contou.

De acordo com a nossa fonte, o dirigente terá prometido que, ao invés de pagamento de quatro anos de salários, o governo local pagaria apenas subsídios até a liquidação dos ordenados. “Até agora ainda não vimos o dito subsídio que nos foi garantido que seria pago na semana passada”, revelou, acrescentando que “nós não queremos o dito subsídio. Pelo menos que nos pagassem uns seis meses de salários para minimizarmos os nossos problemas básicos”.

Responsáveis reconhecem o problema

De salientar que, recentemente, o director do Instituto Médio Agrário, Mateus Gabriel Ndala,
reconheceu as dificuldades consubstanciadas na falta de transporte para professores e alunos, falta de orçamento e bem como a falta de meios técnicos para o arranque do curso de mecanização agrícola.

Disse que inicialmente o instituto controlava 275 estudantes matriculados nos cursos médios de produção vegetal, produção animal e cursos básicos de auxiliar de agricultura e pecuária. Actualmente, devido a desistência de 15 alunos, a instituição conta com 260 estudantes. A falta de transporte do centro da cidade para a escola e vice-versa é apontada como a principal causa do abandono das aulas.

O gestor fez saber que as dificuldades que afectam a instituição já foram reportadas às autoridades governamentais da província. Razão porque acredita que todas as questões venham a ser resolvidas ainda no presente ano lectivo.

No ano transacto, a Direcção Provincial da Educação, Ciência e Tecnologia registou, nos últimos tempos, o abandono de muitos funcionários, sobretudo professores, que procuram outro trabalho em busca de melhores condições salariais. A situação tem criado lacunas do quadro de docentes em alguns estabelecimentos escolares.

O director Provincial da Educação, Miguel Kanhime, disse que, só no ano lectivo 2015, a instituição desactivou das folhas de salários 58 funcionários e conta agora com 5.021 técnicos, dos quais 4.300 professores.

Miguel Kanhime acrescentou que, com o constante abandono de professores, muitas escolas vão enfrentar graves problemas, que vai obrigar alguns docentes a leccionarem duas classes. Lamentando o facto de a província do Cuando Cubango estar há quatro anos sem realizar um concurso público para admissão de funcionários, situação que se agrava com a fuga de quadros.

“Ser  educador exige muita responsabilidade e não é um trabalho passageiro, porque só se admitem  professores na base de concursos públicos e a nossa província está desde 2012 sem realizar este processo de admissão”, disse Miguel Kanhime, para quem os funcionários que têm esse tipo de atitude deviam pensar que prejudicam outras pessoas com verdadeira vocação e vontade de trabalhar no sector da Educação.

Para colmatar o actual défice, a província necessita com urgência de, pelo menos, dois mil professores, informou Miguel Kanhime. "As instituições mais afectadas pela falta de docentes são o Instituto Médio Agrário do Missombo, a Escola de Formação de Técnicos de Saúde de Menongue e a do segundo ciclo do ensino secundário do Cuchi, que desde a inauguração nunca receberam professores com base em concursos públicos."

Miguel Kanhime salientou que as escolas contam na sua maioria com professores colaboradores, muitos dos quais acabam por desistir devido ao atraso nos salários e ao reduzido valor da remuneração. 

Construída de raiz pela empresa “Aiping Internacional”, num período de um ano e orçada em 468 milhões de kwanzas, o Instituto Médio Agrário do Missombo possui 24 salas de aula e funciona em dois turnos. A mesma tem uma biblioteca, refeitório, internato para 300 alunos, lavandaria, residência para professores e a direcção, entre outras partições.