Luanda  - Angola o segundo maior productor de petróleo em Africa é um efectivo importador de derivados de petróleo com apenas uma Refinaria em Luanda cobrindo aproximadamente 20% do mercado. A nova administração da Sonangol foi orientada pelo Presidente da República a arranjar formas de construir novas refinarias. Mas, um projecto destes será economicamente viável? Um assunto muito debatido por economistas da nossa praça, apresentamos uma visão econômica simplificada de um especialista em refinação de petróleos.
 
Fonte: Club-k.net
 
PARCEIROS IMPORTANTES
 
Como qualquer fábrica, uma refinaria precisa de fornecedores de matéria-prima e outros equipamentos. Neste caso o fornecimento do Petróleo bruto deve estar garantido podendo inviabilizar o projecto logo a partida caso não esteja. O acesso a agua doce é outro factor crítico, muito usado em toda refinaria principalmente para a produção de vapores de diferentes pressões. Para o projecto SONAREF (no Lobito), a Sonangol como productora de petróleo poderia garantir o fornecimento de petróleo estabelecendo-se como uma empresa integrada no sector, retirando os lucros no producto final e o rio Catumbela localizado a menos de 10 Km a Sul do projecto fornecerá suficiente agua doce. O fornecimento de gases e adictivos poderão ser comprados local ou internacionalmente e o projecto fomentará o surgimento de pequenas e médias empresas para suprir a refinaria.
 
ACTIVIDADES E RECURSOS CHAVES
 
 REFINAÇÃO: Terminal marítimo para recepção do petróleo, armazenamento de diferentes ramas de petróleo em tanques, refinação, armazenamento de productos intermediarios e armazenamento de productos finais.
 
VENDAS A GROSSO: Terminal marítimo para escoamento por navios, escoamento ferreo para mercados locais e internacionais.
VENDAS A RETALHO: Terminal para enchimento de camiões e conexões via pipeline para uso industrial.
 
 
Devido a magnitude das actividades envolvidas na gestão das operações de uma refinaria e pouca margem de lucros a maximização dos mesmos é de extrema importância. Responsabilidade geralmente acarretada a Engenheiros de Processo (Químicos) especializados em optimização de processos trabalhando no departamento de planificação a curto e médio prazo, que é muitas vezes considerado o coração de uma refinaria. Programação matemática é usada extensivamente para determinar diariamente que rama de petróleo a ser usada, que unidades da refinaria a ser utilizada e sob que condições, como misturar os intermediários para produção de productos finais de acordo as necessidades do mercado, produção e consumo de utilidades, preço do petróleo bruto e preço do producto. Estes modelos de programação linear matemática providenciam soluções optimas para uma variedade de decisões acerca de seleção do petróleo a comprar, planificação de operações a longo e curto prazo, novos processos tecnologicos, decisões de CAPEX, manutenção e controlo de inventario.
 
 
O controlo das operações quer a nível central (na sala de operações) como local em cada planta são também fulcrais, habilidades estas que o nosso mercado possui devido as operações offshore. Que também nos oferecem empresas habilitadas para manutenção, reparações e estudos simplês de engenharia. Para estudos mais profundos de Engenharia (Debotlenecking) a Europa possui varias empresas especializadas em Engenharia de Processos facilmente acessíveis.
 
VALOR ACRESCENTADO PROPOSTO
 
Os principais problemas de refinarias africanas são: baixa capacidade tecnológica para atingir as rigorosas especificações dos productos, pouca capacidade de produção, limitações logísticas e competição com exportadores do mercado europeu.
 
 
Uma nova refinaria estrategicamente localizada, com padrões internacionais, capaz de processar acima de 100,000bpd de petróleo pesado comprado localmente produzirá derivados a um preço muito competitivo em relação as refinarias europeias.
 
 
 MERCADO
 
 
O Caminho de Ferro de Benguela (CFB) escoará o producto para toda zona central, leste e sul do Pais assim como atingir Zambia e RDC. O mercado em Luanda e norte do Pais actualmente coberto pelas importações serão abastecidos por navios e camiões e talvez futuramente uma linha ferrea ligando Luanda a Lobito. Estes custos logísticos serão uma fracção comparado aos custos de importação e logísticos de competidores europeus.
 
ESTRUTURA DE CUSTOS E RENDIMENTO
 
 
O custo de construção de uma refinaria é extremamente elevado principalmente na nossa realidade onde quase todo equipamento terá de ser importado. Planificar, projectar e construir uma refinaria de tamanho médio leva 5-7 anos, para a SONAREF estando avaliado na ordem dos 10 bilhões de dólares norte americano, de formas que apenas empresas financeiramente saudáveis conseguem investir neste negocio. O retorno do investimento (ROI) é também vagaroso estando por volta de 10% levando mais de 10 anos para se pagar o projecto.
 
 
Para além disso, os custos operacionais de uma refinaria são também altos com uma margen de lucros na ordem de 2- 4%. Custos fixos incluem pessoal, manutenção, seguros, administração e depreciação. Custos variáveis incluem petróleo bruto, adictivos químicos, catalisadores, manutenção, utilidades e energia comprada na rede nacional. Para ser economicamente viável, as refinarias devem manter os custos operacionais minimos.
 
 
Muitas refinarias africanas não são rentáveis porque produzem em pouca quantidade ou não são utilizadas na totalidade de sua capacidade, sendo incapazes de processar todo petróleo, exportando cerca de 40% como producto não acabado (Nafta e Fuel Oil) que ao ser vendido nos mercados internacionais a preços pre-definidos que quando associado aos custos de pre- tratamento, de exportação e logísticos as refinarias chegam a incorrer em percas. É nesta flexiblidade de processar totalmente petróleo pesado que geralmente é mais barato que o leve, a capacidade de produzir acima de 100,000bpd, as infraestruturas logísticas do Porto do Lobito e CFB que garantirão rendimento a SONAREF retirando assim competidores europeus do mercado que terão de incorrer a custos de importação e logísticos elevado.
 
CONCLUSÃO
 
 Entretanto, a implementação de uma refinaria acima de 100,000bpd em Angola com capacidade de refinar aos elevados padrões internacionais e estrategicamente bem localizada é economicamente viavel. Outra vantagem será o aumento de empregos especializados que serão criados e melhoria de segurança energética para o Pais. Para além disso, toda infraestrutura associada ao projecto dará um impulso ao desenvolvimento da economia nacional, trará fonte de receitas para o governo através  de impostos, responsabilidade social com as comunidades locais construindo escolas, estradas, hospitais.
 
Portanto, faz sentido aumentar a capacidade de refinação em Angola como forma de redução dos custos de productos derivados do petróleo. Mas, tudo isto precisa ser implementado sem prejudicar o ambiente e de forma sustentável.
 
 
* Jelson Cassavela
 
Licenciado em Engenharia Química, pela Universidade de Aberdeen
Mestre em Refinação de Petróleos, pela Universidade de Manchester Com cinco anos de experiência em Gestão de Projectos Petrolíferos.