Luanda - Devo começar por dizer que de economia entendo muito pouco. A não ser que seja aquela economia dos kumbús que saem do bolso antes mesmo de entrar – nisso confesso sem falsa modéstia ser muito bom – de economia global só sei o que fui aprendendo na escola, o que foram dizendo os principais pensadores dessa ciência. Portanto, o que vou dizer é um pouco o desabafo de um expectador que também sente a tal da crise na sua vida do dia a dia, mais um pouco de senso comum.
 
Todos sabemos que os sistemas económicos e financeiros assentam fundamentalmente num factor: a confiança. De facto, se de repente todos os clientes de um banco decidirem ao mesmo tempo retirar o seu dinheiro de um determinado banco, este de certeza vai imediatamente à falência. É por isso que os bancos investem tanto na publicidade, sempre dizendo que oferecem os melhores pacotes para os seus clientes. Por uma razão muito simples. O dinheiro dos clientes não fica parado nos bancos, mas sim investido por estes para gerar mais dinheiro, constituindo isso grande parte dos seus lucros. Esses investimentos vão desde empréstimos a prazo para os vários efeitos, como na c ompra de propriedades, acções ou mesmo investimento em bolsas de valores. No banco fica apenas o dinheiro que se acredita necessário para as operações correntes, como os levantamentos dos clientes (que com os cartões de crédito e débito são em quantidade cada vez menor). Os bancos fazem tudo para que o dinheiro não saia do circuito bancário – hoje em dia mais de 95% de facto não precisa, graças aos ditos cartões – pelo que a confiança dos clientes em deixar as suas poupanças nos bancos é essencial para a robustez da economia de qualquer País. Por isso, tudo deve ser feito para que os clientes não retirem as suas poupanças dos bancos, antes pelo contrário.
 
É por isso que os actos da nova equipa económica parecem não fazer sentido do ponto de vista económico. Sabendo que a crise foi desencadeada e assumiu as proporções que assumiu devido a repentina falta de confiança do cidadão comum nas instituições financeiras devido ao tal “sub prime” – os economistas que expliquem em miúdos o que isso é, eu não me atrevo – porquê ela está deliberadamente a tomar medidas por forma a minar a confiança que os angolanos já tinham nos seus bancos? Confiança essa que a anterior equipa económica – a tal que eu dizia aos amigos que ainda teríamos saudades daques Três Mosqueteiros – tão árduamente tinha batalhado para conseguir? É que, estamos todos lembrados que há pouco mais de dez anos ninguém fazia as suas poupanças em kwanzas e muito menos as punha nos bancos. Trocava-os imediatamente em dólares (para gáudio das kínguilas) e, ou guardava-os em casa ou depositava-os em dólares. Ninguém usava cartões de débito – os hoje vulgares multicaixa – e muito menos os de crédito, muito responsáveis para as pessoas trocarem o dinheiro sonante pelo dito “dinheiro de plástico” que permite as pessoas fazerem transacções sem retirar o dinheiro dos bancos. Então porquê fazem os bancos exercitar limitações estúpidas que deixam as pessoas desconfiadas?
 
Quando o kwanza começou outra vez a disparar, a maior parte das pessoas – confesso que eu também – correram aos bancos para trocar as suas poupanças em kwanzas para dólares. Os bancos disseram não. Levantámos então todos os kwanzas e fomos às kínguilas – que não cabiam em si de contentes – e trocámos os kwanzas por dólares a 84 quando os tínhamos obtido a 74. Depositámos os dólares nas nossas contas 32 – a tal que é sem despesas – mas quando os precisámos, os bancos disseram que não podíamos levantar a quantia que precisamos, para nossa raiva e frustração.
Para aqueles que têm família fora do país, ainda um outro drama: já não há transferências. Vai dali que tem que se recorrer a ginásticas para retirar o dinheiro do banco e usar mecanismos informais para fazer isso, porque a vida continua e não vamos depender das medias de um Governo que está pouco se lixando com as coisas da vida do dia a dia do seu povo. Mas no fim do dia, o dinheiro está a sair dos bancos.
 
Todos vemos os governos dos outros países a endividarem-se para injectar fundos nas suas economias por formas a esta gerar mais dinheiro e empregos. No nosso país vemos o governo pelo contrário a nem pagar as suas dívidas ao empresariado privado e ainda por cima, a impedir que as empresas movimentenm livremente os seus próprios fundos. Enquanto nos outros países os bancos baixam as taxas de juros para atrair outra vez os clientes, aqui as taxas subiram, parece que para afastar mais os clientes ou fazer estes regressarem às kínguilas de má memória. Porquê? Não podendo ser por por ingenuidade mercantil dos bancos, será por manifesta falta de respeito pelo cliente como faz o próprio poder político?
 
Nós somos especiais sim. Mas somos também parte da chamada “aldeia global” de Marshall MacLuhan. Será que podemos, pela força do nosso petróleo remar contra a maré como fazemos? Não estaremos a enterrarmo-nos e a matar o empresariado e o empreendedorismo que começava a despontar viçoso no nosso País. Ainda me lembro com que orgulho apresentava o meu cartão de crédito angolano nos vários lugares no estrangeiro onde fui últimamente, quando antes era visto com desconfiança porque pagava sempre “em cash”...
 
 
P. S. – Devo dizer que discordo completamente com o meu amigo deputado João Pinto na sua tese defendida quinta feira no Parlamento sobre a “defesa da coesão nacional” quando respondia a uma situacao legitima sobre os estragos ambientais nas Lundas postas por Sapalo Antonio. Com todo o respeito pela fulgurante inteligência do meu amigo – amizade que muito prezo – deve haver respeito pela História e também pelas vivências de todos nós mais velhos nas lides da construção da Nação. Da mesma forma que chamei a atenção ao Fernando Macedo aquando das eleições sobre a tentação de incendiar as mentes e estragar aquele processo, digo ao meu amigo João Pinto: Porque não falas com os teus amigos mais velhos que penaram todo o sofrimento da Nação que tanto amas?
 
E no mesmo rodapé, fiquei desiludido – e magoado também por força de solidariedade... pigmentária! – com a forma deselegante, mesmo arrogante como os ministros das Finanças e da Admistração do Território dirigiram-se ao deputado Saviemba: saibam os senhores ministros que ele sabe mais dos anseios das populações do interior que os senhores, pela sua vivência e por ter sido eleito o unico deputado pelo círculo provincial do Bié – de cujo último soberano sou descendente. Ele não é ignorante, e se o fosse merecia todo o respeito pela dignidade de deputado que possui. Aliás, a Tchizé mostrou mais ignorância que qualquer deputado desta legislatura até hoje e vocês mantiveram-se calados. De formas que o mais velho Severim, com quem trabalhei há vinte anos e conheço como um mais velho comedido e sério, e o ministro Gigi, amigo do meu amigo de peito Rui Pinto de Andrade, se quiserem comprar essa briga conosco, que o façam. Eu a assumo. E depois não digam que traí oa reconhecidos ideiais emempelistas. Saiba-se que os albinos deste país vêm no Saviemba – com todas a discordâncias políticas – o único albino no nosso Parlamento. Será que a vossa arrogância não entende que ele representa-nos e o nosso voto e inteligência pode – ou não pode arregimentar direcções políticas?
 
Não gosto de incorporar essas ideias nas minhas intervenções oficiais, mas quando mães apelam, fica difícil regeitar: Senhores Severim de Morais e Gigi de Fontes Pereira: Seria demais um pedido de desculpas? Falo-vos em meu nome pessoal... que sei que não vale nada, mas falo em nome de vossos parentes (no caso de Severim dá para disfarçar) que são como nós. O Dr. Severim deveria respeitar mais o sentimento não racial deste povo para indulgir nesse vergonhoso procedimento. Afinal ele é branco num país em que ninguém importa-se com isso...

Fonte: LAC