Luanda  - Ponto prévio: Sua Excelência João Lourenço, Presidente da República, Titular do Poder Executivo e Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas (FAA) e a Direcção do Partido MPLA não afirmaram que os membros do Executivo Central, dos Governos Provinciais, da Procuradoria Geral da República, da Inspecção Geral do Estado e os presidentes dos Conselhos de Adminstraçao, assim como os administradores executivos e não executivos, são nomeados para cinco anos, nada disso. Tudo depende do resultado (positivo ou negativo) do seu trabalho. Os únicos que foram eleitos para o presente quinquenho são os(as) representantes do povo angolano no Parlamento. Quer dizer, os deputados e as deputadas da Assembleia Nacional.

Fonte: Club-k.net

Li com muita atenção a carta aberta endereçada ao Excelentíssimo Ministro do Interior e outra denúncia sobre raptos e assassinatos. As duas “mukandas” foram escritas pelos meus colegas e amigos José Luís Mendonça (Mateus Kissekula) e Ramiro Barreiro, tendo sido publicadas no Club-K. O clima de violência na província de Luanda atingiu níveis assustadores. Os assassinos, com auxilio das drogas, atormentam a vida dos(as) pacatos(as) cidadãos(ãs). Muitos(as) preferem abandonar as suas residências para salvar as suas vidas.

 

Ultimamente, a via expressa passou a ser o centro das atenções pela negativa. Circular na avenida Fidel Castro Ruiz, a mais longa (28 quilómetros) da província de Luanda, significa “tirar o coração do lugar habitual”. O Ministério do Interior é a garantia da Segurança Interna e a Polícia Nacional assegura a ordem e a tranquilidade. Lembro-me, em 1976 e 1977, quando integrado na unidade de elite dos comandos “os Corvos ao Embondeiro”, ajudávamos os camaradas da Organização de Defesa Popular (ODP) para neutralizar os delinquentes, caloteiros, gatunos, burladores, assassinos,”ngobiris”, inclusive, os homens que gostavam de “tungar” as suas damas. Angola era um país muito carente. Tínhamos insuficiências em todos os sectores. O Corpo da Polícia Popular de Angola (CPPA) tinha falta de efectivos. Tratava-se de auxiliar o Comandante Petrof. Nós herdamos toda malandrice do colono português. Mas a união CE-ODP deu resultados positivos. Por um lado, as “chapadas” das catanas dos homens do tio Paiva (Heroi Nacional) e, por outro, as bofetadas dos comandos. No Sambizanga (Mota e Lixeira), no Cazenga, nos Coqueiros, Ingombotas, Bairro Operario, Rangel, Marçal, Kassenda, Vila Alice, Maianga, Congolenses, Bairro Popular, Prenda, Praia do Bispo, Corimba, Alvalade, Ilha de Luanda, Kinaxixe entre outras, fazíamos rondas e rusgas.

 

Mas o nosso objectivo era a “kitota” nas frentes de combates. Actualmente, tudo mudou em termos demográficos, culturais, científicos, tecnológicos e históricos. Se é verdade que as forças de segurança conseguem importantes vitórias, também não é menos verdade que os malfeitores fazem tudo por tudo para “manter as mãos nos bolsos”. Diga-se, desde já, que a luta contra as drogas é um insucesso devido aos apetites inconfessos. Acontece em Angola, no Brasil, em Portugal, nos EUA, na África do Sul, na China, na Colômbia, no México, na Tailândia, na Alemanha, entre outros. A máfia é muito forte e bastante perigosa.

 

O tráfico das drogas é muito lucrativo. O lucro fácil engana muita gente. As cadeias estão cheias de contrabandistas, “mulas” e líderes de pontos de venda. Em termos de saúde, os(as) drogados(as) vão de péssimos(as) à piores. Enfim, o negócio e consumo das drogas são casos perdidos.

Exemplos do Passado

A parceria entre a ODP e os CE surtiu os efeitos desejados. Por orientação do Comandante em Chefe das FAPLA, nós (os Corvos) éramos autorizados apenas a meter a farda normal, ou seja do Exército, quando estivéssemos em missão de Polícia. Não éramos Polícia Militar (PM), isto é Serviço de Tropas (ST). As catanas da ODP e as AK47 (kalachnikov) dos CE impunham a ordem e tranquilidade.

 

Na altura, de 1976 a 1978, a situação era complicada. Nós lutávamos contra o Imperialismo, os seus lacaios, os carcamanos, os mercenários, os traidores. Como se não bastasse, de 1975 a 27 de Maio de 1977,enfrentamos o “Grupo do Nito” (Alves), quer dizer a fonte de instabilidade interna. Para o êxito da nossa missão, apostamos no povo. Assim as Comissões de Moradores desempenharam um papel crucial na vigilância, enquadrados da seguinte forma: dois da ODP, dois da CE, e quatro da CM. Isto é, se o bandido escapar as catanadas “organizadas”, não podia esconder-se do festival de balas!...

 

Na década de 80 e 90, surgiram as Brigadas Populares de Vigilância (BPV). Mas, a contar com a Polícia, adoptaram novos moldes assentes nas rondas nocturnas apenas os moradores. Esse sistema não agradou a maioria. Na prática, era um verdadeiro “salve-se quem puder” porque enfrentar bandidos armados era uma aventura à beira do precipício, para não dizer, brincar a menos de um metro da Fenda da Tundavala. Certa ocasião, o porta-voz do Ministério do Interior na Província de Luanda, Intendente Mateus Rodrigues, pronunciou-se acerca do assalto frustrado a uma dependência do BPC na Praça da Independência. Face a reacção da Polícia para responder aos assaltantes, o oficial da PN limitou-se a dizer que os efectivos policiais pouparam vidas humanas porque é uma zona muito movimentada.

Angola com passo desacertado

Em Dezembro de 2015, realizou-se a proclamação oficial e a inauguração da sede da Afripol (Policia Africana) em Argel. Na altura, eu já tinha cessado o meu mandato como adido de imprensa. Estava apenas a queimar os últimos cartuchos. Entretanto, Angola foi o único país ausente e o embaixador Toka manteve-se indiferente, como sempre. Liguei para saber o ponto de situação. Em resposta, foi-me dito que seria a Comandante Bety, minha conhecida de longa data, a representar o país. De seguida, falamos ao telefone e explicou que tudo estava a ser tratado em cima da hora. Conclusão: a alta patente não foi a Argel. A nível africano Argélia ocupa o primeiro lugar. No âmbito da segurança nacional (pública, patrimonial, privada, económica, cultural, industrial, e desportiva), destaca-se em termos organizativos. Quanto as questões operativas, existem delimitações geográficas das Wilayas (províncias) que não se podem ultrapassar mesmo em caso de perseguição.

 

O sistema de telecomunicações é muito eficiente. As ocorrências são de conhecimento de todos os órgãos do Ministério do Interior e das Colectividades Locais. Nas praças, nos largos ou nos locais de maior concentração e movimentação, há a Polícia de Trânsito, a Gendarmaria (fronteiras entre as Wilayas), as viaturas de apoio técnico para comunicações e de transporte, os bófias, os efectivos do MICL estão preparados (as) para todas as circunstâncias e munidos com todos equipamentos necessários. Haja chuva ou calor que chega a 50oC no sul ou frio com menos de 5oC, desempenham a sua missão com zelo, disciplina e dedicação. Não tem problemas de injustiça na carreira, incluindo a Forças Armadas em cada quatro anos, sobem de grau. Aos 60 anos, legalmente vão a reforma e com futuro garantido. Por outro lado, no nosso caso, as estradas esburacadas, bairros cheios de becos, zonas na escuridão são “ingredientes” para a pratica de banditismo. Os bancos, os multicaixas, os carros fortes, os(as) os exibicionistas estão a mercê dos amigos do alheio.

 

P.S. os porta-contentores de 40 pés continuam a deambular nas estradas, nas horas normais de expediente. Nos países organizados, só são admissíveis das 0h00 até às 5h30, isto é nas zonas periféricas, próximas dos portos, armazéns e portos secos. O povo angolano quer saber se é preciso uma “sessão especial” da Assembleia Nacional para se pôr cobro a desorganização e anarquias gratuitas nas nossas estradas. Vamos corrigir o que está mal e melhorar o que está bem. O mais importante é resolver os problemas do povo.

Henrique Matos
Jornalista do Jornal de Angola