Luanda – Sobre a verdadeira trajectória do partido no Poder em Angola desde 1975, a nova geração, pouco ou nada sabe, a não ser a literatura dirigida que anda a deambular por tudo quanto é canto, com estórias eivadas de vícios factuais e autorais que ajudam em nada a esclarecer os descaminhos que forçaram o país a trilhar desde a independência aos dias actuais; os rascunhos que se foi colhendo por uma ou outra testemunha ocular, investida de autoridade moral, não são suficientes para esclarecer tamanha tergiversação no seio do MPLA, mas podem nos ajudar a compreender as enfermidades e desafios mais íntimos da poderosa família política, a medida em que tais factos vão-se comprovando.

Fonte: Club-k.net

Nota Prévia

Parte da sociedade angolana tem vindo a acompanhar com bastante acuidade, como cidadãos livres de consciência e conscientes do seu papel cívico, patriótico e de cidadania, os acontecimentos decorrentes da vida política do país. As últimas eleições gerais angolanas, apesar de fortemente contestadas, tomadas de vícios quanto ao processo eleitoral, comprometendo a sua lisura e transparência (sentida por toda parte, pela maioria da população com o mínimo de instrução e consciência política) e constituindo mensagem central apregoada pelos vencidos,

 

reconheça-se, o MPLA, afunilou, assassinou, castrou a Oposição, ao substituir o seu cabeça de Lista e ao escolher a Autocritica como ferramenta eleitoral e Programa de Governação, escapando ao furacão que se avizinhava se persistisse pelo mesmo caminho.

 

Ao reconhecer a necessidade de “Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal” o Partido, também conhecido pela imbrica Arrogância, aceitou, não sem outros ganhos, uma auto-humilhação... agiu com sagacidade e esperteza Maquiavélica - encolheu a mão e adentrou pela boca até ao amago do opositor, rasgou-lhe o diafragma, retirando-lhe o discurso do “tudo está mal”; contudo, deixou-lhe a língua solta, mas o que vale ter língua, se lhe perdeu a fala? O mudo é mudo, tendo ou não uma língua de enfeite. Agora, Lourenço, ou seja, o MPLA, está sem uma verdadeira oposição política que ́derrange ́ o seu jogo de Poder (pelo menos nestes próximos cinco anos, JLo tem a estrada feita) basta-lhe que enfrente a Sociedade Civil e resolva à nível interno, as suas velhas e adiadas Makas, que dada a sua complexidade e multi-tipicidade, ensaiarei dos seus (3) íntimos desejos, (2) da propalada Reforma Lourenciana; às (1) Convulsões internas desta família política.

 

 

1. Das convulsões Internas às reacções externas

 

Não se sabe ao certo, se foram na altura os gurus do Partido quem forjaram tal imagem ou o estadista angolano esculpiu-a unilateral e forçosamente. A verdade é que sempre ouvimos dizer que José Eduardo dos Santos “Van – Dunem” ou “San – Tumem” era o garante da estabilidade interna do Partido. Uma espécie de “deus-homem” que tudo via, ouvia e previa – oraculo – decidindo unilateralmente, sempre de forma assertiva, logo sem a possibilidade de cometer equívocos de liderança e de governação – não era homem, era deus.

 

Talvez, tal dom, já lhe tivesse sido imputado desde os tempos de militância juvenil; de estudante na antiga URSS e ou no exercício das funções que desempenhara no aparelho de Estado desde os tempos do Partido Único, tornando o jovem de 37 anos, o único capaz de continuar a dirigir os destinos de Angola após fatídico falecimento do seu 1o Presidente, por razões ainda por se esclarecer (chame-mos aqui JES e H.E, a darem uma palavrinha amiga a respeito) ao afirmar no dia do seu empossamento “não é uma substituição fácil, nem tão- pouco me parece ser uma substituição possível, é apenas uma substituição necessária” Eduardo dos Santos, parece ciente dos desafios que teria de enfrentar caso quisesse firmar seu consulado no centro do Poder. Substituição, palavra que soou familiar no dia em que herda o Poder pós-morte, lhe passou a ser estranha, depois de ter provado e gostado da vida da cidade Alta... “Dê Poder ao homem, e verás se de facto é um Homem”.

 

No capítulo das heranças, JES, tem de inicialmente dançar a música dos fiéis aos ideais de Neto, lutar contra, seria abortar desde cedo o privilégio único de Instituir seu reinado e eternizar seu nome, tentando provar aos “Van – Dunem” que o poder da herança genética, embora rejeitada, produz seus efeitos naturais. Conhecido por sua inteligência quase alienígena, serenidade e extrema capacidade estratégica, somado ao carisma que gozava no seio dos `mais velhos` foi trocando as peças do Xadrez, mudando as chaves-mestras da casa e se desvinculando do passado a pé de camaleão, de acordo as exigências internacionais, sustentando os interesses económicos da família e daqueles que foram seus sustentáculos... altos magistrados, chefias militar, da polícia e da inteligência, alguns históricos do partido, altos lideres religiosos, vozes altissonantes da sociedade civil e até alguns cientistas sociais com alguma dignidade na altura... assim criou-se a Cleptocracia, firmada na então propalada “acumulação primitiva de capitais “angolano” ”.

 

Tal realidade aumenta as já sentidas divisões ideológico-partidárias; vozes dissonantes, feitas as devidas leituras dos tempos e dos actos do seu Presidente, começam a denunciar e a demonstrar cautelosamente, sua repulsa, descontentamentos, quanto ao rumo que o líder do partido estava a levar; a exclusão político-económica no seio dos camaradas já se sentia há muito, só em 92 é que acentuou-se de facto; a privação das decisões colegiais dos órgãos deliberativos, as ameaças que perigavam o exercício das liberdades de expressão e de pensamento dos membros ao abordarem a vida interna do Partido, e outros males que perigavam cada vez mais a coesão entre os camaradas... Ressaltei “cautelosamente” porque o tratamento e o destino que muitas das vezes se dava as vozes contestatárias da sociedade civil, parecia não ser diferente aos que faziam-no internamente... assim estabeleceram-se as facções internas, só que diferente dos tempos de Neto (que certamente podiam acender debates acessos em praça pública) estas, multiplicaram-se em números e subtraíram-se na coragem de manifestar-se – pois, estava clara a mensagem – a preservação da vida era comprado com o silêncio da voz.

 

O que fez, com que só alguns ganhassem a coragem, de perder se necessário a vida e os privilégios de que gozavam, em favor dos ideais natos do Partido de Viriato da Cruz, de Lúcio Lara e de outros nacionalistas... para dar voz aos “Sem Voz” ao pensar primeiro a Nação, segundo, o Estado, terceiro, as famílias angolanas, e depois é que vinha o resto... de um tempo a esta parte, o partido entrou em um estado de sobrevivência, de ebulição/pulverização irreversível sob a liderança de Dos Santos, agora que a figura a que o Partido se habituou a contemplar e obedecer durante cerca de meio século, prepara-se para ir embora, a senhora que por sinal parece-nos apresentar sinais de viuvez ...mesmo quando é apenas um divorcio forçado, por motivos já conhecidos, e porque nenhum homem dura para sempre, vê em João Lourenço, um forte candidato ou não a coabitar maritalmente.

 

2. Sobre a propalada Reforma Lourenciana

 

Os holofotianos do regime ou não, já previram tudo o que tinham a prever. Desde que JES anunciou que deixaria a vida politica activa até a escolha do possível candidato as eleições presidências em 2017; maior parte fora infeliz em suas hipóteses; uns poucos chegaram perto da verdade. É assim com JES, tudo funciona a base da imprevisibilidade; mas nem tanto assim, para os mais atentos, sabem que a festa a que se comemora hoje, da tão propalada “Reforma do Estado” e a inauguração de uma “Nova Angola para os angolanos” afinal não é um ideal nato em Lourenço, o mérito com que o temos coroado, deve ser levado a debate público, e, os analistas e jornalistas, os media, a imprensa Pública e Privada, mais uma vez, terão o trabalho de fazerem o seu trabalho como deve ser... E porquê afirmo isso?

 

2.1 No discurso de tomada de posse à Pres. Da República, após eleições gerais em 2012, Zé Dú, incarnou a voz de um profeta ou a de um político sagaz, extremamente calculista. Se quiserdes, consultai-o, vereis afinal que não há fogo sem fumo. Definitivamente, Lourenço é o fumo que a conhecida fogueira produziu cinco anos antes q as matas começassem a arder...

 

“Os eleitores votaram, escolheram os dirigentes do país e estamos aqui para respeitar a sua vontade. Tratou-se, de facto, de uma decisão democrática do nosso povo, que, deste modo, mostrou que está a favor do Manifesto Eleitoral e do Programa de Governação do MPLA. Esses dois documentos reitores apontam como seu objectivo a construção de uma sociedade democrática, inclusiva, de progresso, bem-estar e justiça social. A sua aplicação, pelo Executivo que vou dirigir, assentará no princípio da renovação e da continuidade, para renovar e corrigir o que está mal, dar continuidade e melhorar o que está bem e iniciar novas obras”.

 

2.2 Eis a razão por que alguns observadores independentes demonstraram cinismo quanto a tão propalada campanha de ́Mudanças em Angola ́ consubstanciadas no aparente extermínio da antiga rotulada equipa corrupta Josiana, levadas a cabo por João Lourenço e o seu Executivo. Dito de outro modo, a meta ou missão (não se sabe ao certo) de Eduardo dos Santos, em enriquecer-se e enriquecer os mais próximos criando uma Cleptocracia Angolana; abrir o sistema para uma economia fascista de mercado, criando monopólios em tudo qualquer canto, ao arrepio de mais de 20 milhões de almas famintas em nome de não sei o quê, foi alcançada com muito sucesso; e as recentes mexidas atingindo de brincadeira os

 

mais próximos do velho inquilino da Cidade Alta, que estão a levar os menos atentos ao orgasmo mental, em momento algum, encontrou o Mestre do Xadrez de surpresa. Alias, presume-se que foi ele mesmo quem arquitetou esta nova fase que estamos a experimentar em Angola, ou seja, foi o Colono que a um dado momento, de livre vontade ou por outro imperativo qualquer, resolveu devolver a Dignidade aos seus serviçais, talvez ele quisesse ser o executor dos próprios planos só que a saúde lhe falta para tal realização... é uma hipótese!

 

2.3 Como referi no início da abordagem, João Lourenço, não é um herói por estar a confrontar o seu próprio Partido em benefício do Povo, sê-lo seria pela razão contrária, por estar de facto a tira-lo do caos por mútuo e prévio acordo interno. O partido no Poder desde 1975, já teve o mérito de ser rotulado como “Partido de massas” dando-lhes liberdade para afirmar “MPLA é o Povo, e o Povo é o MPLA”. Gozava de facto de grande apoio junto das populações, mas tal, foi-se desvanecendo e a confiança reduzida, devido a crise de popularidade que foi conhecendo a figura do seu líder; isto começou a notar-se publicamente desde 2002, quando podia e se esperava que saísse com os pés da vida política, depois de hipoteticamente ter dado a Paz aos angolanos, que na verdade, uma paz, que ele (os políticos) nos havia sem permissão, tirado de assalto. Agora, a grande família tem desafios em tudo e qualquer canto. A (1) reorganização interna da casa – voltar a ligar as medulas e evitar a desintegração do Partido no Pós Eduardo, não será trefa fácil; e voltar a conquistar a (2) confiança do Povo, depois de tantas borradas, só será possível, se este mostrar que o Povo pode voltar a confia-lo. É aqui, nesta Reforma Lourenciana, onde se esconde os íntimos desejos da grande família politica, o MPLA.

 

3. Dos íntimos desejos do Partido no Poder em Angola

 

Sobre a verdadeira trajectória do partido no Poder em Angola desde 1975, pouco ou nada se sabe, a não ser a literatura censurada que anda a deambular por tudo quanto é canto, com estórias eivadas de vícios factuais e autorais que ajudam em nada a esclarecer os descaminhos que o mesmo forçou o país a trilhar, desde a pretensa independência aos dias actuais; os rascunhos que se foi colhendo por uma ou outra testemunha ocular, investida de autoridade moral, não são suficientes para esclarecer tamanha tergiversação no seio do MPLA, mas nos podem levar a compreender os mais íntimos desejos da poderosa família política, a medida em que os sintomas das encubadas enfermidades vão-se mostrando, e nós os leigos pupilos sem grande experiência política, com um pouco de formação apurada, vamos notando e acompanhando para ver o desfecho, ou sugerir caminhos alternativos segundo a nossa própria experiência, a dos tempos actuais... Ei-los:

 

3.1 Encontrar uma nova, ou recuperar a velha identidade

 

Recentemente, a deputada e membro do Comité Central do MPLA, Tchizé dos Santos, respondeu aos apelos do veterano, Ambrósio Lukoki, que pedia em conferência de imprensa, o abandono imediato de Dos Santos da liderança do Partido no Poder. A deputada afirmou que, independentemente de lhe ser reconhecido o mérito na democratização do MPLA, o histórico dirigente daquela força política, carecia de legitimidade para falar da vida interna do Partido, justificando que “só fala sobre a vida do MPLA, quem paga cotas”. Mário António, secretário para a informação do MPLA, contactado pela VOA, como muitos outros, remeteu-

 

se ao silêncio. Porquê será que das fileiras do MPLA, ninguém mais ousou contrariar Lukoki, para além da novata Weliwítschia dos Santos? O que de facto se passa no interior da grande família? Será verdadeira a teoria pela qual o Partido dos camaradas anda sob sequestro do mestre do Xadrez político, asfixiado aproveita a sua debilidade física para libertar-se do jugo?

 

Lukoki, se não o maior, tem sido um dos críticos internos contra a liderança de Dos Santos, e suas teses, claras, expõe-nas “com toda a frontalidade e clareza” como confirmou uma outra oposição ao Dos Santos, Marcolino Moco. São várias as figuras internas do movimento, que foram afastadas por confrontarem a liderança Jesiana, o caso de Lopo do Nascimento e de França Van – Dunem, citando algumas referências... qual o crime que eles cometeram? Todos eles têm em comum o facto de terem denunciado e se oposto ao culto anacrónico à personalidade do líder do Partido. O MPLA, definitivamente, perdeu a identidade, a imagem e os valores que defendeu durante todos os anos de militância. Dizem os cotas, “não foi por isso que lutámos”, “os ideais de Neto foram esquecidos” “fomos traídos” são dicas que se ouvem em todas as esquinas onde se podem cruzar com personalidades históricas que estiveram no início deste ora glorioso movimento na alma e nos punhos e, o de hoje, que não passa de um instrumento de realização de vontades de privados ou de grupos restritos.

 

A declaração de Lukoki, por ocasião do VII Congresso do MPLA, foi chocante, mas verdadeira e necessária para elucidação deste problema identitário, que constitui objecto de luta de uma das alas do Partido, sobretudo da Antiga Escola. Pode-se lê-lo na íntegra, porém destaco o que penso ser o mais importante, e negrito, o essencial para nós, no seu discurso:

 

“Caros congressistas... membros do Comité Central do Partido MPLA... É preciso e importante e inevitável saber objectivamente ler, viver, se fazer ou ter uma percepção dos sinais dos tempos. Necessário se torna não continuar e afundar-se ou perder-se nesta posição cada vez mais inconfortável... Desta feita, sem ambiguidade, o partido MPLA deve, inevitavelmente, revisitar a confiança das largas massas militantes e dos membros do partido, pelo facto de o espírito de revolta ou de insurreição silenciosa e larvada estar a espalhar-se, e cada vez grande e profundamente. Não devemos nos derrubar ou enganar, porque o tal espírito de (...) protesto, de revolta ou de insurreição progride e aprofunda-se de uma importância exponencial. Não temos necessidade de dirigentes postiços. O país tem necessidade de constância, de autoridade e de ética. Certo é que, a nossa popularidade, realmente enganadora, não cessa e constantemente continua a derreter-se.

 

O presidente do partido e chefe do estado, registando uma impopularidade record pelas suas desinteligências, conota o partido e arrasta na sua queda certos inocentes do MPLA. A impopularidade que está a granjear o partido é o preço a pagar pelo partido MPLA quanto a sua (...) de instrumento ou trampolim ao Eng José Eduardo dos Santos para o seu absolutismo em tudo. Enquanto o Partido MPLA não se dissociar do Eng José Eduardo dos Santos, não poderá reconquistar e conservar as suas características do partido de vanguarda. O partido MPLA deve alimentar esse desejo pelo facto de se erradicar na sua cultura e por isso dispõe dos meios indispensáveis e seguros para tal. Para mim, Partido de Esquerda não

 

radical, não quer dizer nada, se não o MPLA não é nem peixe nem carne, colocando os membros do Partido MPLA, diante de um jogo duplo de um partido da obediência social neo-liberalismo e não da obediência social comunista. Ou em outras palavras o MPLA é partido da obediência neo-comunismo e não da obediência neo- liberalismo. O partido MPLA não sendo nem social liberal nem neo- comunista, o MPLA é quê? Mas, mais uma vez estamos diante da história do jacaré que estando à beira do rio, portanto, fora da água do rio, tenta fugir da água da chuva e vai para a água do rio. Resolveu o quê? A dúvida identitária está papável no conjunto das estruturas e órgãos, organismo e organizações do partido MPLA. O receio de escamoteamento da discussão de fundo está manifesto. Vejamos, por exemplo, uma proposta de debate sobre o tema, “O que é ser um militante do MPLA nas condições de Angola de hoje”? Alguns militantes interrogam-se: o que somos? Porque é que estamos no partido MPLA? Para onde é que se vai e com quem? Estas e outras questões, pequenas, mas sensíveis nem sempre são abordadas. Fala-se demasiado de nós, do nosso egocentrismo. É preciso reencontrar o caminho dos grandes, sérios debates sobre a sociedade. Cremos que pelo trabalho de todos, o partido MPLA, um dia sairá desta. É preciso que um bailado de ideias tome o lugar do bailado de egos. Não devemos continuar a praticar o jogo de debilitação e destruição do partido...”

 

Síntese 1- O excesso de culto anacrónico a figura do seu presidente, teria ofuscado a essência do Partido ao longo dos anos; a indissociabilidade entre a figura do seu presidente e do Partido em si, estaria na causa do seu longo consulado no exercício da sua dupla liderança... o propósito de Dos Santos ao incorporar a liderança do Partido foi patriótica mesmo ou eivadas de propósitos inconfessos?

 

Basta aos camaradas, a força suficiente para marcarem um reencontro com seus valores e ideias mais altos... A estrada é longa, fatigante, e perigosa, mas nada do que os nossos heróis já não tenham trilhado antes...

 

3.2 A Reconquista do seu antigo Amor - o Povo - Eleitor

 

“Antes não era assim! A população saia voluntariamente de suas casas para se juntar as fileiras e apoiar com o que tinham aqueles que deixando tudo para atrás, corriam por um ideal que valia apenas dar a própria vida – sublinhando – e faziam-no, tendo como motivação, apenas um ideal, mais nada, Ah, nosso MPLA já foi”. Dizia um velho qualquer, em conversa com outros num destes autocarros de que sou obrigado a viajar e de que me orgulho ao mesmo tempo, por poder olhar de perto a verdadeira vida do angolano vulgar, o genuíno. Não tenho muito a escrever sobre este segundo item, acho que ao perderem a identidade, a consequência mais óbvia seria o propositado afastamento da liderança do Partido as populações, aos militantes de base, que por sinal, foram estes que os colocaram aonde estão agora, gozando de privilégios extras, que nem o Partido, nem as leis, nem os costumes os concederam; uma vez terem consolidado o Poder e o aprisionado em suas mãos, por todas as vias possíveis, incluindo a armada, o resto já era;

 

Agora, que se inaugura uma nova fase, sublinha-se aqui - nova para o Poder Angolano, pois, para Cabo Verde, é tão antiga quanto a velhice, os camaradas, procuram apoios em qualquer lado, mas enfraquecidos internamente e a nível internacional devido as causas já conhecidas, a opção acertada, é voltar-se ao seu primeiro amor, o amor antigo dos pés descalços, dos quimbombos e das farras de quintal, de acarretar água na cabeça com rodilha de pano; das fofocas das barracas; das gingas e dos assobios; o amor de Neto ao passear no bairro Popular, no Marçal, no Sambila e no Cacuaco... aquele povo que abraçou Robelo de Sousa, e, que sequer viu o líder do Partido ou o presidente cessante a milhas de quilómetros de estrada, ainda está aqui, só que agora, já não basta cruzar-se no KFC com Lourenço, agora, querem, escolas e universidades, hospitais e creches condignas para os seus filhos; querem trabalhos dignos para seus jovens e salários dignos; querem os bandidos, criminosos económicos, sexuais e de guerra, todos na cadeia, ou a renovação de um Pacto Social que seja inclusivo, participativo e aberto para todos, não apenas para os chefes e os patrões...

 

Síntese 2 - Estes angolanos, que foram pisoteados sem pudor nem labor, são os mesmos de que o Partido precisa na hora de renovar a confiança política... se for verdade, e como indiciam as provas sobre a existência da prática reiterada da fraude eleitoral, correm o risco de no próximo leito, anunciarem os resultados eleitorais e, as pessoas rirem-se de vós, perguntando-se: Quem votou, se nenhum de nós foi as urnas?

 

Finalmente, o MPLA descobriu tarde que não tem militantes, tem apenas clientes que se filiam a empresa devido aos benefícios que dai resultam... O Povo já foi o MPLA, e o MPLA já foi o Povo; para que o Povo volte a ser o MPLA, e o MPLA volte a ser o Povo, há de haver trabalho, caso contrário, a saída do Mestre do Xadrez da cena política pode significar a falência definita do nosso glorioso M.

 

Evito falar da oposição neste ensaio, e se pudesse citaria a sociedade civil, porque a primeira anda perdida, procurando um novo discurso, uma fala que justifique sua existência política; enquanto não achar o seu caminho, seu lugar, sua acção política, fica afastada dos novos embates. A luta agora é entre três movimentos, O Partido no Poder, a Sociedade Civil e as exigências geopolíticas do Novo Tempo. Bem-haja, Angola, Vida aos angolanos.