Luanda -  O Parlamento é a casa da democracia e todos os deputados estão legitimados pelo voto popular, pertençam eles à maioria ou à oposição. Em Maio, os deputados decidiram promover um debate sobre a ética no jornalismo.

"O PR disse que os angolanos precisam

 de regressar aos valores éticos e morais"

ImageO líder do Parlamento abriu, ele próprio, o debate. E figuras como o Professor Fernando José de França Dias Van-Dúnem, vice-presidente do Parlamento Pan-Africano e ex-presidente da Assembleia, ou o Dr. Inglês Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, fizeram intervenções importantes e defenderam princípios que interessam, em primeiro lugar, aos jornalistas.

Quando o Parlamento suscita um debate sobre a ética na Informação e abre as suas portas a peritos na matéria, isso quer dizer que temos um problema na sociedade que precisa de ser resolvido. E esse problema tem a ver com a falta de respeito por princípios que regem a prática profissional dos jornalistas.

O jornalismo nasceu para informar, nunca para insultar ou denegrir seja quem for e muito menos para atacar na praça pública pessoas e instituições. Esta foi a primeira regra de jornalismo que aprendi. Considero, aliás, que esta regra está no centro de todo o exercício de imparcialidade e objectividade que o jornalismo exige. O Parlamento resolveu intervir da única forma possível, a forma pedagógica, e convocou pessoas altamente preparadas para falarem sobre o tema. O problema é que muitos profissionais não reconhecem este problema que põe em causa o jornalismo angolano e compromete a qualidade e o crescimento dos novos profissionais angolanos, porque acham que o jornalismo existe para dizer mal de tudo.

O Presidente da República, com a sua habitual serenidade, disse que os angolanos precisam de regressar aos valores éticos e morais que suportam e estruturam as sociedades equilibradas e fortalecem o regime democrático. Disse-o no habitual discurso de fim de ano e repetiu-o durante a visita do Papa Bento XVI. Desde então, os ministérios que tutelam as áreas sociais têm repetido a mensagem até à exaustão. O esforço parece insuficiente.

Qualquer emprego é um contrato que obriga ao respeito de princípios e compromissos, direitos e deveres. O Governo lançou, há bem pouco tempo, uma campanha para que os trabalhadores comecem a cumprir os seus horários e as obrigações contratuais para com as empresas ou instituições onde trabalham. Isso acontece porque há muita gente que não cumpre com responsabilidade as suas tarefas. E aqui temos, também, o mesmo problema. Não há ética quando profissionais faltam aos seus deveres elementares e prejudicam as empresas. Não há ética quando quadros responsáveis de uma empresa não cumprem as suas obrigações, são reincidentes em ausências e apenas se limitam a usufruir dos salários e regalias com que o Estado julga retribuir um serviço efectivo. Não há deontologia quando um médico prescreve um remédio que não é apropriado ao tratamento de determinada doença. Não há deontologia quando os profissionais da restauração insistem em servir refeições com produtos impróprios, que produzem intoxicação alimentar e podem levar à morte. Não há deontologia quando os trabalhadores da recolha do lixo espalham eles próprios lixo pela cidade.

No nosso caso,o jornalismo tem de ser feito dentro da ética. A deontologia profissional impõe a todos o dever de cuidado. A liberdade de imprensa não é ilimitada e não há direitos absolutos. Os jornalistas não são juízes.
Fez bem o Parlamento abrir o debate. Isso ajuda a proteger o cidadão individualmente e a sociedade no seu todo.É tempo de respeitar a ética e todos os valores que dão força à democracia.


*Director do Jornal de Angola
Fonte: JA