Luanda - Depois de alguns meses de silêncio, o que não era habitual, mas compreensível pelo aperto da situação militar que se vivia na Região Leste de Angola, teria chegado o dia de quebrar o silêncio que ainda continua....

Fonte: Facebook

No dia 2/2/2002 , um telefonema do operador pessoal do Pai, o Coronel Kate Hama, conseguiu apanhar um dos meus irmãos mais velhos que vivia em Abidjan ( Costa do Marfim), para logo a seguir passar o telefone ao Pai.


Segundo os relatos feitos pelo meu irmão, o Pai falou muito pouco numa voz serena e calma , mas a dar muitos conselhos. De seguida passou a Mãe que também fez o mesmo. Afinal , a esposa do meu irmão dara à luz a uma menina no princípio do mês de Janeiro daquele ano. Seguramente que os avôs estavam felizes.


Que boa notícia, imagino hoje, para quem os sinais indicavam o fim trágico mas heroico de uma longuíssima carreira em prol de Angola e dos angolanos.... Hoje parece-me que, o sentimento foi também o de dizer : Mesmo se eu passar, estão a nascer os continuadores!

Ao entardecer deste mesmo dia (2/2/2002) que por sinal é também a data natalícia de um outro irmão que na altura vivia em Paris, eu no Ghana e em aulas(embora num sábado)tinha o telemóvel desligado, e o Coronel Kate Hama tentou contactar-me sem sucesso.

Chegado a casa, recebi do Primo com quem vivia, o recado do Coronel Kate Hama, segundo o qual, o Pai queria falar connosco e recomendara que ficássemos atentos.
Com esta notícia, mantive o telemóvel ligado e vigiado durante quase toda a noite, mas infelizmente a chamada de Kate Hama que de facto era do Pai nunca mais aconteceu.

Tinha assim perdido a última chamada do Pai e consequentemente a última oportunidade de conversar com um homem que naquelas circunstâncias em que muitos o tinham abandonado, receberia seguramente de mim( como o fiz noutras ocasiões), o meu encorajamento e garantia de que continuaria ao seu lado "até a última gota de sangue" como prometi-lhe um dia através de uma carta aquando da queda da cidade do Huambo em Novembro de 1994 e que felizmente cumpri!

Ao assinalar os 16 anos da sua morte, peço à todos e sobretudo aos historiadores para falarem com isenção do homem ,nas suas variadíssimas facetas sem se esquecerem de uma muito importante, a de mortal, com suas forças e fraquezas, seus sucessos e fracassos, seus activos e passivos.

Nesta hora em que a nostalgia da sua partida inunda milhares de angolanos ,fica a palavra de honra , de que a luta por uma Angola mais justa, una, inclusiva, democrática e igual para todos os seus filhos, continuará até triunfar!


Por: Rafael Massanga Savimbi