Luanda - Idos do Luandu, sul de Malange, andamos durante cerca de 30 dias para atender a uma convocatória recebida do Mais Velho. Era preciso que o Secretário Geral fosse juntar-se ao Presidente e Vice-Presidente pois estava na forja um plano de paz e a nossa presença junto da Direcção se impunha. Partimos do Luandu em finais de Outubro.

Fonte: Facebook

A Direcção foi-nos pilotando de forma a podermos evitar emboscadas até que em Dezembro chegamos á nascente do Rio Luvuei, um afluente do Lungue-Bungo. Recebemos aí a aquela que viria a ser a última mensagem do mais velho para mim. Nessa mensagem ele dizia que estavámos já próximos dele. '' Agora preparem a vossa comida e toda a logística necessária á viagem para que quando eu disser, vocês possam partir sem mais problemas''. Fomos andando nessa área que era comandada pelo camarada Brigadeiro Azimute que até estava muito bem apetrechado em homens e meios materiais. Havia entre nós um grande conhecedor da arte de sobreviver nas matas do leste. Era impressionante a capacidade do Gen. Vituzi Lumai. Tinhamos agua sem ir para o rio. Sabia procurar mel mas era um caçador daqueles que sabia ''chamar'' as cabras do mato, emitindo sons dos próprios bichos...


No dia 22/02/02, depois de uma longa marcha durante todo o dia acampamos por volta das 18 horas na margem esquerda do Rio Luzi. Como era habito, eu tinha um pequeno receptor SONY para o ritual das noticias das 20:00. Cai a notícia! Anunciada com pompa e uma euforia inabitual.


Chamei de imediato o meu ajudante de campo. Chama os mais velhos para junto da minha fogueira!


Os maninhos venham rápido! Gritei, dada a demora dos meus camaradas. Chegou primeiro o velho Vituzi, depois seguiram-se os camaradas Dachala, Blanche, Kalulu e por ultimo o camarada Sakala que ja estava a dormir.


Há problemas? Perguntaram os meus colegas! Reuni toda a coragem, mantendo uma aparente serenidade e transmiti a fatídica notícia.


Foi duro. Tudo se apagou mas como tínhamos centenas de homens e mulheres sob nossa direção, procuramos manter a calma reservando para dia seguinte a difícil tarefa de fazer a comunicação aos soldados e civis que estavam na nossa coluna. Planeamos igualmente para dia 23 a emissão de uma mensagem de solidariedade com o vice Presidente Dembo.


Ja não fumava havia 2 ou 3 anos. Nessa noite pedi ao meu ajudante de campo para procurar tabaco, nem que fosse para um cigarro...


Estávamos conscientes da gravidade da situação e das responsabilidades que se seguiriam. Estivemos reunidos até muito tarde, numa atitude de profundo recolhimento mas sempre com a necessária lucidez. Os
desafios se anunciavam ainda e cada vez mais difíceis. Dizia eu aos meus camaradas, ''Agora sem o Velho é que vão começar os verdadeiros problemas''...