Luanda - Digno, confiante, assim surgiu Rafael Marques à entrada do palácio Ana Joaquina onde ia ser julgado. Vestia uma camisa com tons castanhos, cor da terra angolana. Mariano Brás, o outro arguido, envergava um tom encarnado, cor do sangue derramado pelos angolanos.

Fonte: Club-k.net


Ambos foram submetidos a julgamento em virtude de queixa do Procurador-Geral da República cessante. Contudo, este, cobarde, escondeu-se por detrás do antigo Presidente da República José Eduardo dos Santos.

A acusação principal que recai sobre Rafael Marques e Mariano Brás é a de Ultraje ao Presidente da República, nos termos do artigo 25.o da Lei dos Crimes contra a Segurança do Estado. José Eduardo dos Santos já não é Presidente da República, por isso, é muito duvidoso que o julgamento devesse continuar com essa acusação.

Contudo, esse não é o ponto principal. Não vamos falar de Direito.


Os factos descritos por Rafael Marques são verdadeiros e documentalmente comprovados.


O que está em julgamento não são factos, nem normas jurídicas, nem a sua aplicação.


O que está em julgamento é a opinião sobre factos.

O que está em julgamento é a liberdade de expressão em Angola.

O que está em julgamento é o direito a falar livremente em Angola, em denunciar aqueles que levaram o país à pobreza, aqueles que tornaram Angola um dos países mais atrasados do mundo.


Hoje a Procuradoria informa o país sobre um escândalo de 500 milhões de dólares desviados para Londres pelo ex-Presidente e sua família. E é essa mesma Procuradoria que quer julgar Rafael Marques por ter denunciado esse Presidente ladrão?
Rafael Marques não está a ser julgado.


Este julgamento é o julgamento do povo insatisfeito com o regime, é o julgamento daqueles que pensam livremente. Não interessa o que dizem os livros de leis, não interessa o que proclamam as personagens de beca. São actores de um teatro absurdo.


Interessa o que o povo diz. Não vamos repetir o dito de Fidel Castro quando estava a ser julgado pela ditadura de Batista, segundo o qual a História o absolveria. É evidente que isso acontecerá neste julgamento, porque a História é escrita pelos vencedores e Rafael Marques vencerá.


A absolvição de Rafael Marques e Mariano Brás resulta da verdade dos factos apresentados e da vontade do povo. A justiça é administrada em nome do povo, e o povo já absolveu Rafael.


O povo quer liberdade de expressão. O povo quer progresso. O povo quer o fim dos julgamentos políticos.