Luanda - No último debate do Estado da Nação da MFM 91.7 em que participei, não resisti a tentação da apresentar as pistas da origem da revolução angolana que deu lugar a independência da República em 1975 e em como esse movimento foi pervertido com o triunfo de uma classe social que pode ser identificada com o MOVIMENTO DO LUMPENATO. A dialéctica das revoluções sociais e da luta de classes nos países que abraçaram os ideais comunistas faz saber a existência de dois movimentos. O Movimento Revolucionário, de cariz nacionalista e, por vezes, patriótico e o Movimento do Lumpenato, que actua a margem dos compromissos e da ética da inclusão dos interesses. Este é normalmente confundido com aquele travestindo os seus ideais antes de conquistar o poder. Em Cuba e na Rússia, triunfou o movimento revolucionário com Fidel Castro e V. I. Lenine. Os países abraçaram o comunismo e o projecto social, ainda que falido, ajudou a criar uma identidade nacional nos interesses defendidos pelas elites políticas.

Fonte: Club-k.net

Em Angola e em Moçambique, a luta de classe deu lugar ao triunfo do Movimento do Lumpenato. Tanto em Angola como em Moçambique este movimento triunfou sobre os pioneiros dos movimentos de libertação (No MPLA foram Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz e muitos outros), levando-os a abandonar a luta pela independência da República e pela afirmação de um Estado. Assim desapareceu o movimento impulsionador de um nacionalismo e patriotismo que tinham a inocente e pura ideia de devolução da soberania ao povo. Em Angola o Movimento do Lumpenato, afirmou-se com o, assim conhecido, como líder fundador, António Agostinho Neto e mostrou a sua força com o 27 de Maio promovendo a eliminação dos nacionalistas. O Movimento do Lumpenato abraçou a melhor via para a sua acomodação: o Comunismo. Por meio do qual os seus membros e simpatizantes podiam servir-se do Estado sem qualquer ideia de contribuição a formação da riqueza colectiva através do trabalho honesto e industrioso.

Não é difícil perceber como o Movimento do Lumpenato se formou sob a capa de Movimento Nacionalista que abraçou a luta armada. Vários grupos imbuídos de consciência social perversa formaram esse amplo movimento que destruiu os ideais de uma Nação de todos. Trata-se de gente que resistiu ao trabalho honesto ao tempo da colonização e preferiu fugir para as matas, de criminosos foragidos das autoridades portuguesas, de portuguesas na colónia que pretendiam cortar as relações de governação com a metrópole para continuar uma colonização do tipo apartheid. Estes grupos com motivações não nacionalistas e antipatrióticos envolveram-se na luta engrossando as fileiras dos movimentos armados dos três movimentos de libertação: FNLA, MPLA e UNITA.

Se o movimento nacionalista tem marcada consciência entre os negros assimilados, já entre os autóctones com estatuto de indígenas essa consciência era nula, inexistente. O que deu espaço para que um movimento multiforme, com é o do Lumpenato, assaltasse o amplo movimento de angolanos que resistiam a colonização ao longo da luta armada.

O Movimento do Lumpenato desenvolveu uma ética própria com a qual passou a formatar a consciência colectiva desde 1975: a ÉTICA DO LUMPENATO. Essa ética impôs-se a consciência totalitarista através do partido-Estado que por sua vez desencadeou a corrupção e todos os vícios de governação que caracterizam o MPLA enquanto partido no poder. É esta ética que resiste ao império do Estado de Direito e Democrático cujos pilares formais foram lançados desde 1992 e que considera normal o açambarcamento do erário público.

A ética do Lumpenato usa o Direito para a defesa dos interesses do grupo e a força para agressão dos interesses alheios. Preserva o interesse próprio em prejuízo do outro. Não age com superioridade moral diante da fraqueza do adversário. Usa da brutalidade e da irracionalidade. Teatraliza a realidade em prejuízo do bom senso e mascara os factos para apresentar a sua versão de consciência social.

Essa ética amordaçou completamente o Estado colocando-o a mercê do grupo que publicita os seus princípios através dos actos de improbidade pública. É uma ética contagiosa que vai alastrando os seus tentáculos na nova geração de políticos. Situação e oposição. E vai impondo um novo modelo evolutivo ao longo da sua vigência: A ÉTICA DO NEOLUMPENATO. Esta, que vai formando a consciência da juventude refractária ao trabalho honesto e ao esforço pelo sucesso. De uma maneira geral seduziu a sociedade e normalizou a ideia de que assumir cargos públicos para fazer uso do erário público é uma missão de qualquer cidadão. Desvalorizou o trabalho honesto e aniquilou a consciência da pureza moral, da honestidade e da pontualidade inviabilizando o trabalho suado e honesto, tal como a Bíblia Sagrada recomenda. Extinguiu a identidade cultural augurada com o fim da colonização, assimilando as autoridades tradicionais na estrutura do Estado e eliminando a importância das línguas nacionais e a pesquiza da história remota dos angolanos como meio de resgate da consciência nacional. E promoveu uma cultura ecléctica de relevância criminosa favorecendo a hegemonia das “gangues políticas”.

O surgimento do movimento pela liderança de JLO no partido, não é mais do que a evolução desse movimento que considera necessário manter a confusão entre os interesses público e partidário fielmente mantido pelo JES ao longo de mais de 38 anos no poder. Portanto, a luta que se impõe e que separa CIDADÃOS e MILITANTES é na verdade uma luta que denuncia o antigo conflito entre os grupos do movimento nacionalista e patriótico e os grupos do movimento do Lumpenato que assumiram o controlo do Estado e moldaram a sociedade de forma perversa com valores de uma moralidade atípica e de feição desumana.

É portanto, uma luta entre democratas e totalitaristas, em que estes teimam em manter a afirmação de um modelo social confuso e perverso que relega deliberadamente as populações a pobreza extrema e preserva os criminosos que tomaram como seus o património colectivo. Totalitaristas que abraçaram um vandalismo de Estado, a que o Cientista Político Nelson Pestana “Bonavena” tipifica como ESTADO CRIMINOSO e que em nada se identifica com um Estado de Direito e Democrático. Pois é, perfeitamente normal para a ética do Lumpenato que as normas e os compromissos sociais não sejam considerados entre os seus princípios. Eis a essência do movimento de libertação nacional que triunfou em 1975.

Não é por acaso que não será fácil demover os arautos do TOTALITARISMO de Estado empolgados pela oportunidade que se vislumbrou no seio do partido no poder de poder afastar JES e restaurar o mesmo formato de liderança que sacrificou os angolanos ao longo de cerca de três décadas. Estão completamente moldados pela ética do Lumpenato que está longe de considerar o respeito pelo contrato social que consagra os valores de um Estado de Direito e Democrático e, assim moldados, se sentem repletos de razão para encaminhar o novo líder ao caminho da gestão danosa materializando o desejo vicioso de açambarcar o erário público.

A exacerbação dessa ética, nos tempos que correm, é o prenúncio da falência do Estado e o derradeiro teste a todos, e raros, angolanos honestos que não se deixaram seduzir pelos seus princípios. E os sinais são evidentes. A crise social, económica, cultural e política bem como a falta de capacidade para se abordar os problemas colectivos fora dos seus princípios. Daí ser justa a incredulidade sobre dias melhores com as reformas iniciadas pela nova governação, uma vez que não é razoável que uma ética assumida com convicção e que faz parte da natureza ideológica dos grupos que controlam o poder promova mudanças profundas na forma de liderar a vontade colectiva dos angolanos. A esperança para reverter o quadro depende da resposta a uma questão simples: Quantos são os angolanos que estão fora dos padrões da ÉTICA DO LUMPENATO?

 

Bem-haja Professora Fernanda Dias Monteiro, contamos consigo!