Luanda - Na semana em que Angola celebrou 16 anos desde o acordo de paz em 2002, o Angola Fala Só teve como convidado Raúl Danda, vice-presidente da UNITA, para quem a paz "não se pode traduzir apenas com o calar das armas".

Fonte: VOA

"Vamos ter reconciliação no país quando nos aceitarmos como irmãos filhos da mesma pátria", afirmou Raúl Danda, explicando que em Angola, "para as coisas más somos todos irmãos, para as coisas boas já não".

 

Quando questionado sobre a questão de Cabinda, Raúl Danda não poupou críticas ao MPLA: "O MPLA diz que é preciso dialogar, mas como santos da casa não fazem milagres, o próprio MPLA não faz isso".

O vice-presidente da UNITA e natural de Cabinda acusou os "irmãos do MPLA" de preferirem "priorizar as Kalashnikov" no que toca à forma como Cabinda é governada.

"Se estamos a dizer que há paz em todo o país, então o MPLA não está a considerar Cabinda Angola. Precisamos de um governo que olhe para Cabinda e diga - são nossos irmãos - e nos tratem como tal", respondeu Danda a um dos ouvintes.

O nosso convidado disse que "os cabindas têm razão quando dizem que não sentem a paz e que o governo tem que resolver o problema de Cabinda, seja a solução independência, autonomia, ou outra, mas é preciso encontrar uma solução"

"Reconciliação não existir enquanto continuarmos a ouvir que estamos juntos mas não estamos misturados".

Eleições não foram nem livres, nem justas

Para o ouvinte Paulo Chitunda, que entrou em contacto no Angola Fala Só, a partir do Moxico, as eleições de Agosto de 2017 não melhoraram em nada o país. Chitunda pediu ainda que a UNITA "defenda bem as autarquias na Assembleia Nacional". "Queremos as autarquias de Cabo Verde, não queremos as de Moçambique", rematou Chitunda. O vice-presidente da UNITA ripostou que essas "eleições de Agosto de 2017 não foram nem livres, nem justas, mas atabalhoadas", lembrando que o seu partido teve que "engolir alguns sapos".

Gradualismo, um debate com muitas posições divergentes

Ainda sobre as eleições, Danda defendeu que a UNITA "desde a sua fundação pugnava pela democracia e o MPLA pelo socialismo", pelo que o partido agora liderado por Isaías Samakuva tem "a grata honra" de ter "imposto a democracia em Angola".

Raúl Danda é contra o tão discutido "gradualismo" que supõe que as eleições autárquicas priorizem determinados municípios, que tenham condições para tal.

Danda considera que o gradualismo gera desigualdade e que o "Estado tem que ajudar todos os municípios e não discriminar".

Precisamos de ver se o Presidente João Lourenço tem pernas para correr para combater a corrupção"
"O governo já foi a vários sítios, Cabo Verde, Moçambique, Portugal. Já se gastou muito dinheiro. Não é problema de experiência, é problema de vontade política”.

“O que o MPLA tem estado a fazer é procurar uma desculpa para não fazer”, acusou o político.

Quando um ouvinte questionou quando é que “a UNITA vai ser oposição e deixar de aplaudir João Lourenço”, Danda negou tal afirmação justificando que num “primeiro momento UNITA deu o benefício da dúvida”: “Precisamos de ver se o Presidente João Lourenço tem pernas para correr para combater a corrupção”.

Sobre os ex militares, um tema que os ouvintes e internautas do Angola Fala Só colocam sempre em cima da mesa, o também deputado da UNITA disse que o seu partido tem feito de tudo para resolver o problema, fez várias propostas entregues ao Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas e que faltava apenas a assinatura do então Presidente José Eduardo dos Santos.

Raúl Danda não quis comentar o caso que envolve o general Sachipengo Nunda, dizendo apenas que quer que “haja justiça funcional”.

De voz profunda e emocionada, Danda comentou o passamento físico de Jaka Jamba: “A morte dele dói a qualquer angolano, quer seja da UNITA, quer seja do MPLA. Foi-se embora um grande patriota”.