Luanda - O jornalista e activista angolano Sedrick de Carvalho manifestou dúvidas quanto a uma abertura política e combate à corrupção por parte do Governo do Presidente João Lourenço.

Fonte: VOA

Ao participar no programa “Angola Fala Só”, desta sexta-feira, 13, o activista (que foi um dos acusados no chamado processo dos 15+2), disse que a nível da informação há uma “aparente” abertura nos órgãos de informação estatais.

Para ele, reflecte-se no facto desses media estatais passarem agora reportagens sobre as más condições sociais em bairros de Luanda e em diversas zonas do país.

“Não é feita crítica a quem é responsável”, lamentou, acrescentando que "não vai haver”.

Sedrick de Carvalho afirmou que “entrevistas já foram censuradas” e alertou que recentemente o jurista Albano Pedro tinha reclamado por ter visto as suas afirmações deturpadas.

Durante o programa e em resposta a um outro ouvinte o activista disse haver algumas “concessões” no que diz respeito à liberdade de reunião mas fez notar que as autoridades continuam a reprimir essa liberdade.

Ele deu como exemplo uma recente manifestação em Malanje contra o governador Norberto dos Santos que acabou com diversas prisões e condenações em tribunal algo que, segundo disse, viola a Constituição.

“As leis não são do Governo, as lei aplicam-se ao Governo”, sublinhou.

Carvalho manifestou também dúvidas sobre a luta contra a corrupção, nomeadamente quanto à possibilidade de haver processos em tribunal contra figuras importantes do MPLA.

Para o jornalista e activista, a lei sobre repatriamento de capitais não passa de uma “operação de charme”.

Sedrik de Carvalho saudou o Sindicato dos Professores como uma organização que “o regime não conseguiu cooptar”.

Oposição não aproveita

Para ele, a greve dos professores “é o resultado de um processo de longa data a que o Governo não conseguiu dar resposta”.

Interrogado por um ouvinte sobre a oposição angolana, o activista afirmou que os partidos oficiais da oposição “não têm sabido aproveitar os espaços criados pela sociedade civil”.

“A oposição faz pouco ou nada”, afirmou, acusando ainda aqueles partidos de não respeitarem a sua própria democracia interna.

Sedrick de Carvalho referiu-se ainda durante o programa ao processo dos 15+2 em que ele e outros 16 réus foram acusados de tentativa de golpe de Estado.

“Sinto-me tranquilo em termos de consciência, pois provou-se que estivemos do lado certo”, afirmou, reconhecendo haver consequências para alguns dos activistas que não recuperaram os seus empregos.

“Há ainda um rasto de perseguições”, afirmou.

Sedrik de Carvalho abordou também a publicação de um livro sobre Cabinda que ele organizou e no qual sete outros diferentes autores escreveram sobre diversos aspectos do problema sobre o futuro da província.

O jornalista disse que o que o levou a avançar com a ideia do livro foi o facto de existir “um silêncio no resto de Angola” sobre a situação e no enclave.

A juventude está principalmente desinteressada do problema e em Angola Cabinda só “ganha relevância em época eleitoral”.

Para Sedrick de Carvalho, de entre as três opções para Cabinda, - manutenção de estatuto como parte de Angola, autonomia ou independência - ele disse preferir a autonomia como “a que me parece mais viável”.

“Um referendo é que pode resolver tudo isso”, concluiu.

O livro é titulado "Cabinda - Um território em disputa" com oito capítulos, cada um por um autor diferente.