Luanda - Maio é um mês que nos é muito caro. O 27 de Maio de 1977, no seu estrondoso silêncio, continua a espera que determinada geração venha dar explicações às gerações mais novas do que realmente aconteceu e porque aconteceu? Não é justo, não é cívico, não é patriótico, tão pouco responsável que determinada geração se remeta ao sepulcral silêncio sobre os acontecimentos de 27 de Maio.

Fonte: Facebook

A herança colonial do “xé menino não fala política” foi transposta para a Angola independente e “justificou” a formatação de mentes edificando pessoas quadradas, resignadas, medrosas, ressentidas, recalcadas! Há uma geração, que por força da justiça do tempo, se vai despedindo deste mundo sem escrever e sem nada dizer, o que é péssimo para a nossa história como país.


Por ocasião do Colóquio Internacional sobre 40º aniversário do 27 de Maio de 1977 na Universidade Nova de Lisboa, troquei impressões marcantes com imensa gente que viveu o momento, gente de “ambas Alas”, e ficou a dúvida de quem foi agressor e quem foi vítima. Imensas obras foram (e são) escritas e as reacções são sempre divergentes, o que é normal, com um senão, a história registará apenas quem der testemunho, escrito ou oral, sobre a sua visão e versão dos factos. Uma coisa é irrefutável: amigos de trincheira, camaradas e irmãos atingiram um ponto de irracionalidade tal que andaram a chacinar-se de forma vil e bárbara! Ao ponto os historiadores classificarem mesmo de barbárie o 27Maio77 (??).

 

Há imensas vítimas e lesados que até hoje não encontram consolo! Há imensos agressores que hoje vivem como se o passado não os perturbasse! Há perguntas por responder e/ou esclarecimentos por se fazerem: O silêncio é mesmo motivado pelo facto de a 9ª Brigada (feminina) ter destronado homens da cadeia do são Paulo? Os comandantes encontrados mortos numa ambulância de quem foram vítimas? Quem matou Nito Alves e Cª? Que disseram eles no leito da morte? Quiseram eles, realmente, fazer um golpe de Estado? Teve “Monstro Imortal” oportunidade de matar Neto e não o fez? Porquê as mortes se generalizaram pelo País inteiro? Há algum mal que os descendentes das vítimas tenham direito a uma certidão de óbito? Porque é que se disse que “não vamos perder tempo com julgamentos”? Porquê se deu aos mercenários, um ano antes, direito à julgamento e até com advogados estrangeiros e os “camaradas” foram brindados com um “não processo” e sem direito a defesa? Quem são as vítimas e quem foram os agressores afinal de contas?


Nós, Angola, temos todos a responsabilidade de olharmos com serenidade, seriedade e profundidade sobre o 27Maio77, analisá-lo, debatê-lo para que se possamos promover o perdão e se proceda a uma justiça restaurativa, expurgando os ressentimentos, sarando as feridas e recolocar a Pátria - que é de todos e deve ser inclusiva - acima de qualquer interesse. É preciso que o agressor reconheça o seu erro e/ou excesso (aliás Iko Carreira foi peremptório numa das últimas entrevistas que dera a um jornal luso) de zelo e a vítima compreendendo ou aceitando o contexto ofereça o seu perdão ao agressor. Existem vários modelos de JUSTIÇA RESTAURATIVA (veja-se o modelo Sul Africano, Ruandês, Arménio entre outros…), podemos escolher um deles ou construir o nosso próprio (Mabeko Thali em entrevista a um grande jornal nacional deixou pistas…).

A única coisa que não podemos fazer é viver como se esta página não existisse na história do nosso jovem País. Desafio os protagonistas do 27Maio77 e conexos que se inicie nesta data este caminho de justiça restaurativa e perdão para que nunca mais se repita um 27.5.77. Para que a única forma de combater um irmão seja pelos meios democráticos, para que por mais repugnante e vil que seja o acto a ninguém seja negado o direito a um processo justo e equitativo! Sou pela justiça restaurativa! Eu APOIO ESTA IDEIA 27Maio77.