Luanda - Muitas são as razões que fazem o nosso país retroceder, retrair, e minguar economicamente. E muitas dessas razões tornaram-se, lamentavelmente, a nossa maneira de estar e de ser, nossa triste realidade. O título supracitado pode até parecer metáfora, mas é infelizmente por si só, a verdade toda.


Fonte: Radioangola

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Entre os grandes causadores deste dilema, estão os titulares de cargos públicos em Angola, que ainda não aprenderam que ser titular de um cargo público implica tão somente ser servidor do povo. Ou seja, o titular do cargo público é um servo da nação na prossecução dos objectivos que visam o bem estar da população.


Mas é de facto lamentável quando se vê recorrentemente esses “chefes” a usarem de uma tal arrogância, e pensam que não podem mais ouvir de ninguém propostas e contribuições construtivas de pacatos cidadãos ordinários. Querem governar sozinhos como se fossem detentores de todas as soluções para Angola. Esquecem-se que aqui o lema é governar não somente para o povo, pelo povo, mas também com o povo.


E é com o povo que esses lobos, sanguessugas e devoradores do erário público usam de tamanha arrogância “técnica”, bloqueando todas as boas ideias, propostas ou soluções pragmáticas que se lhes é trazida. A maior parte deles nem sequer ainda se dão o mérito de ouvir as tais propostas, mas quando o cidadão singular lhes quer consultar as respostas mais comuns são: “não tenho tempo; fale com minha secretária; vais ter com a secretária e ela te diz para escrever uma carta; escreves a carta, levas um tempão para teres a resposta, e o pior é que perdes a esperança porque a tal resposta nunca vai chegar, etc”. Às vezes fingem que te ouviram e depois esquecem que te conhecem e nunca mais querem ouvir falar de ti, e toda a “história” morre mesmo aí. E assim vai morrendo o país, assim se vai desvanecendo a nossa esperança já moribunda.


Lamentavelmente, é essa a nossa realidade social, sendo que o mais triste é eles terem assumido esta identidade vergonhosa.


Como pode o titular de cargo público gerir ou governar, numa altura de crise económica, em que o país mais precisa de se abrir a novas ideias e contributo, sem que este saiba ouvir, ou auscultar? Se não há escuta não há percepção daquilo que é a vontade popular, ou os reais problemas da nação.


O nosso país teve inúmeras chances de conseguir se firmar nos mais altos patamares do crescimento e desenvolvimento económico, tivemos inúmeras chances de granjear louros a nível dos vários mercados internacionais, tudo isso teria sido possível e teria acelerado o processo de criação de riquezas, se tão somente tivéssemos usado de parcimónia no tratamento do bem público, mas tal não aconteceu por causa dessa tal “Arrogância técnica” a que sempre fomos submetidos a suportar. E Angola perdeu a confiança e os ratings internacionais são, em certa medida, desfavoráveis ao nosso país.


E quando, ao fazermos uma retrospectiva sobre tudo que perdemos como oportunidades de investimentos importantes, que só não foram concretizadas por culpa de uma meia dúzia de pessoas… lembramos com tristeza a triste realidade, que havia se tornado identidade entre os nossos dirigentes, a lei dos 10%, dos 30%. A lei dos…: “Se quiseres investir em Angola, tens que primeiro trabalhar para mim ou te associares à minha empresa”. Resultado, a arrogância técnica dos “chefes” que impedem e afugentam os investimentos externos. Mas quem é que não sabe que essas cenas aconteceram no país chamado Angola!?


É triste dizer, mas é muito mais fácil conseguir uma audiência fora de Angola, ou seja em outros países, e diga-se de passagem, com pessoas importantes que também são titulares de cargos públicos, do que em Angola. Pois em Angola a realidade é que os “chefes só concedem audiência… (e muitas vezes não precisam até conceder audiência), basta que ele saiba que se trata de um endinheirado, um famoso ou uma celebridade, um rico, aí as portas se abrem, e os sorrisos e risos são até conseguires ver o último dente do fundo. Hipocrisia. Mas será que o gestor público só o é para ricos?


E mais lamentável ainda, tal como narra a obra literária “O Peixe que não quis evoluir”, é vê-los insistir e persistir no mesmo mau hábito, sem pretensões nenhumas de mudarem as suas naturezas, e teimam em não compreender que neste mundo de mudanças constantes, evoluir não é uma opção, é uma obrigação para se sobreviver, porém, continuam embriagados pela abundância de hoje, não sabem ver a necessidade da mudança, da evolução, para continuarem a existir amanhã; sai mal, vem mal, estes continuam a nos deixar heranças de renovados maus hábitos, sendo que há cada vez mais chefes e empregados que, apesar de verem as novas exigências e tendências que será necessário no futuro imediato, não assumem a evolução “positiva” como necessidade profissional eminente.


Entre as instituições que usam de arrogância técnica estão as nossas embaixadas. Estes são outros “travadores” do nosso crescimento e desenvolvimento, não mais por causa dos vistos, sendo que estes já foram liberados, mas sobretudo por causa da incompetência sistematizada relativamente à Inteligência Económica, falta de políticas fiáveis e viáveis na captação de investimento estrangeiro para o nosso país. Estes, ao invés de servirem de porta de entrada, são portas fechadas pelos quais os investidores nem sequer conseguem marcar os primeiros passos. Mais, temos também a questão do péssimo atendimento do pessoal em serviços nessas instituições, o que também se enquadra na arrogância técnica.


Enfim, esta é a maka dos nossos gestores públicos, nossos “chefes”, nossos servos aos quais, afinal de contas, nós é que temos que servir, quando de facto devia ser o contrário. Esta é a maka da “Arrogância técnica” dos nossos titulares de cargos públicos.


Obviamente, sem desprimor aos demais, creio eu que há aqueles que estão completamente imbuídos de espírito de dever e de servirem o país sem arrogância, que estão verdadeiramente comprometidos pela causa angolana. À esses, eu saúdo com vénia.


Pelo crescimento e desenvolvimento socio-económico, abaixo os “arrogantes técnicos”.