Luanda - "As Voltas do Passado: a guerra colonial e as lutas de libertação" é o título do livro que foi apresentado hoje em Cabo Verde e que resgata memórias da guerra que mudou Portugal e levou cinco colónias portuguesa à independência.

Fonte: Lusa

O livro é uma organização conjunta do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Fundação Amílcar Cabral, Universidade de Cabo Verde e o Instituto de Pedro Pires para a Liderança.

Organizada pelos investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, a obra é uma compilação de 47 artigos sobre "eventos marcantes" da fase final do colonialismo português, escritos por 51 autores de diferentes países e áreas de conhecimento.

De entre os eventos selecionados figuram, por exemplo, a Criação das Forças Armadas de Cabo Verde em Cuba, o Início das Emissões da Rádio Libertação do PAIGC, o Assassinato de Amílcar Cabral, a Libertação dos Presos Políticos do Campo do Tarrafal e a Independência.

Constam ainda eventos como o Massacre de Pidjiguiti, o Assalto ao Quartel de Tite, que marca o início da luta armada na Guiné-Bissau, o Discurso de Salazar: Para Angola, rapidamente e em força, datado de 1961, a Fuga dos 100, o Massacre do Batepá, a Criação do Movimento das Forças Armadas ou a morte de Josina Machel.

Em declarações à agência Lusa, o professor e investigador Bruno Sena Martins disse que os eventos são trazidos não só no seu registo histórico e factual, mas também procuram recordar como é que foram tratados nas diferentes sociedades ao logo do tempo, até hoje.

Bruno Martins disse que o livro vem dar três contribuições, nomeadamente a inscrição da guerra colonial enquanto evento marcante da violência colonial portuguesa e europeia, mostrar que as sociedades nasceram ligadas ao período de guerra e de libertação e pensar que as guerras fazem muitos silenciamentos e esquecimentos e que raramente as memórias dos diferentes países entram em diálogo.

"Este livro, ao trazer todos esses olhares, dos diferentes autores e dos diferentes países, procura criar um espaço em que essas memórias possam conversar e também fazer um pouco de fuga ao silenciamento que decorre da distância das memórias", frisou o investigador.

Bruno Martins disse ainda que "é possível" acrescentar datas e eventos num segundo volume, já que ainda existem muitas outras memórias, histórias e datas sobre a guerra colonial e a luta de libertação de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e S. Tomé e Príncipe.

O presidente do Instituo Pedro Pires para a Liderança destacou a "obra coletiva" e um trabalho "bastante útil" com muitos acontecimentos importantes e determinantes do combate de libertação nacional, o qual também fez parte.

Pedro Pires disse que a obra vai permitir entender diversos factos, passos e momentos importantes, mas que podem ser complementados com mais informações.

É neste sentido que apelou a mais investigações para se evitar esquecimentos e fazer uma "leitura presente" da história.

O livro enquadra-se no projeto Memórias Cruzadas, Políticas do Silêncio (CROME), financiado pelo Conselho da Europa para Investigação, que tem por objetivo fazer a história da memória da guerra colonial e das lutas de libertação, a partir de uma abordagem comparada.

Depois de Coimbra, Cabo Verde é o segundo país onde o livro é apresentado, com Bruno Martins a garantir que será lançado nos outros países africanos de língua portuguesa.