Luanda - Chefe de Brigada, Inocêncio Felizardo dos Santos, tratado por Papá Enoque pelos mais próximos, é o agente do Serviço de Investigação Criminal de Luanda que aparece no vídeo a executar o suposto marginal, que na verdade era informante do SIC, com vários tiros, um dos quais em direcção à cabeça, tudo para não desvendar os 14 milhões de kwanzas recuperados por aqueles agentes e que simplesmente não foi apresentado.

Fonte: O Crime

Papá Enoque, o homem da execução sumária

Inocêncio dos Santos, carrasco do jovem José Gaspar ‘Zé’, de 25 anos de idade, executado de forma fria e cruel, encontra-se preso nas masmorras do Comando Provincial de Luanda.


De acordo com fontes dignas de crédito, Papá Enoque, de aproximadamente 37 anos, visto por colegas como um agente destemido quando em causa estiverem operações semelhantes a que ocorreu no Benfica, nas imediações do antigo mercado do artesanato.


Daí que, acrescentam as mesmas fontes, o chefe de Brigada, há já vários anos no SIC, seja temido por marginais. “É um homem da linha da frente sempre que [fosse] necessário [...] aniquilar marginais”, resume um dos nossos interlocutores.


Braço direito de Fernando Manuel Bambi Receado, director do Serviço de Investigação Criminal de Luanda, Papá Enoque é, conforme vincam as fontes, membro do famoso Esquadrão da Morte.


Destacou-se entre os demais pela peripécia em cumprir mandados de captura ‘a solo’, acompanhado somente pela sua pistola, sem precisar, portanto, da companhia de colegas.


As fontes lembram que funcionou como uma espécie de ‘apaga fogo’ ou como ‘pau para toda obra’, tendo feito movimentações em função dos números da criminalidade. “Se no Cazenga o crime aumenta, ia para lá, se fosse em Viana ou no Cacuaco, acontecia o mesmo.


“Ele ia buscar quem quer que fosse. Ou seja, dos mais ao menos temíveis entre os marginas’’ sublinhou uma fonte, que por outro lado, acrescentou que Papá Enoque foi quem, por exemplo, esclareceu o caso de Beatriz, a jornalista morta por marginais.

Há quem diga que a saída de cena de Enoque possa dar lugar a um aumento dos índices de criminalidade, sendo certo que os marginais sabem agora que ele se encontra detido.


Tristes, alguns efectivos alegam que haverá da parte da sociedade uma espécie de ingratidão, conforme indicam as informações em posse deste jornal. “Ele esteve sempre disponível, até mesmo para dar a própria vida em defesa da sociedade, mas hoje, por um erro, é condenado e distratado”, lamentou.

Jovem executado tinha informação sobre roubo de 14 milhões de kwanzas


A execução sumária do jovem José Gaspar pode ter como pano de fundo o que uma fonte da própria Investigação Criminal chama de “queima de arquivo”, lembrando que se tratava de um informador do SIC infiltrado entre marginais, que terá sido assassinado para não revelar pormenores da recuperação de 14 milhões de kwanzas naquela operação.

Segundo a nossa fonte, Gaspar funcionava, ‘apesar de bandido’, directamente com Beto Kingila, chefe de investigação do município de Belas.


Naquele dia, o seu grupo teria roubado o montante em causa, conforme a informação que ele prestou a Beto Kingila, que mandou para o terreno vários agentes, entre os quais Inocêncio Felizardo dos Santos, o ´Papá Enoque´, líder da operação policial.


A missão do informante era de atrair os amigos para o local, na perspectiva de os ver a contas com os agentes, mas as coisas deram para o torto.


O que se diz é que, para além da viatura de marca Toyota Hilux recuperada, foi também resgatado 14 milhões de Kwanzas, valor até agora não revelado.


Vários agentes fixaram olhares no dinheiro recuperado, pelo que Gaspar tinha de ser o sacrificado para que a informação não saísse daquele circuito. Suspeita-se, pois, que a ordem para a execução tenha sido baixada por Beto Kingila, de quem não se conhece nenhum pronunciamento. Aliás, para lá do comunicado do MININT, não há posições oficiais.

Agentes do SIC procuram inocentar o colega

Inocêncio Felizardo dos Santos terá confessado à PGR que é ele quem aparece no vídeo a executar o jovem. Daí que os seus colegas, tal como apurámos, estejam à procura de mecanismos para tentar inocentá-lo ou atenuar a pena.

 

A orientação, segundo informações disponíveis, é de Fernando Manuel Bambi Receado, director do Serviço de Investigação Criminal de Luanda. Os agentes levarão à justiça um colega identificado apenas por Nenito, portador de deficiência num dos olhos, que deverá assumir em tribunal, enquanto declarante, que o seu problema foi causado pelo marginal executado, a quem imputará ainda o assassinato de um policial.

 

“Tudo isso é mentira. O Nenito foi alvejado há dois anos, numa troca de tiros com um grupo de marginais nas imediações do Estádio 11 de Novembro. Feriram o Nenito e mataram o outro colega, mas o grupo não tem nada a ver com o deste bandido morto”, denuncia a nossa fonte.


Naquele ano, acrescenta a fonte, os referidos marginais, num grupo de 4, foram mortos por efectivos do SIC-Luanda – liderados justamente pelo próprio Papá Enoque. “Os bandidos que feriram o Nenito e mataram o nosso colega foram mortos na mesma noite”, revela.

“Papá Enoque era burro”

Entre efectivos do SIC-Luanda, Papá Enoque é visto como um ‘agente burro’, que cumpre todas as missões que lhe são orientadas pelos chefes sem questionar. “Ele matava muito, atendia a todos os pedidos sem questionar”, sublinha a fonte, acrescentando que o Papá Enoque, semi-iletrado, ‘só sabe matar, ele é bom nisso, não analisa os riscos’.


Este jornal promete, para as próximas edições, trazer estes e outros casos de envolvimento dos efectivos do SIC em acções criminosas e o seu enriquecimento.