Lisboa - O nacionalista e jornalista angolano Adolfo Rodrigues Maria, viu concluído na manhã desta quarta-feira, 8 de Agosto, nas instalações do Consulado-Geral de Angola em Lisboa, o processo de renovação do seu passaporte. A entrega formal foi feita durante uma audiência concedida por Narciso do Espírito Santo Júnior, Cônsul-Geral de Angola em Lisboa.

Fonte: Vivências Press News

Há 20 anos que o regime de JES  não lhe  queria dar o documento

Visivelmente emocionado, Adolfo Maria de 82 anos de idade (completa 83 no próximo mês de Outubro), agradeceu todo o “empenho, apoio e dedicação ” do Consulado-Geral de Angola em Lisboa na resolução de um caso que data do ano de 2010.

 

“Acho que foi corrigida uma injustiça. Acabou-se uma mágoa para mim e sobretudo foi reconhecida a minha cidadania, foi reconhecida a minha contribuição para a independência de Angola. Estou grato ao Dr. Narciso do Espírito Santo Júnior, porque de facto houve da sua parte uma atenção especial. Acho que foi o reconhecimento de que havia uma situação a corrigir e que me era devido este passaporte, que demorou tanto tempo a ser renovado”, disse o nacionalista no momento em que recebia o documento.


Questionado sobre como encarou cerca de oito anos de diligências para a renovação do seu passaporte, Adolfo Maria recorda o desenrolar de um longo processo.

“Eu não reclamava nenhum estatuto especial, reclamava apenas que como cidadão nacional me fosse renovado o passaporte. Nunca entendi porque demorou tanto tempo. Foi um longo combate e que graças a intervenção de pessoas como o Armindo Laureano, depois houve da parte do Consulado-Geral um empenhamento que resultou nisso. Além de que tenho de agradecer a solidariedade de amigos em Luanda que inclusive fizeram chegar o meu caso ao Presidente João Lourenço.”, afirmou.


Narciso do Espírito Júnior elogiou a postura, paciência e atitude de Adolfo Maria durante o período de oito anos que requereu a renovação do seu passaporte.

” Em nome do Consulado-Geral de Angola em Lisboa e em meu nome, devo-lhe um singelo pedido de desculpas pelos transtornos que uma situação meramente administrativa e burocrática lhe tenha causado ao longo deste período de tempo. Adolfo Maria é uma figura com relevantes serviços prestados à nação angolana, em particular no processo de consolidação da independência e da afirmação da identidade nacional. Queremos com este gesto formal demonstrar um compromisso de apoio, assistência e cooperação com a nossa comunidade. Obrigado pela sua compreensão.”, afirmou o Cônsul-Geral de Angola em Lisboa.
Revisão do processo

Adolfo Maria teve o seu primeiro passaporte emitido no ano de 1991 na Embaixada de Angola em Lisboa por orientação do então Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos.

“Depois dos acordos de Bicesse em Maio de 1991, Gentil Viana e eu fomos convidados pelo Presidente José Eduardo dos Santos a visitar Angola. Os nossos passaportes foram emitidos na Embaixada de Angola e entregues pessoalmente pelo o então embaixador Ruy Mingas. Em Luanda fomos recebidos por José Eduardo dos Santos na sua residência oficial no Futungo de Belas. O meu passaporte caducou em 1996 e só em 2010 decidi iniciar o processo de renovação”, disse a Vivências Press News.


Em Junho de 2017, por diligências de um amigo, o jornalista e escritor angolano, Armindo Laureano, voltou ao Consulado -Geral de Angola em Lisboa, onde esteve em contacto com o Cônsul Narciso do Espírito Júnior ( que está no exercício de funções desde Junho de 2016), que orientou a revisão do processo e celeridade no tratamento de um processo que na altura já se arrastava há sete anos .

“Obviamente que me lembro deste dia em que o amigo Laureano me levou até ao Consulado . Naquele dia fui apresentado ao Cônsul Narciso do Espírito Santo Júnior, que estava acompanhado de Luís Filipe Galiano, que era na altura o cônsul de Angola em Faro e também de Domingos Vieira Lopes, na altura era o cônsul do Porto [hoje Secretário de Estado das Comunidades], naquele preciso momento orientou um membro do seu staff para dar tratamento ao meu caso. Senti naquele momento que havia uma luz no fundo do túnel.”


Também ouvimos a opinião de Armindo Laureano sobre o caso de Adolfo Maria.

“Penso que este dia e este momento são importantes para Adolfo Maria que durante estes anos passou por vários transtornos e é também para todos os funcionários da Missão Consular de Angola em Lisboa que se empenharam arduamente. Já cheguei a ler e ouvir falar de censura política, ausência de democracia e até que o Adolfo Maria estava numa situação de apártida, o que acho um exagero. A minha intervenção neste processo foi sempre como amigo do Adolfo Maria e quando tive acesso ao processo, percebi logo que se tratavam de problemas de divergências na interpretação legal do processo e de falhas de comunicação institucional. Nunca foi problema de índole política, uma vez que em 1991 já lhe havia sido emitido um passaporte por orientação expressa da mesma pessoa que em 2010 ainda exercia o mesmo cargo . Então o Presidente José Eduardo dos Santos ia autorizar a emissão de um passaporte em 1991 e em 2010 iria proibir a sua renovação? Não fazia sentido. Bem como foi completamente desnecessária a tentativa de politização deste caso. Bom foi que hoje teve um final feliz”, reafirmou.


Adolfo Rodrigues Maria, nasceu no bairro do Maculusso em Luanda, no dia 02 de Outubro de 1935. Foi expulso de Angola em 1979 , passando a viver no bairro de Telheiras em Portugal. É actualmente jornalista e escritor.