Alemanha  - Zeca Semente Schall é um político negro do partido CDU que esta a fazer manchetes na Alemanha, onde está radicado desde 1988, ido de Angola. É que um dos partidos neo-nazistas do também seu país por opção emitiu vários comunicados a insistir que ele devia regressar para a sua terra de origem, e que a sua função na CDU deveria ser transferida para um alemão puro. Nascido em 1963, na Conda, perto do Sumbe, fez os seus estudos primários no Lubango.

Fui o responsável do núcleo da JMPLA

Em 1988, depois de concluir o ensino médio, foi para a Alemanha, onde, além de um novo curso médio de Mecânica, concluiu o ensino superior. Casou-se, entretanto, em 1990, com uma senhora alemã, de quem adoptou o sobrenome, por imposição legal do país europeu. Já divorciado dela, entretanto, têm duas filhas.

Sempre a viver na mesma cidade, desde que se mudou para a Alemanha, no estado de Thuringia, é membro do governo local, por via da CDU, partido de que é responsável pelo departamento para a integração.

Sendo altura de eleições, está também a participar na campanha pelo seu partido. Mas, alguns dos adversários políticos da CDU não vêem com bons olhos o facto dele ser um alemão negro e ainda por cima originário de Angola. Daí as farpas que vão lançando contra si, baseadas precisamente nessa sua condição, a espelhar que, em se tratando de integração, alguns alemães continuam a ser os mesmos racistas de sempre. Os neonazistas. O Semanário Angolense teve uma pequena conversa com Zeca Semente Schall.


Semanário Angolense (SA) - Porque é que, de repente, todo mundo parece estar muito interessado em si?

Zeca Schall (ZC) - Estamos agora na campanha para as eleições. Sou membro do governo neste Estado (Thuringia), pelo que, é por isso que estou a participar na campanha. A minha participação na campanha irritou os nazistas. Eles dizem quedevo parar com o meu trabalho porque sou angolano. Na realidade, também sou alemão. Tenho a cidadania deste pais e sou político de um grande partido por cá. Como membro do governo deste estado, os nazistas não têm o direito de insistir que devo retirar-me pura e simplesmente da Alemanha. Muitos partidos democráticos, não só aqui, como em outras partes do mundo, condenaram esta atitude desse partido neonazista. A polícia está a levar as ameaças muito a sério. Tenho guarda-costas, que andam comigo na campanha e a minha casa esta também a ser guardada pelas forças da ordem. Não tenho medo deles…

SA - A sua integração na sociedade alemã foi fácil?

ZC - A pessoa quando é um pouco jovem adapta-se muito facilmente. Naquele tempo tínhamos cerca de vinte e dois anos e a adaptação foi fácil. Tenho dupla nacionalidade – e isto com o acordo do governo angolano. Os acordos que Agostinho Neto assinou com a antiga RDA estipulavam que os estudantes com famílias aqui podiam adquirir dupla nacionalidade. Fui um dos primeiros a ter dupla nacionalidade.

SA - Porque é que entraste na política?

ZC - Notei que aqui na Alemanha a política se faz num clima verdadeiramente democrático. Neste sistema, cada um tem direito à palavra e os direitos de todos, incluindo estrangeiros que pretendem viver cá, são arduamente defendidos. Conheci muitos políticos da CDU há muito tempo; muitos deles foram meus colegas na escola. E depois, sempre fui activo nas organizações cívicas – incluindo a igreja. A 1.ª ministra deste estado tem a política de facilitar a integração de todos os estrangeiros que estiverem a viver cá. Aqui a política é um processo muito limpo; é por isso que assumi o cargo que tenho. Há muita probabilidade de passar a ser o ministro para a Integração deste Estado alemão, a Thuringia.

SA - Fale-nos do processo de integração…

ZC - Isto implica aprender a cultura e a língua alemã, para facilitar o imigrante a procurar o seu próprio caminho e facilitar a vida da sua família.

SA - O ataque que foi feito contra si gerou muito interesse na imprensa internacional?

ZC – Isto mesmo. Muitos dos jornais aqui na Alemanha contactaram-me. Dei muitas entrevistas. Há propostas para que este partido seguidor dos ideais de Hitler que me está a ameaçar seja ilegalizado. O ataque que foi feito à minha pessoa é uma vergonha para a Alemanha. Os membros desse partido acreditam no Hitler e nas suas ideias. Eles gostariam de ver a Alemanha adoptar o nazismo, mas acredito que os partidos democráticos não vão admitir isto.

SA - Durante o tempo que estás na Alemanha já fostes vítima de racismo?

ZC - Sim. Há oito anos fui agredido quando tentava defender um amigo moçambicano que estava a ser atacado.

SA - Em Angola estavas envolvido na politica?

ZC - Fui o chefe da secção do desporto da JMPLA do comité provincial da Huíla. Quando vim para a Alemanha, fui o responsável do núcleo da JMPLA aqui na minha cidade. Saí do MPLA por considerar que é um partido que não acredita nos princípios da Democracia e ingressei-me na CDU, que é um dos maiores partidos da Europa.

SA - Qual é a ultima vez que estivestes em Angola?

Eu estive la no natal de 2006. Fui para o Sumbe, Namibe e Lubango. É muito provável que irei brevemente para Angola com uma delegação estatal da Thuringia que eu poderei dirigir. Espero visitar, então, todas as províncias. Há um acordo com o governo angolano que prevê a ajuda técnica alemã na exploração do petróleo. E é neste quadro que brevemente estarei em Angola.

SA - O que é que pensas sobre Angola?

ZC - O processo democrático em Angola não é perfeito. Quando for a Angola, vou estar com alguns dos dirigentes do país para lhes dizer que devem seguir, com sinceridade, os princípios democráticos. Tem de haver uma política para acabar com o sofrimento do povo angolano. Um país com tanta riqueza como Angola deveria garantir um melhor nível de vida para os seus cidadãos.

SA - Sonha um dia regressar definitivamente para Angola?

ZC – Não. Porque o sistema angolano, mesmo se for liderado por um outro partido, levará anos para ser endireitado. Poderei ir para Angola para ajudar em certos aspectos, mas nunca para voltar a me estabelecer porlá. Nunca.

-- Nota: Consulte --
* Últimos artigos/relacionados publicados: - Zeca Schall no Club-k

* Entrevista conduzida por Sousa Jamba
Fonte: SA