Turíngia - Zeca Schall, um membro do partido democrata-cristão da chanceler alemã, Angela Merkel, foi alvo de ameaças por parte do partido de extrema-direita NPD (Partido Nacional Democrata) no estado da Turíngia. Os extremistas dizem que a presença de Schall na Alemanha "não é desejável" e que ele deveria "voltar para casa".


Zeca Schall garante que continuará a fazer campanha

Schall vive na Alemanha desde 1988 e obteve a cidadania alemã em 2004. Esta não é a primeira vez que aparece num cartaz em altura de eleições, mas desta vez a sua presença no placard da CDU juntamente com o governador do estado, Dieter Althaus, que concorre à reeleição a 30 de Agosto, provocou a reacção do NPD. Por isso, o político de 45 anos acha que esta manobra do NPD teve como objectivo chamar a atenção para o partido em vésperas de eleições nacionais (27 de Setembro).

"Estes ataques surpreenderam-me porque já no início do ano havia cartazes meus espalhados em Hildburghausen, onde havia eleições distritais", disse Schall à estação de rádio e televisão Deutsche Welle. Schall é encarregado das questões de imigração e multiculturalismo da CDU no estado da Turíngia.

Mas agora, o partido lançou um comunicado dizendo que Schall preenche "a quota dos negros" na CDU e "já não é preciso" na Alemanha, pelo que deve "voltar para casa para Angola".

"Bom regresso a casa, Zeca!", dizia uma faixa colocada num miniautocarro do partido, que apelou ainda aos seus membros que procurassem falar pessoalmente com Schall para o "encorajarem" a regressar a Angola.

Schall disse ter ficado chocado com a acção do NPD. Agora, o político, que é também bombeiro, tem protecção policial 24 horas por dia e a sua casa está vigiada. Algo que agradece porque, segundo contou Schall à revista Der Spiegel, um carro do NPD com megafones já esteve ao pé de sua casa. "Mas a polícia mandou-os embora", contou.

Enquanto isso, as autoridades abriram uma investigação por ódio racial, difamação e coerção tentada, seguindo uma queixa da CDU. Os conservadores do estado apoiaram imediatamente Schall, dizendo que a acção do NPD foi "desumana" e "um atentado à dignidade".

O político garante que vai continuar a fazer campanha, apesar das ameaças, e diz que obviamente não deixará a Alemanha.

Zeca Schall chegou em 1988 à então República Democrática da Alemanha por via de um acordo entre a RDA e países comunistas como Angola e Cuba. Casou mais tarde com uma alemã da cidade de Hildburghausen, onde ainda hoje vive, conta a correspondente do jornal brasileiro Globo em Berlim, Graça Magalhães-Rüther. Zeca Schall, que tem dois filhos, diz que nunca se tinha deparado com qualquer comportamento hostil deste género na Alemanha.

"Na política não"

O líder do NPD em Erfurt, capital do estado da Turíngia, diz que esta não é "uma campanha contra o senhor Schall", segundo a estação de televisão norte-americana CNN. "Achamos simplesmente que há muitos cidadãos que não querem que estrangeiros tenham uma palavra a dizer na nossa política."

O NPD deverá ter cerca de 500 membros na Turíngia e 7 mil a nível nacional, e, segundo a agência para a protecção da constituição alemã o partido está enfraquecido devido a lutas internas. O NPD tem deputados em dois parlamentos estaduais.

Ainda assim, esta acção poderá reiniciar o debate sobre se o partido, descrito pela agência de informação interna alemã como racista, anti-semita e revisionista, deve ser ilegalizado. Para ilegalizar um partido é necessário um voto de maioria no Parlamento - a última vez que houve uma tentativa de ilegalização do NPD, em 2003, não foi obtida a maioria.

O responsável pelo departamento de política e cultura na Universidade Livre de Berlim, Hajo Funke, elogiou a resposta directa e rápida mas disse que o estado da Turíngia é um daqueles em que se faz menos para prevenir o aparecimento de ideias de extrema-direita. "É um dos estados menos activos na Alemanha de Leste e na Alemanha em geral", afirmou à emissora Deutsche Welle. Na Alemanha de Leste há em geral mais problemas de racismo e extrema-direita no que na parte ocidental.

 

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* Maria João Guimarães
Fonte: Publico