Luanda - A gestão do país tem conhecido inegáveis progressosem vários domínios.Nenhuma pessoa de boa fé pode ignorar o que vem sendo feito nos domínios da saúde e educação, com a construção de novos hospitais e centros de saúde bem como escolas para atender todos os níveis de ensino.

Depois de Isabel dos Santos, que já controla a UNITEL,
a entrada de Zenu na Movicel daria ao clã JES controlo absoluto

A nomeação, a semana passada, de 5 reitores para outras tantas universidades públicas criadas recentemente significa, sem dúvida, um passo de gigante.


Também não é possível ignorar o que vem sendo conseguido no domínio da construção e reconstrução de infra-estruturas. Em relativamente pouco tempo, pontes foram construídas ou recuperadas e importantes troços rodoviários foram reabilitados, de tal sorte que, não fossem os excessos de barreiras policias e de agentes de trânsito sempre com cara de fome e, por isso mesmo, determinados a ir ao bolso do automobilista, dir-se-ia que a circulação pelas estradas nacionais fazse em condições quase perfeitas


Os progressos que se registam na frente da reconstrução nacional não têm sido acompanhados noutras frentes. No domínio da transparência, por exemplo,as autoridades angolanas e, nomeadamente, o governo têm revelado imensas dificuldades. Nesta área quase se pode dizer que o governo angolano é incapaz de fazerqualquer acto às claras.


Tudo é feito ao arrepio dos cidadãos para beneficiar meia dúzia de sujeitos.


Quarta-feira, 29 de Julho, o Conselho de Ministros anunciou a conclusão do processo de privatização de 80% do capital social da Movicel.


Porém, não disse uma única palavra sobre questões que são do mais relevante interesse público. Nomeadamente, não disse quanto o Estado ganhou com a transferência, para entidades privadas, da quase totalidade do capital de uma das suas mais rentáveis empresas.


Também nada foi dito sobre a identidade das pessoas que tutelam as 5 empresas a quem foram atribuídos 80% da Movicel.


Não lhe tendo sido dada explicações, a opinião pública – e ninguém a deverá condenar por isso – mais uma vez dará azo à imaginação.


Há pouco menos de um ano tinha-se como certo que a Movicel seria privatizada a favor da empresa chinesa ZTE à qual estaria associado José Filomeno dos Santos (Zenu), filho varão do presidente da República.


A ZTE não aparece agora entre as empresas que ficaram com 80% da Movicel. Pelo menos não com esse nome. E quanto a Zenu dos Santos? Será que também foi ‹‹riscado do mapa›› ou estará ‹‹escondido›› por detrás de uma das 5 empresas escolhidas, nomeadamente a Porturil- Investiment, que ficou com a parte de leão do negócio, exactos 40%?


Se sim, porque será que Zenu dos Santos entrou nesse negócio?


Como qualquer angolano (pelo menos é o que a lei estabelece), ao filho varão de José Eduardo dos Santos também assiste o direito de concorrer à privatização da Movicel ou de qualquer outra empresa. O problema não é este. O problema é outro. É saber se, estando ele lá, como fez para lá chegar e quanto desembolsou do seu próprio bolso para ter direito a uma fatia de um negócio tão lucrativo.


Por outro lado, a eventual inclusão de um outro filho de José Eduardo dos Santos numa empresa de telefonia móvel criaria uma situação de claro monopólio familiar no sector. Depois de Isabel dos Santos, que já controla a UNITEL, a entrada de Zenu na Movicel daria ao clã José Eduardo dos Santos o controlo absoluto de um estratégico segmento de negócio. E quem disse que isso é necessariamente bom para o interesse nacional?


Por outro lado, são de todo infundadas as informações que dão com certa a entrada do general Kopelipa e de outros homens muito próximos a José Eduardo dos Santos na Movicel? Se são verdadeiras é correcto que os melhores negócios do pais estejam concentrados num reduzido núcleo de indivíduos?

Especulações como estas e outras seriam facilmente evitadas se o governo soubesse fazer as coisas às claras. Mas, pelos vistos, jogo limpo é matéria que não casa com este governo.


* Graça Campos
Fonte: SA