Luanda - O documento ainda avança o seguinte argumento: «A Carta das Nações Unidas, nascida da tragédia da Segunda Guerra Mundial e voltada a preservar as gerações futuras do flagelo da guerra, se baseia na interdição generalizada do recurso à força para resolver as controvérsias (…), excepto [num caso]: a legítima defesa (…). Em todo caso, o exercício do direito a defender-se deve respeitar «os limites tradicionais de necessidade e de proporcionalidade».(Ibid., nº 501, 2004).

José Fernandes de Oliveira, conhecido como Pe. Zezinho, na sua obra acima expressa afirma a necessidade de protestos como um dos caminhos para repor a justiça, a verdade e paz verdadeira. Digo paz verdadeira, porque Angola não está em paz, estão a nos mentir e estamos também fingindo de estar em paz. Como me podem falar de paz, quando nos matam, nos desalojam, nos roubam no estado, roubam o património nacional num conjunto de prostitutas e burros que quando estávamos a lutar para a conquista da paz militar estavam nos EUA e Europa no hedonismo absoluto.
 
Psicologia da violência e do protesto na juventude
 
De acordo com muitas personalidades angolanas, não se consegue perceber o porque e como é que os jovens desta nação se calam, se deixam pisar diante de tanta injustiça. "Os jovens responsáveis tornam-se proféticos." (Barrena, Jesus, Os Pais e a Educação dos Filhos, Ed. Paulista, Lisboa, 1990, p.38).

Neste momento, a minha alma remete-me aos jovens que a classe dominante destruiu todas as suas vidas, mandando-os a guerra e transformando-os em carne de canhão quando os filhos dos ladrões se encontravam no ocidente. Ainda assim, mantém-se no mutismo absoluto. Entre várias personas que não se conformam com a covardia da juventude angolana, vale a penas referir David Mendes que, numa entrevista a Rádio Ecclesia, fez a seguinte afirmação: "o que é que os jovens estudantes estão a aprender que não protagonizam qualquer acto relevante no sentido de pressionar este governo" – lamentou o advogado dos pobres, como é rotulado pelo seu empenho na defesa das massas populares e não só.

Num tom de insatisfação pela forma como o barco angolano está a ser desconduzido, o mais velho Marcolino Moco disse-me: "é verdade que os mais velhos cometeram muitos erros e continuam a cometer, mas a vossa geração não faz nada para a transformação". Na mesma linha se coloca o jornalista e escritor Félix Miranda e ainda o economista Filomeno Vieira Lopes. Em relação a questão levantada por David Mendes, podemos tentar responder a causa: a escola foi transformada num instrumento de ideologização da juventude, um meio de formatação das estruturas psíquicas. Não é por acaso que criaram uma reforma politica da educação sem fundamentos pedagógicos, por isso piorou o sistema de ensino, colocam a bandeira do partido e a cara do líder futunguista nos manuais., embora reconheçamos que apesar deste controlo, não podemos deixar de reconhecer que as pessoas têm uma margem de liberdade que os permite serem ou não fieis a ideologia mortífera e alienante. A par disto, podemos levantar outros argumentos∕razões para esta falta de sublevação popular e da juventude em particular: colonização, o holocausto do 27 de Maio, as mortes infligidas a jornalistas e políticos da oposição, as perseguições, a exclusão social para quem ousa pensar diferente, a pobreza e a falta de outras formas de acesso as riquezas que não o partido, etc.

Segundo a psicologia progressiva, cada fase da vida, a pessoa é perpassada por algumas características. A criança é essencialmente egocêntrica e dependente da mãe; o adolescente é marcado pela confusão de papéis com a pretensão ingénua de domínio do mundo, duvida de tudo. Mas isto decorre da sua busca incessante pela identidade pessoal; o jovem é caracterizado pelo inconformismo, volubilidade enérgica, e determinação, sabe o que quer e abomina a injustiça. De acordo com o professor de Moral Católica, Pe. Tiago, "o jovem é profundamente enérgico, ao ponto de utilizar as suas forças espirituais e físicas a qualquer preço, por isso, um governo que não ocupa os seus jovens como é o caso desta democradura partidocrata ou aumenta o tamanho das cadeias ou a força dos jovens o derruba"[paráfrase]. Aquando da visita de B. Obama ao Ghana, recomendou aos jovens que pela sua natureza devem pressionar aos bandidos que nos governam a promoverem aquilo para o qual foram eleitos – o bem comum, só o bem comum, mais nada – ao contrário os jovens têm todo o direito de os derrubar!

Se do ponto de vista natural, o jovem é irreverente, então os de Angola são anormais na medida em que não são capazes de fazer vincar aquilo que lhes conatural e normal.Existem muitos exemplos de pressão feita pelos jovens, recentemente na África do Sul, China, Irão, Grécia, Franca, etc.

O direito de protestar, é-nos inerente, e quando o alvo for insensível às lamentações e gritos de justiça e justeza, temos de partir para a violência. Não nos esqueçamos que graças os protestos, muitos países, instituições e regimes déspotas caíram como nos prova o Pe. Zezinho: "Sócrates, Diógenes, Jeremias, Daniel, Nathan, João Baptista, Jesus Cristo, Teresa de Ávila, Joana D´Arc, Marx, M. Ghandi, Luther King, …

Se o mundo conheceu alguma evolucao, sem duvida alguma devemo-la aos contestadores. A diferenças porém, reside no facto de que eles protestaram com lucidez. E estavam longe de ser pessoas medíocres e infelizes a procura de uma bandeira …

Só as pessoas maduras e íntegras sabem protestar." (Oliveira, J, Op. Cit., p.107).

* Domingos da Cruz
Fonte: Club-k.net