Luanda -  Agastado com o vendaval de acusações que, nos últimos tempos, tem sido alvo de vários círculos políticos afectos ao MPLA, o ex-Ministro das Finanças, José Pedro de Morais, viu-se compelido a enviar uma carta ao chefe do Governo, Eduardo dos Santos, para esclarecer algumas alegadas zonas cinzentas atribuídas à sua governação durante os sete anos em que foi o principal “inquilino” do antigo edifício da Repartição da Fazenda e Contabilidade.


Fonte: Novo Jornal

 José Pedro de Morais faz um exaustivo ponto
em que encontrou as finanças do país


ImageNum clima de grande suspeição, com as acusações a subirem de tom ao mais alto nível de governação do país, e na iminência de ver a “guilhotina decepar-lhe a cabeça”, antes que fosse tarde demais, José Pedro de Morais apresentou ao Presidente- afinal, o epicentro das críticas que lhe têm sido dirigidas – as teses da sua defesa.

 

 Fê-lo através de um documento confidencial de seis folhas a que o Novo Jornal teve acesso, em que aquele antigo governante, como nota introdutória, rodeia de vários encómios à figura do Presidente pela sua “visão” como estadista, a quem fez por merecer confiança, durante os anos em que exerceu funções públicas, quer como secretário de estado dos materiais de construção, quer como ministro do Planeamento. Feitas estas considerações preliminares, o antigo Ministro das Finanças faz um exaustivo ponto da situação do estado em que encontrou as finanças do país quando tomou posse e enumera as váriasmedidas que, sob sua iniciativa, foram então adoptadas para reanimar a economia.


Eivado de honestidade, José Pedro de Morais teve a ombridade de reconhecer que o sucesso da sua gestão passou em grande medida também pelo “aumento da produção de petróleo e em simultâneo pela subida do seu preço”. Devidamente documentado, na sua carta José Pedro de Morais esgrime os seus argumentos numa linguagem técnica e escalpeliza os vários caminhos percorridos para a realização das grandes operações que culminaram com o reescalonamento da dívida externa e a liquidação de outros compromissos internacionais.


 A introdução no mercado dos títulos da dívida pública e de outros instrumentos que ajudaram a enxugar a inflacção e a sanear as contas públicas são apresentados no documento, de forma discreta, como inovações da sua gestão. Os gráficos introduzidos na carta aparentam não deixar margem de dúvida quanto à isenção de José Pedro de Morais relativamente à derrapagem de que é acusado mas, em momento algum do documento, aquele antigo governante faz qualquer referência aos contornos que tornam aparentemente nebuloso o escaldante dossier relativo à problemática do pagamento da dívida pública interna.


Para além de, pelo menos por duas vezes, se ter referido à gestão de José Pedro de Morais em tons que punham em causa a atribuição do prémio de “Melhor Ministro das Finanças de África em 2OO7”, o Presidente ter-lhe-á atribuído também o ónus da derrapagem que as finanças públicas começaram a conhecer a partir do último trimestre do ano passado. Depois de ter lido a carta, o Presidente parece não ter, por isso, ficado nada comovido com seu teor, fazendo um despacho lacónico para o Ministro da Economia, Manuel Júnior, para “posterior estudo”.