Luanda - A proposta de eleições do futuro presidente apresentada, ou melhor, proposta por Dos Santos tem certamente algo a ver com o “conto do vigário” em que o produto final nada ou muito pouco tem a ver com o que de início fora proposto, continuando, portanto, a agitar os angolanos por várias razões. A primeira prende-se com o facto de até à data dos pronunciamentos de JES os angolanos acreditarem que a única diferença com a primeira vez que foram às urnas para escolher o presidente do País estaria tão-somente no facto de as segundas, as presidenciais de 2009 e agora de 2 mil e troca o passo, serem, como prometido, em separado das legislativas.  

Fonte: Folha 8

A Obrigação de escolher
 a equipa e o jogador

Uma outra razão da agitação, talvez pouco discutida ainda, tem como fundamento a restrição de opções, pelo facto de o referido modelo poder vir a impor ao eleitor a escolha de determinado presidente ou partido, sendo esta a base da presente abordagem. Entretanto, antes do concreto, uma analogia desportiva.


Imagine o leitor ter o compromisso de escolher os melhores profissionais do presente Girabola, ou seja, melhor equipa, jogador, treinador, etc., etc.. Entre os eleitos do leitor, o melhor jogador pertence a uma equipa que ele não considera como sendo a melhor. Entretanto, as regras de escolha dizem que, obrigatoriamente, ele deverá escolher o melhor jogador no seio da equipa que na sua opinião é a melhor do campeonato. Se, por exemplo, o leitor escolher o Job como melhor jogador, tem automaticamente de escolher o Petro de Luanda como melhor equipa, ainda que acredite que a melhor é o Benfica de Luanda ou o 1º de Agosto, sendo o inverso uma outra possibilidade.


Pergunta-se: quem estaria satisfeito com a referida imposição!? Ninguém. Ora, isto é o que poderá acontecer caso escolhamos o próximo presidente nos moldes propostos por JES, tendo em conta os pronunciamentos dos juristas do Kremilim, responsáveis por tentar explicar à opinião pública o que em nada ou muito pouco é explicável e convincente: as eleições indirectas atípicas, ou seja, eleições em que o presidente é o cabeça de lista, ou ainda eleições presidênciais por sufrágio universal em que o Chefe do governo é eleito no quadro da eleição parlamentar, como passaram a denominá-la, ao invés de “indirectas atípicas” como proposto por Dos Santos.       


No referido modelo o candidato a chefe de Estado não só será o cabeça de lista, como também terá a sua fotografia ao lado da do símbolo do partido no boletim de voto.


Segundo opinião do jurista Carlos Feijó, recentemente expressa no programa “Cara a Cara” da TV Zimbo, o modelo de eleição proposto pelo presidente da República implicará um voto conjunto obrigatório para a indicação do Presidente da República e do Parlamento. Ou seja, ao optar por determinado partido, o eleitor será obrigado a eleger também o seu cabeça de lista ou candidato a chefe de Estado dentro desse partido, ainda que tenha outra opção para este particular e vice-versa (escolher o jogador e a sua equipa ou a equipa e um dos seus jogadores).


A verdade, no entanto, é que as eleições não são apenas para os fanáticos ou partidários, mas também para os apartidários e intelectuais, aqueles que votam usando a cabeça ao invés do coração. Eleitores que podem pretender ter um chefe de Estado saído de um determinado partido, ou independente e, ao mesmo tempo, votar por um outro partido na governação. Imagine o leitor, por exemplo, que queira votar por Vicente Pinto de Andrade como Chefe de Estado e no MPLA. Eis o que quer e é possível segundo o ideal democrático, mas impossível de concretizar na proposta sugerida por JES.


Esta última, a ser aplicada, traria muitas dificuldades ao eleitor, muitas curvas, algumas delas inegociáveis, porque, por exemplo, no modelo de JES o economista Vicente Pinto de Andrade teria por norma de “pendurar-se” em um determinado partido, que seria decerto o extinto FpD, o qual poderia não gozar da simpatia do eleitor, que, por outro lado, apesar de ser militante do MPLA poderia não querer votar em Dos Santos como presidente, caso fosse ele o cabeça de lista do seu partido. O que faria!?... Optaria pelo presidente, pelo partido ou abster-se-ia?... Aí é que se poderia chamar o Diabo para a escolha!
 
mas também para os apartidários e intelectuais, aqueles que votam usando a cabeça ao invés do coração. Eleitores que podem pretender ter um chefe de Estado saído de um determinado partido, ou independente e, ao mesmo tempo, votar por um outro partido na governação. Imagine o leitor, por exemplo, que queira votar por Vicente Pinto de Andrade como Chefe de Estado e no MPLA. Eis o que quer e é possível segundo o ideal democrático, mas impossível de concretizar na proposta sugerida por JES.


Esta última, a ser aplicada, traria muitas dificuldades ao eleitor, muitas curvas, algumas delas inegociáveis, porque, por exemplo, no modelo de JES o economista Vicente Pinto de Andrade teria por norma de “pendurar-se” em um determinado partido, que seria decerto o extinto FpD, o qual poderia não gozar da simpatia do eleitor, que, por outro lado, apesar de ser militante do MPLA poderia não querer votar em Dos Santos como presidente, caso fosse ele o cabeça de lista do seu partido. O que faria!?... Optaria pelo presidente, pelo partido ou abster-se-ia?... Aí é que se poderia chamar o Diabo para a escolha!