Luanda - O PCA da Sonangol, Manuel Vicente, e o seu próprio varão, Filomeno dos Santos «Zenu», perfilam-se neste momento como as peças preferidas de José Eduardo dos Santos para compor a arquitectura da sua sucessão. Mas esse processo tem passado por vários cenários e muitos nomes têm sido cogitados, de modo que agora formam um montão de pedras no sapato de que o Presidente da República, convenhamos, já não se pode descartar de ânimo leve.


Fonte: Semanario Angolense


ImageO presidente da Assembleia Nacional, Fernando Dias dos Santos «Nandó», o primeiro-ministro, Paulo Kassoma, e o actual vice-presidente do MPLA, Roberto de Almeida, são cartas fora do baralho, mas tornam o novelo da sucessão um emaranhado muito complicado para José Eduardo dos Santos e até mesmo para os analistas e observadores do processo.


JES foi baralhando os naipes ao longo dos anos e nesse «tira-põe», todos eles acabaram por fazer um percurso que os torna hoje, para o bem ou para o mal, figuras teoricamente presidenciáveis. Porque, se quisermos ser justos, politicamente falando nem Manuel Vicente e tão pouco ainda Zenu têm o «curriculum vitae» ostentado por Kassoma, Nandó e Roberto de Almeida.


Todo o trio pertence ao clube do BP do MPLA, uma condição «sine qua non» para se aspirar a presidência, em conformidade com os próprios estatutos do partido. É claro que isso não é nada de inultrapassável para JES.


Quando quiser, ele pode, de uma penada, orquestrar o rápido encaminhamento de Manuel Vicente e do filho para o órgão de cúpula do maioritário. Mas o facto é que Nandó, Kassoma e Roberto de Almeida já lá se encontram e isso tem o seu peso específico, mesmo que formal. Recapitulando, Manuel Vicente e Zenu ainda têm de passar por essa porta. Outro ponto importante a considerar é que o triunvirato passou pelo tirocínio das questões de Estado.


Paulo Kassoma ainda está a fazer esse aprendizado enquanto actual primeiro-ministro, mas  Nandó já o fez por mais de cinco anos. Sendo agora presidente da Assembleia Nacional, pode dizer-se que está no estágio superior, já que o cargo lhe permite fazer o papel de Presidente da República nas ausências de José Eduardo dos Santos.


Apenas Roberto de Almeida não foi primeiro-ministro, mas em contrapartida presidiu a Assembleia Nacional durante muitos anos. Mais do que isso, dos três ele é o que tem maior «pedigree» ao nível partidário. Não apenas porque é um carreirista do partido, mas também porque presentemente é o seu vice-presidente.


E «Vice-presidente» é a palavra senha da equação que José Eduardo dos Santos tem vindo a formular no processo da sua sucessão.


Quem quer que venha a ser o escolhido de José Eduardo dos Santos, tudo indica que ele passará, antes, por um tirocínio: assumir o cargo de Vice-Presidente da República.


O problema que se põe agora é o do papel que terá nisto tudo o «vice-presidente» do MPLA. Há-de ser mera figura decorativa nas contas para a escolha do Presidente da República ou será que o futuro vice de JES na chefia do Estado terá de partir da segunda posição da hierarquia do partido?


Provavelmente esse pormenor não é despiciendo e conta mesmo. O cargo de vice-presidente do MPLA pode não ser um simples asterisco, pois é preciso não perder de vista que quando JES pensou em fazer de Pitra Neto o seu delfim para a sucessão, teve de o colocar como seu lugar-tenente no partido.

 

Ora, se ser vice-presidente do MPLA conta, então tudo isso significa que Roberto de Almeida, que já lá está, teria de ser removido do cargo, deixando-o para o escolhido de José Eduardo dos Santos. Resta saber é se desta vez, para um histórico da sua estirpe,
«RA» condescenderá em «cair» para parte incerta.


A vice-presidência do MPLA já foi uma espécie de moeda de troca para sair da Assembleia Nacional. Regressar significaria ter de colidir com Nandó, que o substituiu e também tem ambição para não aceitar de ânimo leve voltar ao fundo. O seu percurso foi sempre a subir: ministro do Interior, primeiro-ministro e presidente da Assembleia Nacional. Cair é,
portanto, muito complicado em termos de carreira para esse lídimo membro da «tribo do Bengo».


Não menos complicada é a situação de Paulo Kassoma. Ele sabia de antemão que seria primeiro-ministro a prazo, pois mal termine a confecção da nova Constituição, o cargo deixará de existir. Mas Kassoma, seguramente, não tem sangue de barata.  Também tem ambição pessoal e já se terá afeiçoado ao novo «status», restando-lhe por isso aspirar a mais altos voos.


A avaliar pela história do cargo, todos os que foram primeiro-ministro só caíram por sérios desentendimentos com o PR, sendo caso paradigmático disso Marcolino Moco. Nandó não colidiu e foi catapultado para a Assembleia Nacional. Mas para que Kassoma avance mais uma casa no «puzzle » terá de desalojar Nandó, perspectiva que conforme vimos não se afigura nada pacífica.