A duplicidade presente na atitude das autoridades deve ser vista à luz das seguintes evidências:


a) O regime, de acordo com uma  praxis política antiga e enraízada, não costuma reconhecer ou admitir erros próprios na sua acção; o intento é o de não se expôr a embaraços ou situações de fraqueza.
b) No caso concreto de Cabinda,  não o faz por ponderosas razões adicionais; uma admissão pública de que o Memorando não foi bem sucedido atingiria particularmente José Eduardo dos Santos e o chefe da Casa Militar, General Vieira Dias “Kopelipa”, consabidamente os dois principais mentores e artífices da solução encontrada; daria razão aos meios cabindas do próprio regime que continuam a considerar o Memorando um erro; animaria os próprios movimentos separatistas; fomentaria reservas nas companhias petrolíferas com interesses no território.

O relativo fracasso do Memorando de Entendimento, como ligação do Governo a um grupo restrito e pouco qualificado de cabindas, o de Bento Bembe, teve múltiplos efeitos perversos:

a) Fez despertar nos jovens cabindas, mais instruídos, uma consciência política e social mais aguda.
b) Aproximou e/ou reagrupou correntes e sensibilidades de autóctones cabindas até agora dispersas ou mesmo desavindas (uma realidade que apenas peca por não parecer).
c) Dividiu a Igreja Católica, uma instituição cujo peso e coesão aproveitariam muito mais ao Governo que a sua fragmentação

Nos termos que actualmente o definem o problema de Cabinda encontra-se verdadeiramente num impasse, que a persistir se converterá num novo risco. O de dar lugar a um vácuo capaz de comprometer a hipótese de uma solução moderada (a autonomia do território) e de vir a transformar-se num foco de instabilidade para toda a região.

Fonte: Africa Monitor