Luanda - A informação caiu em cima das mesas de redacção dos médias angolanos como uma maçã madura caída da árvore. Sem grande surpresa, pois, ficámos a saber que o ex-ministro das Finanças, José Pedro de Morais, escreveu uma carta ao Presidente Eduardo dos Santos dando-lhe a conhecer os seus sentimentos, de admiração, de pesares, de indignação contida e mesmo de incompreensão perante a injustiça que tanto empalideceu a sua áurea, com um objectivo bem fincado na sua mente, obter o perdão de actos que ele não cometeu durante o seu mandato na qualidade de Ministro das Finanças.

 

Fonte: Folha8

Desculpas de mau pagador
de um ex-ministro das Finanças

ImagePara atingir esse objectivo, o ex-ministro entrou em matéria com todas as escovas macias e unguentos a dar brilho ao Presidente, num exercício de bajulação que sempre deixa sementes promissoras de bons augúrios onde se exerça. Depois, sim, explicou todo o bem que tinha feito ao país durante o seu consulado.


Nas suas explicações, Pedro de Morais recorreu a uma sofisticada linguagem técnica que dificulta a leitura, mas não deixa dúvidas sobre o sentido que o texto encerra.


A questão central da sua argumentação gravita em redor duma única preocupação, limpar a sua imagem e fornecer provas não só da sua idoneidade, mas também da sua honestidade.


Para tal, o antigo dirigente relembra o estado lastimoso em que encontrou as Finanças angolanas ao tempo em que tomou conta do cargo ministerial e refere-se apenas aos seus sucessos, a estabilização da moeda e saneamento das contas públicas.


Enfoque irradiante contemplou as mais-valias obtidas nas negociações com os organismos e entidades estrangeiras, que culminaram na revisão e avaliação da dívida externa e na resolução “pacífica” de alguns diferendos económicos e financeiros, ficaram no reino do esquecimento o pagamento da dívida interna e os seus “casos” dos bastidores.


De relembrar que alguns desses “casos” nunca foram elucidados e o que então se verificou foi um surto de indícios e de denúncias de evasão de fundos monetários importantes para o estrangeiro, nomeadamente para paraísos financeiros. Isto sem esquecer a forma perniciosa como foi gerida a dívida pública, em que muitas das pessoas a quem o Estado devia não pagou, enquanto, por outro lado, por ali e acolá surgiram os frutos de uma súbita e incongruente geração espontânea, nasceram do nada ou quase nada alguns milionários, todos eles membros do Partido, que nem dívida a receber do Estado tinham.


A verdade é que a demonstração de José Pedro de Morais deixa bastante a desejar. Primeiro por indução falhada de honestidade, na medida em que, se tudo fosse transparente e ele não tivesse nada a esconder, se as acusações que sobre ele pesam de desvios de fundos e cumplicidade nos desvios de terceiros não correspondem à verdade, então, por que raio de cargas de água sentiu ele a necessidade de ter que se justificar da forma como o faz?
A resposta a esta pergunta terá talvez algo a ver com o próximo Congresso do MPLA a ser realizado entre os dias 7 e 10 de Dezembro próximo. 


Pedro de Morais, como bom militante do MPLA e com as capacidades intelectuais que o contemplam, pretende sem dúvida ser integrado no Comité Central do partido e sabe que poderá contar com a condescendência de alguns “crocodilos”.


Pensa que o seu consulado, bem avaliado, foi globalmente positivo, e que o perdão seria muito bem-vindo, tanto mais quanto é certo que na sua generosa manga, tem segredos do “arco-da-velha” a partilhar com os seus antigos chefes hierárquicos, JES incluído, como é óbvio, mau grado o facto de ter havido uma manifesta diminuição da estima do chefe pelo seu ministro, nos últimos meses do seu consulado.


E se, no final de contas o que pretende Pedro de Morais é um perdão para ser incluído na lista do PR para membro do comité central do MPLA no próximo conclave e assinar um pacto secreto no sentido de ele não dizer quantos foram os milhões do Estado que transferiam para contas privadas?