Luanda - Barceló de Carvalho nasce a 5 de Setembro de 1942, em Kipiri, na província do Bengo. Filho de Pedro Moreira de Carvalho e de Ana Raquel, Barceló é o terceiro filho de uma família composta por mais nove irmãos. A família tratava-o carinhosamente por Zeca. A sua infância foi passada em bairros como os Coqueiros, Ingombota, Bairro Operário, Rangel, e Marçal. Aí vive-se um ambiente intimista de preservação das músicas e tradições angolanas, marginalizadas pela dominação colonialista presente na época.


Fonte: O Pais


O folclore dos musseques cedo fascinou o pequeno Zeca e por isso começou a frequentar e a participar as turmas dos bairros típicos de Angola, onde iniciou a sua actividade musical. Foi no bairro do Marçal que fundou o grupo “Kissueia”. Barceló resolve criar o seu próprio estilo musical, afirmando a especificidade da cultura angolana, numa época muito conturbada.

 

Bonga é produto de uma geração aguerrida e marginalizada que resiste à aculturação da sociedade marginal através do respeito pela música tradicional de Angola. A cultura angolana era dominada pela colonização portuguesa de então, daí que tanto as línguas como a música tradicional fossem descriminadas e impedidas de se manifestar em plenitude.


Exímio corredor


Barceló sempre se sentiu atraído pelo atletismo. Tudo começou ainda muito jovem quando revelou perante os seus amigos do bairro ser o mais rápido nas corridas e nas fugas. Depois começou oficialmente a correr no S.


Paulo do Bairro Operário, rotulado pejorativamente como o “club dos pretos”. Ingressou no Clube Atlético de Luanda.


Em 1966, com 23 anos de idade, depois de ter alcançado os maiores títulos de Angola em 100, 200, e 400m, a sua entrada em Portugal dáse aquando de um convite do Sport Lisboa e Benfica, que se deveu às suas múltiplas vitórias nos campeonatos em Angola. O objectivo deste convite é a prática semi-profissional de atletismo. É entre 1966 e 1972 que Barceló de Carvalho atinge por sete vezes o estatuto de campeão e permanente recordista de atletismo.


Portugal era então regido pela política repressiva e fascista de Salazar e Caetano. Com o início dos movimentos a favor da independência das ex-colónias portuguesas, Bonga usa a sua liberdade de movimentos proporcionada pelo seu estatuto de atleta recordista para passar mensagens entre compatriotas que lutam pela independência em Angola. Por este motivo é obrigado a fugir de Portugal para a Holanda.


Em 1972, na Holanda lança o seu primeiro álbum “Angola 72”, onde canta a revolução e o amor à pátria.


É por esta altura que passa a chamarse Bonga Kuenda que significa aquele que vê, aquele que está à frente e em constante movimento. “Angola 72” está por esta altura proibido em Portugal e Angola, pela sua ressonância política e consciência crítica.


Anos 80 de ouro


Bonga actua pela primeira vez nos Estados Unidos em 1973, aquando da celebração da independência da Guiné-Bissau. Dá-se o 25 de Abril e o artista lança “Angola 74”. Nos anos 80 torna-se o primeiro artista africano a actuar a solo no Coliseu dos Recreios, símbolo da música portuguesa; é o primeiro africano Disco de Ouro e de Platina em Portugal. O seu sucesso estende-se para lá das fronteiras lusófonas, actuando em países como EUA, França, Suíça, Canadá, nas Antilhas, em Macau, etc., ganhando por isso o estatuto de embaixador da música angolana.


Em 1988, quando regressa a Portugal, dezassete anos depois de ter fugido clandestinamente, Bonga aparece não como recordista do atletismo, mas como recordista de vendas e popularidade, que canta música de intervenção, revolucionária e carismática. Um dos motivos pelos quais Bonga não regressa definitivamente a Angola é porque a independência pós-colonial desintegrou-se em corrupção, tirania e guerra. Assim sendo, manteve uma aguda consciência crítica relativamente aos líderes políticos de ambas as partes.

 

Bonga recebeu inúmeros prémios de popularidade e homenagens, onde conta com distinções varias, medalhas e discos de ouro e de platina. Tem mais de 300 composições da sua autoria, 32 álbuns, seis videoclips, sete bandas sonoras de filmes e álbuns com inúmeras reedições em todo mundo. O artista tem manifestado inúmeras vezes a sua solidariedade e altruísmo, dando concertos de beneficência para várias instituições.


Com mais de trinta anos de carreira, Bonga é convidado para muitos espectáculos no mundo inteiro, promovendo a imagem de Angola.