Brasil - O poder político, econômico e militar do país foi ratificado com o VI Congresso do MPLA e a eleição do seu novo e velho Comitê Central, e a atual direção deste mesmo partido. O Politiburgo  para bem ou para mal dos angolanos  tem a missão de combater a corrupção. Esta talvez deva ser a missão fundamental desse novo e velho poder.


Fonte: www.blog.comunidades.net/nelo

O País das Aranhas XXVIII

A surpresa está no consenso:

Dois mil delegados do MPLA acredita que são eficientes

Para bem, porque quem precisa destes serviços e benevolência  é a própria sociedade, que vê no atual poder um mal necessário, diante de uma situação sem alternativa: oposição derrotada e que nunca gerou confiança a ninguém. Tristeza para uma nação que precisa fazer da transparência democrática o mecanismo  para alcançar o desenvolvimento social  e patamares civilizados de convivência. Sociedade que vê nos governantes atuais e no statu quo a estabilidade e  o sossego tão sonhados nos anos de guerra.  Alegria para a mesma nação que hoje pode dormir mais sossegada para sonhar e pensar, simplesmente, de hoje em diante, como combater a corrupção.


Para mal, porque a origem e  o núcleo da corrupção está dentro do próprio Polítiburgo. O  que impressiona e nos deixa atordoados é o cinismo da mais alta direção quando enfatiza que o mal da corrupção e de todos os vícios devem ser combatidos, com o emprego até da chamada Tolerância Zero. Quando se sabe que existe uma pergunta no ar: por onde começar, e quando, com o Tolerância Zero?  Quem serão suas primeiras vítimas? Até parece que a corrupção  a ser combatida está fora do governo, fora das Instituições do Estado e do próprio Estado, fora do MPLA, fora do Comitê Central, fora do Bureau Político  e em fim fora do próprio Gabinete da Presidência.  A corrupção -para os desprevenidos e cegos- está até na hora de se interpretar as leis desse país, está na má-fé dos corruptos, dos políticos, dos juízes, dos promotores e advogados em interpretar a lei ou aquilo que lhes convém quando estão diante da Carta Magna  e das leis que todos devemos respeitar. Está  nos vocábulos  desnecessário e não comum, tanto para o leigo quanto para os especialistas, ao se dirigirem a quem mais tem interesse de saber aquilo que o Estado tem para oferecer a nação. A corrupção vem da alma desse Estado; Estado corrupto que perdeu o rumo e o compromisso com o Povo e a Nação. A corrupção é um fenômeno intrínseco de um Estado, agora, traiçoeiramente, caracterizado como burguês, que vê na sua existência a barreira ou o muro entre o pobre e o rico; entre os bárbaros pobres  e uma suposta civilização de monarcas e  ricos.


Tolerância Zero é a expressão que na imprensa nacional já se transformou em moda e até em palavra de ordem. Nunca, desde os tempos de Agostinho Neto, um lema, uma palavra, uma expressão foi tão usada quanto o famigerado Tolerância Zero. Uns veem na mesma uma luz no fundo do túnel, outros, uma espécie de anúncio desgraça evocado  de maneira inconseqüente pelo líder tido como o sábio e o acertador  de tudo o que faz.


De mal para pior está o fato de que sua reeleição, a do líder, como presidente do MPLA é um sinal negativo para as boas intenções de se combater a corrupção. Esse sinal de bandeira ou o som de uma corneta que da a idéia de que o mesmo continua sendo um líder revitalizador, com certeza vai camuflar o Tolerância Zero  ou, simplesmente, o combate a corrupção. Será que o Tolerância Zero anunciado dias antes do Congresso não foi uma estratégia intimidadora  à votação que se esperava para se dar continuação ao cargo de presidente do partido!?


É triste, num momento em que o país precisa mesmo de enfrentar uma outra batalha. A batalha dos vícios gerados pela economia de mercado e pela ideologia burguesa e a própria burguesia, que tem corrompido a sociedade Angolana, constitui um balde de água fria a vitória de mais de 98% de José Eduardo dos Santos para continuar a liderar o MPLA. Se com a vitória legislativa  do MPLA por 82%, fenômeno merecido, a alegria foi imensa e  infinita. Com está vitória -ou derrota- do dia 10 de  Dezembro não se pode de maneira nenhuma manifestar a mesma emoção. Verdade diga-se  estamos nesse momento envolvido em uma tremenda tristeza e medo.  O medo não é pela vitória em si, mas pela proporção descabida e anormal.

De que se esperava que tal indivíduo ostentasse o troféu da vitória não chega a ser uma surpresa. A surpresa está no consenso  dos quase dois mil delegados que acreditam que a atual direção do partido é tão eficiente quanto os negócios espúrios e escuros  que lhes tornam membro de uma seita ou várias que dá estrutura e força ao politiburgo; politiburgo que se transformou numa organização quase secreta, mas que tem um poder real que é o poder do próprio Estado e da Nação.


O fato de JES ter tal aprovação no politiburgo, em mais de 98%,  deve ser interpretado como o resultado de uma cultura política onde os interesses de cada um dos elementos e grupos estão entrelaçados ou assegurados pela corrente da corrupção. Não é normal num país como Angola diante dos fatos visíveis de corrupção, em que só falta mesmo os membros do governo ou até o próprio presidente vir ao público e dizer que somos corruptos e com muito orgulho e sem vergonha nenhuma  –e se quiser chamem a polícia-,  haja um consenso tão arrasador na eleição do seu presidente para partido, a não ser um partido de corruptos, onde os vícios entre os seus elementos já ninguém faz questão de ocultar. Assim, talvez sabiamente a política do Tolerância Zero se encaixava bem antes da votação. Mesmo existindo a possibilidade de coincidência, com certeza sumária, tal discurso tenha influenciado no resultado escandaloso de tal eleição.


É injusto criticar duas mil pessoas porque agiram desta forma, quando se sabe que vivemos num ambiente social que tem como base de criação de valores modernos a esperteza de se criar patrimônio ou gerar riqueza do nada e sem dar explicações a ninguém. Sem contar que a situação econômica e social dos dois mil delegados, e neles estão incluído os membros do Comitê  Central eleitos, é a condição social  daqueles que jamais  estariam disposto arriscar o que se conquistou ao longo desses anos em nome de uma tal de Tolerância Zero ou de um moralismo presunçoso que a própria era do comunismos e o atual  anticomunismo andou e  anda matando.  Onde sairá a inspiração, a motivação e em nome de quem se levará à diante  o Tolerância Zero? Quem serão os seus heróis? Quando se sabe que  o patrimônio e a riqueza mal distribuída, as grandes empresas  e os interesses nessas mesmas empresas, no país inteiro, e que aparecem e nascem sem  explicações estão precisamente nas mãos dos dois mil delegados e nisto está incluído o Comitê Central.


O Tolerância Zero  é com certeza uma atitude de boas intenções, mas é uma iniciativa burguesa  num tom cínico e desprezivo para com a nação  e o povo; um tom cínico de quem chegou a conclusão que não pode mais  continuar a vestir a máscara do fingimento e da hipocrisia, talvez!  É tudo o que se podia esperar  num país de <doenças> endêmicas onde até a corrupção é um mal sem antídoto. O  Tolerância Zero é a outra prova da  arrogância e prepotência de que nenhum subordinado deve ter visão para ver  o lamaçal em que o chefe está atolado, quando assim acontecer, esse subordinado –às vezes, ex-companheiro- torna-se em um inimigo de todos!

Evocado por um líder que está tão envolvido, tanto administrativo como penal, o Tolerância é pior que ter  de sacudir o passarinho  fora da cueca depois de tê-la molhado. É  o  reflexo da decadência e  da doença de um país atrasado, de um país que mal nasceu mas já ostenta um espetro de valores velhos e caducos a serem enterrados.