Lisboa -  As autoridades angolanas acolheram, de facto, com “alívio” o fim processo judicial denominado “Angolagate”; manifestações oficiais e/ou oficiosas de inconformação, baseadas na natureza do processo e na condenação de Jean Pierre Falcone, destinaram-se em larga escala a cultivar uma aparência considerada politicamente conveniente.

Fonte: AM


Razões do “alívio” sentido pelas autoridades, nomeadamente pelo chamado círculo presidencial:

- Dissipou-se um factor de permanente pressão/usura interna e externa do regime, devido aos reavivamentos cíclicos por que passou nos últimos anos.

- Nenhuma personalidade angolana, entre as muitas citadas inicialmente, foi afectada.


A única tomada de posição oficial das autoridades angolanas no fim do processo, foi um comunicado considerado “cuidadoso” do gabinete de apoio da PR – previamente preparado para a ocasião; a sua redacção foi confiada ao jurista Carlos Feijó, que há vários anos (AM 142) estava inteirado dos meandros do processo.


A suposta inconformação das autoridades, em geral associada a medidas de retaliação contra a França, transpareceu apenas de notícias de imprensa e rumores públicos. O caso mais recente é o do atraso na resposta ao pedido de agrement para acreditação de um novo embaixador francês em Luanda.


A personalidade proposta pela França, Nov.2009, é Philippe Garnier, identificado na imprensa angolana como alto funcionário da DGSE (branche externa dos serviços de informação). Apresenta aptidões para o cargo como o domínio da língua portuguesa. Substitui François Blondet, que atingiu a idade de reforma.

2 . A propalação da ideia de que a condenação de J P Facolne provocou desagrado nas autoridades angolanas obedece a cálculos políticos – entre os quais os seguintes:

- Não perder a face tendo em conta de manifestações de firmeza do antecedente, baseadas em reiteradas questões de princípio.

- Manifestar devida solidariedade a J P Falcone e por via disso tentar garantir a sua libertação condicional.


A incomodidade provocada nas autoridades angolanas pela abertura do processo assentava em razões que se desvaneceram ou perderam importância – em geral baseadas na suspeita da existência de cumplicidades entre o poder político e poder judicial francês, bem como na implicação de personalidades angolanas.


J P Falcone goza de elevado apreço no círculo presidencial do regime angolano – em alegado reconhecimento do papel por ele desempenhado no rearmamento das FAA tendo em vista apetrechá-las a enfrentar a emergência da guerra civil reacendida em 1998. Em razão de tal apreço é entendido que deve ser protegido.


J P Falcone, titular de um passaporte diplomático angolano, dispõe de um condomínio privado em Luanda, para onde, até à sua prisão, continuou a viajar amiúde, em geral utilizando um avião privado. Fazia-se acompanhar de um staff próprio, igualmente acomodado no condomínio.
Em 2004 J P Falcone foi referenciado como sendo dono de uma empresa de consultoria, Pierson Asia, especializada em aconselhar empresas asiáticas, em especial chinesas, interessadas no mercado angolano. A China Sonangol, e a Norinco, empresa chinesa que produz e vende armamentos, figuravam entre os seus clientes.