Lisboa -  A exaltação da figura de José Eduardo dos Santos (JES), que meios internos do regime, adversos da mesma, classificam de “culto de personalidade”, está orientada para o plano externo e destina-se a ajudar a promovê-lo como líder regional – um estatuto considerado à sua mercê depois da retirada de Thabo Mbeki.


Fonte: AM


O “culto da personalidade” de JES, inspirado em argumentos como os seus méritos de estadista e espírito de concórdia, é uma realidade antiga (AM 276) na prática política do regime do MPLA; foi notória, por simples acentuação, no recente congresso do partido (AM 433) e prevê-se que esteja presente em próximas oportunidades.


Particularidades do fenómeno, devidamente apuradas, indicam que a JES agrada a afirmação e projecção da sua figura. Em geral, porém, tem cabido a personalidades do seu círculo e das elites nacionais, o encargo de delinear e fomentar acções com tal afim – que JES consente ou de que tem conhecimento.


Deduções acerca do leitmotiv das manifestações internas de lealdade e/ou adulação em relação a JES em que assenta o culto da sua personalidade:

- As elites, em especial a económica, consideram que assim servem o seu interesse material tendo em conta a realidade do “Estado Patrimonialista” representado por JES.


- O círculo político de JES age especialmente impelido por um espírito de grupo que associa o seu futuro ao do próprio.


Nos últimos anos, o grupo de adversários ou não apaniguados internos de JES – políticos, intelectuais, empresários, entre outros – tem vindo a reduzir-se em resultado de acções de aproximação promovidas pelo próprio e pelo seu círculo; o objectivo foi o de criar ambiente favorável a promover o traço conciliador da sua personalidade.


A lógica do enfoque externo da promoção JES é a de que internamente a sua liderança está firmada e não tem rivais à altura; considera-se que a sua projecção externa, baseada na imagem de um estadista de sabedoria e visão, aplicado em moralizar a governança, tem sempre repercussões internas.


2 . Os dirigentes angolanos reconhecem que a África do Sul suplanta Angola em termos de importância estratégica – solidez política, poder económico, capacidade militar e prestígio internacional; acreditam, porém, que o quadro poderá alterar-se no futuro na proporção dos critérios crescimento de Angola/decrescimento da África do Sul.


As pretensões de afirmar JES como líder regional apoiam-se em factores que se considera realçarem a sua figura de estadista mesmo num contexto de superior importância da África do Sul:


- A sua estatura política; tem mais notoriedade e prestígio.


- Angola dispõe de maior capital de influências regionais e internacionais; tem uma política externa dinâmica e está ligada a relevantes organizações e foras regionais e internacionais; está geograficamente repartida pela África Austral e África Central, um espaço no qual exerce influências não ao alcance da África do Sul, inclusivé em países com a dimensão da RD Congo.

- O seu principal recurso (petróleo) tem massa crítica superior como fulcro de irradiação de influências e captação de alianças.


O empenhamento com que Angola fomenta ligações à Comissão do Golfo da Guiné e à Comunidade Económica dos Estados da África Central (AM 352), é visto como ilustração de uma política, muito dispendiosa, de exploração de mais valias regionais de que a África do Sul está privada, por razões geográficas.


3. Conjectura-se que a competição de Angola com a África do Sul é desfavorecida pelo relacionamento mais amplo que os EUA têm, na região, com Pretória. O estreitamento em curso das relações de Angola com os EUA (AM 416), incluindo esforços para propiciar uma visita de Barack Obama (AM 379), tem, entre outros, o objectivo de nivelar a importância de ambos os países.


A campanha pública contra a corrupção a que JES se ligou (AM 431), também é ditada, entre outras razões, mais decisivas, pela de evitar que JES fique em desvantagem relativamente a Jacob Zuma, PR da África do Sul (AM 427), devido às políticas por este lançadas com tal propósito.


A reputação que JES almeja como estadista e líder regional é justificada no seu círculo por factores como a acção que desenvolveu tendo em vista a resolução do conflito interno em Angola e a reconciliação entre desavindos, bem como o papel considerado estabilizador que vem exercendo na região.