Londres - O especialista britânico em assuntos africanos Alex Vines considerou que Angola tem de "melhorar os seus serviços de informações" para combater o movimento separatista de Cabinda, já que uma acção militar contra pequenos grupos dificilmente terá sucesso.


Fonte: Lusa

À Agência Lusa, o chefe do departamento de África do instituto britânico Chatham House lembrou que, apesar das excelentes relações que existem entre Luanda e Brazzaville, há "áreas no Congo que não são controladas pelo Governo do Presidente Denis Sassou Nguesso", reposto no poder com o apoio de Luanda.

 

Segundo o analista, o executivo angolano tem de "melhorar as operações dos seus serviços de informações", uma vez que uma acção militar contra os separatistas de de Cabinda "não terá muito sucesso devido à grande fragmentação das Forças de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC)", em que grande número de grupos opera de forma independente.

 

"Trata-se de um grupo muito pequeno, talvez na ordem das 200 pessoas, organizado em pequenos grupos armados e que está fortemente faccionado", explicou Alex Vines, referindo que a divisão dentro do movimento separatista "tem sido e continua a ser o maior problema de Angola".


Quanto ao ataque de sexta-feira que atingiu o autocarro da selecção nacional do Togo, Vines disse não saber "se o alvo da operação foi verdadeiramente a escolta militar angolana, e não a comitiva togolesa", como sustentam as alas militares da FLEC que reivindicam a operação.


"Conheço várias pessoas que na semana passada fizeram o mesmo percurso sem problemas, pelo que é necessário questionar porque é que nesse preciso momento houve um ataque. Acho que a unidade da FLEC envolvida na operação tinha conhecimento prévio de que o autocarro poderia ser um alvo de grande interesse e visibilidade", afirmou Vines.


O autocarro foi metralhado sexta-feira à entrada do território de Cabinda por guerrilheiros da Frente para a Libertação do Estado de Cabinda (FLEC), que se movimentaram a partir da República do Congo.

Do ataque, inicialmente reivindicado por uma ala dissidente das FLEC, e mais tarde assumido pelo próprio braço armado do movimento separatista do enclave, resultaram três mortos, dois membros da comitiva e o motorista do autocarro, e um ferido grave, o guarda-redes Kodjovi Obilalé, que já não corre risco de vida.

"Várias facções assumiram as responsabilidades pelo ataque e outras negam qualquer envolvimento. É fundamental perceber quem é que realmente esteve por detrás do ataque", observou Alex Vines.

O especialista do instituto britânico especializado em relações internacionais disse ainda acreditar que nas próximas semanas "não haverá mais incidentes".

"Cabinda vai estar calma porque não acredito que a FLEC esteja em condições para levar a cabo mais um ataque", considerou, acrescentando que, a curto-prazo, a prioridade das autoridades angolanas também "passará por garantir a segurança do evento desportivo e dos seus participantes".


No entanto, o especialista do centro de estudos britânicos disse esperar "uma nova operação de contra-insurreição" por parte do Governo angolano na região de Cabinda, "depois de a Taça de África das Nações em Futebol - CAN-2010" terminar, a 31 de Janeiro.