Ex.mo Sr. Governador da Província do Kwanza-Sul


Sr. Governador, várias são as formas de o cidadão dialogar e participar da vida política do seu País, Província, Município ou Comuna. Por isso, espero que todo o juízo de valor sobre a presente carta gostaria que fosse mensurado à luz desta racionalidade.


Sei que uma província que não foi poupada pela guerra não se constrói de um dia para o outro; compreendo as limitações financeiras, técnicas, tecnológicas e humanas; reconheço, sem dúvida alguma, o espírito de sacrifício e entrega do governo provincial para tornar a nossa província digna de todos os seus filhos. Aliás, são visíveis os sinais de algumas melhorias. Tenho a certeza de que nada é como ontem. Contudo, alguns factos remetem para determinadas incompreensões:


Há mais de 3 anos fui convidado pelo governo da província do Kwanza-Sul na qualidade de representante da Associação dos Naturais e Amigos da Cela (ASNAC) através da Direcção da Cultura à semelhança de outros representantes dos Municípios e de outras instituições como as Autoridades do Poder Tradicional. A questão de fundo que teve lugar no Pólo Universitário foi a reflexão sobre a problemática linguística na província. Na verdade, apesar da nova composição etnolinguística e cultural fruto das transformações socio-políticas e administrativas ao longo dos tempos que deu lugar ao convívio com os povos de origem ovimbundu originariamente o povo do Kwanza-Sul é do grupo ambundu ou kimbundu. Disso, os estudiosos encarregar-se-ão de aprofundar. Aliás, o móbil da questão é, acima de tudo, a designação da língua do povo à Sul do rio Kwanza (região centro Norte do país), actualmente, na grelha dos programas da Rádio Ngola Yetu com o nome de ngoia que em assembleia e como mandam as regras da democracia participativa foi chumbado por ter sido imposto arbitrariamente por quem não tem legitimidade para o efeito (Cfr. Relatórios e actas da Direcção da Cultura). Aliás, os nomes não nascem, são atribuídos, mas por quem, efectivamente, tem legitimidade para tal.
 

Em audiência que o Sr. Governador concedeu aos 3 dirigentes da Associação do Naturais e Amigos da Cela numa das salas do governo da província em que estive presente foi questionada, de entre outras coisas como a falta de energia eléctrica para o consumo doméstico na cidade do Waku-Kungu, injusta e contrariamente, à energia eléctrica que é distribuída 24/24 horas ao projecto Aldeia Nova; a falta de água potável na cidade; falta de ambulâncias e raio X no hospital da Cela, a tramitação do processo sobre a designação oficial do nome da língua na província do Kwanza-Sul. A esta última questão o Sr. Governador, com todo o respeito que bem merece, mostrou-se desconhecer ou menos familiarizado com a tramitação do processo sobre a alteração do nome da língua para o Kuongola ou Tchongola como exprimiram através do voto os dignos representantes ao encontro.
 

Estão em causa, Sr. Governador, não só os dinheiros gastos com o alojamento e alimentação dos representantes, os riscos associados à viagem, mas sobretudo, o respeito por todos quantos se dignaram em responder ao convite das Autoridades da Província. Mais, a vontade expressa pelos representantes ao encontro e as expectativas criadas à sua volta, uma vez não atendidas, ainda que negativamente, põem em causa a confiança, a seriedade e o respeito que devem merecer as instituições do governo.
 
 

Existe um povo que não deve ser, meramente, ouvido. Aliás, onde há um povo e um governo não é justo que de forma arbitrária e impositiva uma pessoa ou duas atribuam nome a uma língua de uma província sem prestar contas a ninguém.
 

Espero, Excelência Sr. Governador, que o processo tenha o seu desfecho porque não há dúvida que é um acto nobre e característico de quem é democrata a iniciativa do encontro havido sobre a reflexão da problemática linguística na província.
 

                                                                       Respeitosamente,


                                                             Bernardo Castro 
 
 
 
 
Luanda, Fevereiro de 2010