Chamado a proceder a leitura do elogio fúnebre, o deputado do MPLA Moisés Camabaia, compa-nheiro de Rosário Neto em Malanje, terra natal do malogrado, disse que o nacionalista percorreu uma trajectória de bravura que contorna toda a África, acrescentando que ele se bateu com a dignidade própria de um herói a favor de uma grande causa : o direito à liberdade de um povo.
Moisés Camabaia disse ainda que, pelas circunstâncias que conduziram a sua morte, comparável a de um mártir, Rosário Neto continuará a viver e a iluminar os espíritos dos verdadeiros nacionalistas angolanos, cujo exemplo conduziu à independência nacional, em 11 de Novembro de 1975.

“ Por meio do exemplo insigne deste que foi um marido dedicado, um pai exemplar, um parente afável, um amigo generoso, um valente filho de Angola, continuará a sua trajectória imorredoira nos corações dos verdadeiros angolanos, através dos tempos e da eternidade”, disse na ocasião Moisés Camabaia.

Individualidades enaltecem feitos

O cónego Apolónio Garciano julga imperioso os angolanos assumirem a sua história “para sermos um povo maduro”. “Com todos os erros do passado, sejamos nós a aceitá-los e forjar a nossa vida para uma convivência autêntica de fraternidades. Temos de fazer isso”, disse o cónego durante a missa na igreja dos remédios, diante dos restos mortais de Rosário Neto.

Luís dos Passos, primo do malogrado, também realçou os feitos deste nacionalista angolano e frisou que “todos aqueles que contribuíram na luta pela independência devem ser enaltecidos, independentemente da agremiação política que pertençam.

Antigos companheiros de partido também marcaram presença no cemitério do Alto das Cruzes. André Paulo, deputado da FNLA, reco-nhece as qualidades de Rosário Neto enquanto esteve com Holden Roberto. “Um grande militante, um nacionalista e um libertador da pátria angolana a par de muitos outros”.

A longa trajectória de um nacionalista

Um dos protagonistas do levantamento popular da Baixa de Kassanji, em 4 de Janeiro de 1961, Rosário Neto foi um dos grandes precursores da revolução angolana, na altura em que se forjava o início da luta armada de libertação nacional.

Destemido mobilizador, ele comandou directamente a revolta dos trabalhadores. No seu livro intitulado “Os Heróis da Baixa de Kassanji”, Moisés Camabaia escreve que “Rosário Neto desencadeou o maior movimento de massas jamais visto em Malanje e inflamou a revolta de reivindicação social e económica dos trabalhadores de Kassanji, transformando-a numa autêntica Revolução para a independência, através de um movimento messiânico de gigantescas proporções, sem precedentes em Angola”.

Fugindo da brutal retaliação das autoridades coloniais portuguesas, Rosário Neto fugiu para o ex-Congo Leopoldville, onde viria a ser, mais tarde, vice-presidente da UPA. No Governo Revolucionário de Angola no Exílio (GRAE), ele assumiu as funções de ministro da Informação.
Rosário Neto viria a desentender-se com os ideais da direcção da UPA, que o acusou de traição a favor do MPLA. Na sequência foi encerrado em Kinshasa em Novembro de 1969, assim permanecendo até finais de 1972, altura em que foi solto já com a saúde bastante debilitada, vindo a falecer em Fevereiro de 1973.

Filho de João da Conceição Rosário e de Joana Joaquim Filipe, o nacionalista André Rosário Neto nasceu em Malanje, a 3 de Abril de 1927. Educado no Seminário da Missão Católica dos Bângalas, na Baixa de Kassanji, em Malanje, conclui o curso de Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Luanda.

Fonte: JA