Luanda - José Luandino Vieira, é o nosso convidado para abordarmos alguns aspectos da nossa literatura, do seu confrade de feliz memoria, que de resto influenciou positivamente na sua escrita estamos a falar grande escritor Etnógrafo Oscar Ribas, o escritor Luandino Vieira, da sua Luanda recriada, do Makulusso, da ausência da critica literária em Angola da Igreja do Carmo, recordou da sua Associação de sempre a União dos Escritores Angolanos


*Por Cláudio Fortuna
Fonte: Club-k.net


Luandino Viera, mas uma vez em Angola, para participar deste simpósio em homenagem póstuma ao Oscar Ribas, que apreciação faz desta iniciativa das autoridades angolanas, em prestar tributo ao homem de letras que foi Óscar Ribas?


L.V- Este encontro era necessário para repor, a obra de Óscar Ribas, no lugar que ela merece e que na sua vida chegou a ter, e depois se perdeu e agora de novo está a ser reconhecido o valor da sua obra, este colóquio é muito importante por isso, porque a obra de Óscar Ribas, já vai se analisada não só por estudiosos e admiradores que a conheciam de antes, como agora já há novas maneiras de ver, por parte de novos leitores e novos estudiosos.


Enquanto escritor veterano, que apreciação faz da literatura que se produz actualmente da em Angola?


L.V- Eu, estou um bocado afastado do que se publica, porque infelizmente não posso fazer uma apreciação baseada no que leio, que infelizmente aparecem muito pouco, os livros de literatura que se publicam em Angola lá onde eu vivo, em Portugal, de modo que tudo quanto eu dissesse, se eu falar de um autor ou de um outro autor vou deixar de fora se calhar outros autores que eu não conheço, conheço dois novos poetas de que gosto muito, o Trajano Nacova Trajano, o Fernando Kafukeno, mas sei que há outros, também no domínio da prosa tenho lido alguns dos que vão publicando, mas com toda sinceridade estou desinformado sobre o movimento editorial do meu próprio país.


Sente alguma saudade do tempo em que esteve a frente da União dos Escritores Angolanos?


L.V- Não, saudades, nós todos temos saudades dos bons tempos da nossa vida, foi um bom tempo, podemos construir algumas coisas positivas, se calhar deixamos outras coisas por fazer, muitas vezes enveredamos, por orientações que nos pareciam as mas correctas naquele momento, e possivelmente depois o tempo veio demonstrar que não seria, mas no cômputo geral, fazendo um balanço de 75 à 90, acho que a União dos Escritores Angolanos, merece um reconhecimento no nosso país, fizemos o que devíamos ter feito na altura.


 Há uma questão que hoje se coloca, quando se analisa a literatura angolana, é o fenómeno da critica literária, no seu tempo havia um movimento critico mais dinâmico, hoje este aspecto é quase que ausente, que apreciação faz do cenário actual?


L.V- Este fenómeno da critica literária estar a reduzir e quase que a desaparecer da comunicação social, não é só em Angola, em todo lado, a critica literária foi um bocado substituída pelas recensões, rápidas nos suplementos que também são de leitura rápida, no noticiário que é de minuto rápido. Portanto, a crítica implica uma leitura atenta e demorada, e implica uma avaliação e hoje em dia tudo é muito rápido, parece que não Há tempo para avaliar, a crítica literária está a ser substituída pela informação, também porque. Entretanto os leitores, as camadas de leitores não só aumentaram em número, como os leitores aumentaram na sua percepção da literatura, e entende-se que basta informar para que o leitor tendo um livro, já tem uma certa capacidade para depois avaliar o livro, sem ser necessário que haja uma critica literária muito profunda que depois nos leva a comprar o livro. Agora, a crítica literária não pode desaparecer enquanto método de avaliação, e método de enquadramento do desenvolvimento de uma literatura Nacional.


Que papel podem jogar as faculdades de letras em Angola, quanto ao estudo do desenvolvimento literário?


L.V- Para já  neste sentido, de criar um estudo no domínio do desenvolvimento literário. Portanto, criar uma camada de pessoas interessadas em estudar, depois dar-lhes os instrumentos capazes de perceber esta realidade, e através dos estudos académicos, ampliar o número de leitores, como de críticos, no sentido geral, lhes permitam uma compreensão a um outro nível do que é a literatura nacional, e a obra dos seus escritores.

 

Em 2005, foi criada uma comissão multi - displinar, para inventariação da história da literatura angolana, que tinha como pretensão, fazer um draft, agora em 2009, tem alguma informação sobre a mesma, faz parte desta comissão?

 

L.V- Não, não faço parte da equipa, conheço alguns membros, soube que os trabalhos haviam de ser desenvolvidos, conheço esta data limite para publicação, logo na altura eu achei que era utópica, mas em fim, se não se persegue a utopia, nunca mas chegamos a lado nenhum, espero que consigam, pelo menos uma apresentação do trabalho que tem sido desenvolvido pelas diversas comissões.

 

Depois de muitos anos fora de Angola, esteve cá  das últimas vezes para a recepção do prémio nacional da cultura na categoria de literatura, que significado simbólico teve este premio para si?

 

L.V- Teve um significado muito especial que era o reconhecimento por parte das culturais do valor do meu trabalho, e isso, significou que esta avaliação positiva se deveu a continuidade na leitura, que vamos continuar a ter leitores, que tantos anos depois ainda a obra está disponível, pode ser lida é lida e o pouco ou muito mérito que teve merecei este reconhecimento.

 

Consta que no decorrer desta conferência, vai se fazer apresentação pública de um novo livro do Luandino, o que é que aborda nesta obra?

 

L.V- É uma fabula que eu recrie, é uma daquelas Histórias que eu ouvi dos meus companheiros de cadeia, umas me foram contadas em Kimbundu, outras me foram contadas em português, que eu agora que estou um pouco mais velho me sento e ponho me a escrever, e resolvi que uma delas Ngola Mucongo e a justiça, podia ser editada para esta conferência.

 

Ósca Ribas, foi uma figura que também de alguma forma o inspirou, que importância teve Óscar Ribas, na literatura feita por si?

 

L.V- Eu vou falar agora seguir, vou prestar testemunho sobre a influência de Oscar Ribas sobre mim, pelo meu trabalho literário, assim rapidamente o que eu posso dizer é que o escritor que eu hoje sou, não seria assim, nem poderia ser assim se eu não tivesse lido aos meus dezoito a vinte anos a obra de Óscar Ribas, tal foi a importância.


Segundo o professor Michel Laban, uma das entrevistas feitas por nós, dizia ele, que o Luandino Viera era dos autores que mas prazer lhe dava em ensinar aos estudantes, que os estudantes reclamavam pela dificuldade que tinham em perceber à sua literatura, mais depois de a perceberem, as outras obras eram muito mais fáceis de se perceber, que sentimento, tem em função do que acaba de ouvir, e de certeza que não é a primeira vez que houve?

 

L.V- É um sentimento de por um lado de reconhecimento e agradecimento por estas palavras do professor Laban, e de emoção e pena por ele já não estar entre nós, e poder continuar a estudar a nossa literatura, da maneira profunda como ele fez, e a ensina-la da maneira generosa como ele fez aos alunos.


Já  esteve no Makulusso, agora que chegou à Luanda?

 

L.V - Agora já lá passei, e Quinta-feira, eu penso que vou ao Makulusso, visitar o meu particular amigo, o Wayanga Xito, que mora ali no largo que agora se chama Ché Guevara, que é ali mesmo no centro do Makulusso.


Já  esteve na Igreja do Carmo, faço-lhe esta pergunta porque Michel Laban, dizia ele que sempre passasse por Luanda, ia visitar a Igreja do Carmo, porque tinha como referência as obras do Luandino Viera. Assim sendo, perguntamo-lo se já passou pelo Carmo?


L.V- Já passei! Passei de carro, e infelizmente no meio daquele trânsito não tive coragem para pedir ao motorista que parasse para eu entrar na Igreja do Carmo, que foi a Igreja onde eu aprendi as primeiras letras com o professor.


No Primeiro semestre deste ano, à paróquia do Carmo foi a única angolana que participou, no concurso das sete maravilhas de construção portuguesa em África, acompanhou este processo?


L.V- Não, não acompanhei eu vivo um pouco isolado destes processos, sobretudo quando são estes processos muito mediáticos eu nem ligo nem vejo televisão mas não acompanhei, agora não sei se é uma das sete maravilhas, é  uma belíssima Igreja, tem um valor patrimonial muito grande, é  uma Igreja muito bonita e é uma referência na cidade de Luanda.

Neste momento continua a viver da Bolsa de criadores?

Não, eu a muito tempo, só nos primeiros dois anos é que vivi da Bolsa que me foi atribuída, depois disto tenho vivido dos meus direitos de autor, e da pensão que me foi atribuída.

Tem alguma obra em carteira?


L.V – Vou trabalhar na publicação do terceiro volume do livro dos rios


O que é que aborda este livro?


L.V- O primeiro volume foi o livro do rios, o segundo ficou de sair agora em Setembro que é  o livro dos Guerrilheiros, e o terceiros livro ainda não sei o titulo, que é uma espécie de homenagem a Natureza e a Luta de Libertação Nacional.