Kuando Kubango - O padre Domingos Kassanga, é sacerdote diocesano de Menongue, pároco da Igreja do Kuchi, falou nos das dificuldades encontradas na sua Igreja, dos fies, dos apoios que a Igreja precisa para reabilitar à antiga paroquia que está totalmente destruída, e das suas perspectivas para os próximos tempos no Kuchi, a nível da Igreja em si.     


*Por Cláudio Fortuna
Fonte: Club-k.net

Senhor padre, nós tivemos a oportunidade de visitar aqui na zona Administrativa da vila do Cuchi, uma marca da antiga Igreja, gostaríamos que nos fizesse de forma resumária um histórico daquela Igreja que se encontra presentemente destruída. Quais são os elementos históricos que encerram o simbolismo daquele local que já foi de culto?

 

Pe. D.K – Aquela igreja pequena que está lá na montanha, é de 1956, pelos Missionários, que era considerada como Igreja do brancos, neste momento encontra-se infelizmente partida, como já considerada como monumento histórico, é uma tarefa que o Ministerio da Cultura está fazer no quadro do levantamento do monumentos e sítios históricos, para sua respectiva reabilitação, para além de ser um local histórico será também santuário.

 

Sabemos que passou para uma outra paróquia, aparentemente nova, qual é o estado actual da paróquia?

 

Pe.D.K- A paróquia é recente, antigamente pertencia a missão, mas agora com a nossa nomeação como primeiro pároco do Cuchi, tentamos criar as nossas estruturas com ajuda da Administração, e porque aquele espaço como está dentro do Municipio pertence a Santuário paroquial, para além da igreja paroquial que temos, uma vez reabilitada aquela Igreja da montanha, será pertença da paróquia, tal como a missão pode ser pertença da paróquia, como deve ter reparado aquilo é hoje um monstro adormecido. Portanto os padres redentoristas que receberam aquela missão em 1954, ainda não deram nenhum passo para sua reabilitação, nós estamos a fazer pedidos no sentido de tirar aquela Igreja da miséria em que se encontra, eu pessoalmente fiz a Chevron, estou a espera da resposta, de como aquilo pode ser reabilitado.


Uma das missões da evangelização, é ajudar o próximo, as condições sociais e a preocupação com o bem estar dos crentes, de uma maneira geral, qual é o estado social dos crentes no Município do Cuchi?

 

Pe. D.K- Bem, em termos sociais são pobres, eu tenho estado a dizer que o nosso povo vive com uma renda diária abaixo de dois dólares, veja que os grandes palcos que no tempo de guerra, tiveram destaque tanto da parte do governo como das forças armadas, que destruíram tudo, hoje em dia já não há este cenário. Portanto, uma das grandes prioridades tem sido o litoral e a capital do país, e nalgumas províncias privilegiadas, e as partes que mas precisam, que foram como que “quarta foco” o monumento 22 de Março que está ser erguido no Kuito Kuanavale, deve-se ao facto de ter sido lá o ponto que travou a invasão da entrada das tropas Sul Africanas, e de outras que quiseram ir se calhar até Luanda. portanto, para mim isto já é um sinal de reconhecimento quanto se fazem as coisas neste sentido, mas é preciso ter se em atenção que temos outras áreas, porque a guerra não se travou somente no Kuito Kuanavale, foi no Cuchi e noutras áreas, é assim que muitas missões foram destruídas, sei que em algumas províncias de Angola, algumas missões estão a ser reabilitadas pelo governo, graças a Deus aqui no Menongue já foi feita a reabilitação do bairro residencial da escola dos catequistas, mas as outras áreas estão quase que no esquecimento.

 

Há  um aspecto que nos chamou atenção, tem haver, com ausência do trabalho social da Irmãs, o que é que se passa?

 

Pe. D.K- Bem, em primeiro lugar é preciso que se criem condições de habitabilidade para quem quer trabalhar, eu pessoalmente que as pessoas que fossem para o Cuchi, encontrassem as mesmas condições que eu encontrei, tal com dizia Luis de Camões “ Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” se os missionários naquele tempo andavam de cavalo, por cima dos boi, isto não tem lógica hoje, eu pessoalmente fui ao chiengo de mota no natal, é um grande sacrifício, até porque o corpo humano não é uma maquina, é preciso que haja uma colaboração, só a nível da Igreja mas também a nível das autoridades eclesiásticas em si, e sobretudo é importante a colaboração do próprio estado, porque afinal, todos trabalhamos para o mesmo fim, que é o homem. Então, quer a Igreja como o estado queremos ver o bem estar do homem, a acção social como tal para as irmãs, precisariam de pelo menos uma residência, precisariam de uma meio loco motivo, para se movimentarem, porque o Cuchi não é só o Cuchi como vila, o Cuchi tem três comunas e varias localidades como o Luacenha, o Dongo do Kandjema, o Muene Mukuva, Cinguaje, é preciso que se vá lá no cantinho do Município, onde há gente que sofre mas do que os que vivem na vila do Cuchi, a acção social das Irmãs, nós por acaso temos a ideia de se tudo correr bem, e com base nas ideias positivas de algumas pessoas cá, gostaríamos com ajuda destas pessoas edificarmos no Cuchi, um colégio onde podíamos recolher todos os miúdos que andam pelo interior do Municipio, para que venham para o Cuchi, formarem-se, para que este projecto seja possível, precisamos de alguém, para fazer este trabalho, para o caso as Irmãs, e paralelamente a isto podiam atender a questão da escola e da saúde, só depois de riadas estas condições é que podemos ter Irmãs aqui, eu estou aqui a casa que se está a construir não é a Igreja que está a fazer, a Igreja paroquial não é a Igreja como diocese que a fez, foi Administração, e a residência está ser edificada no âmbito do governo da província, precisamos ver se com ajuda destas pessoa podemos construir um Mini Lar, e neste caso teríamos as Irmãs para poderem desenvolver o seu trabalho, porque a parte femenina é sempre necessária para formação do homem.


Tem uma noção do número de fies católicos que residem neste momento no Cuchi?

 

Pe. D.K- Nós ainda não fizemos um senso, mas de qualquer maneira, isto já se viu e está provado que em algumas localidades já não existem outras igrejas que não sejam católicas, desta vez que estive no Cutato, procurei saber quantos habitantes e quantos católicos estão lá, é um trabalho que vamos desenvolver futuramente.


Há  uma questão que tem haver, com as missas, nas outras paróquias um pouco por todo pais, não como é que é a nível do Kuando Kubango, mas nas outras localidades há pelo menos uma missa por dia, e as habituais missas de final de semana, o que é facto é que aqui só existem uma missa semanal que é realizada aos Domingos, qual é a razão senhor padre?

 

Pe. D.K- Para que nós tenhamos missas como se calhar é desejo de muitos, é preciso termos em atenção ao senso populacional das pessoas que vão a Igreja, eu não vou rezar cinco missas para duas pessoas em cada missa, melhor agrupar todos numa só missa, e naturalmente que o padre deve ser inteligente, quando faz a sua homilia, tem que tocar as sensibilidade dos que estão assistir a missa, se calhar devíamos ter missas diárias, e não semanais, mas o padre não é residente, até porque a residência ainda não está concluída, e a casa onde está tem infiltrações por todos os lados, acho que também é prejudicial a saúde, mesmo que sejamos heróis, santos ou mártires, é preciso que nos poupemos um bocado, e depois tenho um veiculo que me movimento que é de 1991, que já esta a caminho de duas décadas. Quer dizer, já não suporta, teve a oportunidade de ver como é que a estrada está, uma viatura de 1991, vai aguentar? É impossível.

 

E as missas atendendo a natureza dos seus habitantes, não há a pretensão de ser celebrada em língua nacional Nganguela? 

 

Pe. D.K.- Eu costumo fazer isto, quer dizer grande parte do povo não falar muito bem português, eu quando faço as minhas homilias falo sempre em bilingue, o mesmo sucede com o evangelho, julgo que com o tempo quando o padre residir definitivamente no Cuchi, já se poderá saber, e dizer que os rezam em português, passam para missa x, e os rezam em Nganguela, passa para missa y, já dará para se fazer uma programação, mas olha eu só apareço quando posso, e muitas vezes de boleia, não é possível fazer qualquer programação do género.

 

Qual é o apelo que gostava de fazer as pessoas de boa vontade e entidades ligadas a igreja católicas no sentido de o apoiar?

 

Pe. D.K- Eu acho que ao nível do Município do Cuchi, eu não me queixo tanto, porque tenho tido uma grande solidariedade e apoio, quando vou para alguns Municípios tenho contado com os préstimos de muitas pessoas singulares ou oficiais, desta vez sai do Cuchi para o Malengue de caminhão da Administração, do Malengue para o Kutato fui de mota, do Kutato para o Chiengo fui de mota, o apelo que a gente faz, é que cada um na medida que pode veja as prioridades que tem sobre o nosso povo, o povo aquém nós governamos, tanto a nível do governo como a nível da Igreja, quem tiver alguma coisa para nos ajudar neste domínio que o faça que nós receberemos com todo gosto.