Luanda - A jovem Nerika Loureiro, que está a ser acusada de assassinar o seu esposo Lopo Loureiro com 11 golpes de tesoura por volta das duas horas da manhã do dia 1 de Abril, já foi apresentada esta semana ao representante da Procuradoria-geral da República junto da Direcção Provincial de Investigação Criminal de Luanda (DPIC), segundo fontes deste jornal.


Fonte: O Pais

A acusada chegou a Angola por volta das 18 horas e 40 minutos do dia 31 de Março, num dos aviões da TAAG que fazia a escala Lisboa-Luanda, em companhia da sua mãe Beatriz da Conceição e dos seus dois filhos, Naio e Ângelo Loureiro, de dois anos e de dez meses, respectivamente.

 

A esposa do se deslocara a Portugal para gozar 15 dias de férias, conforme atestam os familiares do malogrado esposo. O primo mais velho da vítima, Hermenegildo Bravo da Rosa, não descarta a possibilidade da sua cunhada ter se deslocado àquele país para fazer consultas médicas, como se cogita em muitos círculos, mas assegura que esta não era a condição primária da viagem.

 

Segundo Bravo da Rosa, ela é funcionária da Sonair e havia se deslocado a Portugal para desfrutar os 15 dias de férias em companhia dos filhos e da mãe. Em momento algum se avançou a possibilidade de que ela tenha ido exclusivamente para fazer check up médico, na versão do primo do finado.

 

Este jornal apurou que, às 21 horas e 45 minutos do dia 1 de Abril, Lopo Loureiro enviou uma mensagem para um dos seus colegas do Banco de Poupança e Credito (BPC) avisando-o que a sua família havia chegado bem das terras de Camões e que levou a sua sogra à casa. Depois de deixarem a senhora Beatriz da Conceição na sua residência, o casal rumou para o seu apartamento no bairro Nova Vida, onde algumas horas mais tarde veio a acontecer o infortúnio.


“Nós acreditamos que aquilo aconteceu as 2h30 da manhã, porque ela saiu dali até à casa dos seus pais na Maianga e para fazer este percurso levaria no mínimo 30 minutos”, declarou Bravo da Rosa.

 

Ao chegar à casa dos progenitores, Nerika Loureiro deixou as crianças no carro e subiu ao apartamento para os avisar sobre o que havia sucedido.

 

De seguida, a jovem deslocou-se à Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) para pedir asilo, mas foi rejeitada.

 

“Chegou lá a dizer que estava a ser perseguida e ameaçada de morte e ao verem o seu estado de choque os oficiais da Polícia Nacional que ali se encontravam tentaram acalmá-la. Se às 3 horas e 45 minutos já estava na embaixada dos EUA quer dizer que esteve alguns minutos antes em casa da mãe, o que leva a crer que o crime não aconteceu a esta hora conforme alega”, acrescentou o primo da vítima. O facto de não ter sido bem sucedida no território americano terá concorrido para a acusada se deslocar posteriormente à Embaixada Portuguesa, por volta das 4h30, em companhia de um dos agentes que protegia aquele local. Ao ver que teria de esperar que os serviços diplomáticos abrissem, ligou para uma das suas colegas da SONAIR para contar o que havia cometido.

 

“Permaneceu muito tempo dentro do carro com o roupão de noite cor verde cheio de sangue e apareceu o cunhado, marido de uma das irmãs dela, que levou-a novamente à embaixada dos Estados Unidos. Só que foi detida pelos agentes que estavam num carro da patrulha que passava pelo Eixo Viário e levaram-lhe para a 2ª Esquadra da Policia Nacional”, detalhou o jovem.

 

Hermenegildo Rosa conta que enquanto a jovem fazia estas movimentações a sua mãe se deslocou ao apartamento do casal para constatar ‘in loco’ o que se passou, tendo se retirado de seguida e ligado para empregada a fim de ela ir abrir a porta de casa para as autoridades policias fazerem o seu trabalho.

 

O primo acredita que a mãe da suposta homicida tomou conhecimento dos acontecimentos às 3h00 da manhã, ligou para a Policia às 8 e só compareceu em casa dos pais de Lopo por volta das três horas da tarde, numa altura em que toda a família do assassinado já havia sido avisada.

 

Antes mesmo de se aperceberem sobre o que acontecera no apartamento do Nova Vida, os familiares já haviam recebido telefonemas de amigos do casal a partir de Londres e que se manifestavam aflitos em querer saber o que havia se passado.

 

Os familiares de Lopo Loureiro dizem estar surpreendidos e que não encontraram ainda nenhuma explicação plausível porque eles não aparentavam ter problema.

 

“Pela dimensão do crime tudo leva a crer que ela não terá feito aquilo sozinha, aliás até os próprios investigadores também presumem isso e dizem que ela só conseguiria fazê-lo se tivesse dopado antes a vítima”, acredita o nosso interlocutor.

 

Hermenegildo da Rosa contou que o casal vivia junto há cinco anos e que sempre tiveram uma relação bastante harmoniosa, visto que nunca transpareceu terem problemas graves. “Ele sempre foi um indivíduo que por natureza sempre foi muito meticuloso, prudente, organizado e que sempre primou pelo seu lar, que no seu entender, era a mulher e os filhos”, frisou.

 

Os filhos do casal encontram-se em casa de um dos parentes da advogada Nerika Loureiro.

 

Silêncio absoluto

 

Os familiares de Nerika Loureiro recusam-se a prestar quaisquer informações à imprensa, alegando que ela não ajudou em nada no esclarecimento da verdade e que divulgou de princípio uma informação deturpada.

 

“Fiquem apenas com a informação que vos foi passada pelos familiares do malogrado, porque nós não queremos nada, nada, nada... com os meios de comunicação social”, demarcou-se a senhora Adélia de Carvalho, prima da acusada.

 

“Se os parentes do jovem forem honestos e credíveis darão toda informação necessária, porque até o dia em que o Lopo Loureiro morreu ela era nora e isso fazia com que fosse considerada lá em casa como uma filha. É assim que a consideravam, senão não temos nada a ver com isso”, explicou.

 

Questionada sobre as razões que levaram a sua prima a Portugal em companhia dos seus dois filhos e da mãe, Adélia de Carvalho disse desconhecer. Ela acredita que tudo está a ser especulado e ainda que soubesse não daria nenhuma informação por causa da deturpação que houve na divulgação da ocorrência.

 

Quanto à forma como os parentes do jovem estão a caracterizar a acusada, Adélia de Carvalho considera que é natural que eles tenham essa opinião.


 

Perfil do malogrado

Nos vários elogios fúnebres proferidos no cemitério do Alto das Cruzes pelos familiares, amigos e colegas de trabalhos, antes do sacerdote que presidiu ao acto ter ordenado que depositassem os restos mortais de Lopo Loureiro na cova, o jovem foi descrito como sendo uma pessoa humilde, respeitoso, paciente e dedicado nos seus afazeres diários.

 

A grandiosidade do amor que nutria pelo próximo foi manifestada publicamente por três cidadãos que se dedicavam a lavagem da sua viatura, exibindo cartazes manifestando a sua tristeza e repúdio a esta barbárie.

 

O jovem, que trabalhava na direcção de Corporate do Banco de Poupança e Crédito (BPC) desde 2007, estava prestes a abandonar este posto para integrar o departamento de negociações da petrolífera angolana Sonangol.

 

Lopo Loureiro nasceu em 1975 e iniciou os estudos primários na escola São João, no bairro Popular, de onde passados três anos foi transferido para uma das escolas localizadas na Vila Alice, onde veio a concluir o ciclo primário. O facto de naquela instituição não leccionar as classes subsequentes fizeram com que os seus pais o matriculassem em 1987 na escola do primeiro e segundo nível Zinga Mbandi.

 

Após à conclusão desta fase, isto em 1990, passou a frequentar o curso médio de Ciências Sociais, no Centro Pré Universitário da Ingombota. Três anos depois deslocou-se a Lisboa, onde através de um acordo existente entre Angola e Portugal, teve que frequentar a 12ª classe para depois inscrever-se no curso de gestão e administração pública, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa.

 

Em 2002 partiu para a cidade de Abeerden, na Escócia, a fim de estudar a língua inglesa e em Setembro do ano seguinte foi admitido para frequentar o segundo ano do mesmo curso superior que frequentava nas terras de Camões, na universidade com o mesmo nome desta cidade. Apesar de a ajuda que recebia do seu irmão Caló, que residia naquele país há mais tempo, decidiu trabalhar em part-time na cadeia de supermercado Haja.

 

Após concluir o curso superior de gestão de empresa, em 2007, regressou a Angola e começou a estagiar na Endiama, mas em Outubro do mesmo ano pós fim a essa etapa para exercer a função de gestor de contas do BPC. Função que exerceu até à data da sua morte.

 


Sociólogo aponta causas e Polícia pede calma

 

O sociólogo Afonso Francisco considera que entre as varias situações que podem estar na origem do assassinato destacam-se os factores económicos e de infidelidade conjugal.

 

“Há pessoas que por mais dinheiro que têm não prestam assistência financeira aos seus filhos e, por outro lado, a infidelidade pode provocar uma reacção inesperada à mulher que pode leva-la a praticar tamanha barbárie”, explicou o sociólogo, acrescentando que dou “a minha opinião baseando-se em suposições porque não existem muitas informações credíveis à volta do assunto”.

 

O nosso interlocutor explicou também que uma acção deste género depende muito do tipo de convivência que há entre o casal, mas pensa que existem casais que vivem em perfeita harmonia, mas “que por uma simples coisa um dos dois acaba por cometer um homicídio sem ter premeditado”.

 

Afonso Francisco disse ainda que o facto de ambos pertencerem à classe média não é suficiente para descartar a possibilidade do crime ter sido originado por causa disso.

 

“Existem muitas situações que podem estar na base deste incidente e para se fazer a análise sociológica da situação é necessário descrever a convivência que existiam entre o casal e os factores socioeconómicos”, acrescentou.


No entender do sociólogo, se os filhos assistiram à carnificina poderão ter problemas psicológicos no futuro, visto que a mente das crianças é virgem e regista tudo aquilo que ela vê, que lhe transmitem e que lhes ocultam. Eles poderão ter um trauma que só poderá ser curado com a ajuda de um especialista. O porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, superintendente chefe Jorge Bengue, disse a este jornal que o jovem terá sido assassinado por volta das 3 horas e 30 minutos e os efectivos da Esquadra do Nova Vida só tomaram conhecimento da ocorrência através de um telefonema efectuado pela senhora Beatriz da Conceição, mãe da acusada, às oito horas e 30 minutos.


Quando os efectivos da polícia chegaram no local, encontraram o corpo da vítima deitado no chão trajado de camisola e calção de noite.

 

“Pedimos às duas famílias para não se gladiarem entre si porque as investigações estão em curso para se apurar o que realmente aconteceu. O mesmo pedido é extensivo aos órgãos de comunicação social para não interferirem no processo”, rematou o porta-voz do Comando de Luanda.