A apreciação relativa aos apoios e confortos políticos e diplomáticos internacionais de que o Governo dispõe reflecte a realidade. As apreciações que se referem à origem das acções armadas registadas no território e à adesão da população ao Memorando de Entendimento, são
descritas  como desfasadas da realidade.

Na atitude das autoridades angolanas relativamente à questão de Cabinda tem sido notada falta de convergência entre os pontos de vista emitidos em público e em privado; os pronunciamentos optimistas, como os do PM, são considerados de pendor propagandístico  ou baseados em informação deficiente (relatórios do Sinfo).

O PR, José Eduardo dos Santos (JES), que centralizou em si próprio o processo de decisão política referente a Cabinda, nunca se referiu publicamente ao Memorando de Entendimento em termos encomiásticos – inferidamente para não se comprometer com uma solução na qual, de
facto, parece depositar diminuta confiança.

JES não esteve fisicamente presente em nenhum dos actos oficiais que marcaram a conclusão do Memorando de Entendimento; a cerimónia de assinatura do mesmo teve lugar no Namibe (não em Luanda), tendo a representação do Estado sido confiada ao presidente da Assembleia
Nacional, Roberto de Almeida.

2 . O recente reforço/reorganização do dispositivo militar em Cabinda, assente numa quadrícula de malha apertada, foi ditado por previsões internas, DPRI/EMGFA, de acordo com as quais a FLEC tenderá a escalar as suas acções no período eleitoral, para o que terá constituído um
stock de minas anti-carro e treinou pessoal em emboscadas.

Os principais comandantes militares da FLEC, cerca de 15, incluindo o actual CEM, Estanislau Boma, foram treinados na década de 80 por instrutores sul-africanos especializados em operações especiais; o treino dos novos combatentes é assegurado por alguns dos antigos
comandantes, entre os quais Vera.

3 . A política do Governo para Cabinda não suscitou, comprovadamente, a adesão da população do território – antes pelo contrário. É nítido que os sentimentos de rejeição do Memorando de Entendimento cresceram, embora permaneçam dissimulados, e que tal clima é especialmente
sentido pelos signatários do acordo.

Por exemplo:
- Bento Bembe, nas suas raras deslocações a Cabinda (vive em Luanda) ou em visitas no interior do território, apresenta-se sempre rodeado de uma escolta pessoal armada; é alvo de furtivas provocações (zombarias).
- Os indivíduos apresentados como generais da FLEC e dados como aderentes do Memorando de Entendimento, a maior parte dos quais considerados impostores,  vivem, de facto,  em Luanda. A desconsideração a que a população vota os cabindas que subscreveram ou se comprometeram com o Memorando de Entendimento, é alimentada pela convicção generalizada de que o fizeram movidos por oportunismo político ou material, mas não por convicção – e neste aspecto há um sentimento compassivo.

Um antigo vice-governador de Cabinda, Futi, presentemente conselheiro do chefe da Casa Militar da PR para os assuntos do território, tem um humor variável em relação à situação, dependendo o mesmo da receptividade, maior ou menor que vai notando à sua aspiração de vir a substituir o actual governador.

4 . O efectivo insucesso do Memorando de Entendimento foi agravado por três factores principais:
- As elites verdadeiramente representativas e prestigiadas da sociedade cabinda, incluindo a que integra o regime do MPLA, foram
marginalizadas do processo (os signatários do acordo com o Governo não têm credibilidade).
- O processo de dividiu a Igreja Católica local;  a unidade da Igreja, como instituição mais implantada no território, seria vantajosa e não o contrário como garante de uma solução política duradoura.
- Os efeitos perversos para o Governo do recurso à repressão política e do emprego da força militar como meios para fazer valor o Memorando de Entendimento.

5 . Os sentimentos nacionalistas/separatistas que a juventude cabinda denota são mais exacerbados do que os que conotam gerações mais velhas. A evidência tem merecido  interpretações políticas como a seguinte:
- As autoridades de Luanda precisam de contar com as gerações cabindas mais antigas para alcançar uma solução que preserve a soberania de Angola sobre o território; conhecem-se melhor e têm um passado comum.
- Uma solução política para Cabinda será mais custosa com a nova geração,  sobretudo se a geração mais velha já não poder exercer influências moderadoras junto dos mais novos.

Fonte: Africa Monitor