Luanda - Com base na obra de Nito Alves, ” Memória da Longa Resistência Popular”, editada pela África Editora em 1976, procura-se traçar aqui o perfil do Guerrilheiro, do Poeta e sobretudo do Revolucionário.


* A.Quissua
Fonte: ZONA SUL EM LINHA

Nito Alves 1945-1977

Falar do 27 de Maio é doloroso para qualquer família

Acreditando que a Revolução podia ser comparada a uma monstruosa elevação feita de vertentes escarpadas e difíceis de transpor e que só os fortes e persistentes a poderiam escalar, Nito Alves, fiel ao heróico Povo Angolano, aos guerrilheiros e a todos os colegas de armas e sofrimento, abatidos durante a guerra, seguiu o seu exemplo até às últimas consequências possíveis da sua opção política.


A 23 de Julho de 1945, na aldeia do Piri, concelho dos Dembos (actual província do Kuanza Norte ) nasceu em Angola, Alves Bernardo Baptista, filho de Bernardo Baptista Panzo e de Maria João Paulo.


Teve uma infância e adolescência, profundamente marcadas pela agressão e hostilidades permanentes de condicionalismos sociais e políticos que o rodeavam e comprimiam, frutos malditos do colonialismo opressor que mantinha ferozmente dominada a sua pátria e o seu povo.


Falando um dia de si afirmou:
«A minha infância é comum à de todas as crianças na minha dura condição de jovem, numa aldeia sem luz eléctrica, nem água canalizada, nem um mínimo de requisitos.»


«A minha instrução primária foi toda ela feita na Escola Rural da Missão Evangélica do piri.»
«Tinha eu treze anos de idade, quando comecei a sentir em mim um sentimento de revolta consciente contra o colono e que hoje explico fundamentalmente por quatro fenómenos que recordo com nitidez, pois marcaram-me profundamente:»


E que acontecimentos influenciaram então decisivamente este jovem de 13 anos?


O facto de um Missionário protestante, obrigar os alunos a ir nas férias para a roça dos colonos colher café.


O cenário de sangue que frequentemente se desenrolava ante os seus olhos em que mulheres e homens-contratados eram forçados a colher café nas plantações cafeícolas da então Sousa Leal, do alemão Kay.


O da visão que este jovem tinha do drama do ajudante negro que passava em cima da camioneta do colono, sempre de cabelo enevoado de poeira.


O facto de ter sido reprovado no exame da terceira classe e de ouvir a justificação do padre católico que presidia ao júri: «ele sabe aritmética, fez bom ditado, boa cópia, um desenho regular, mas tem de reprovar porque é protestante e não sabe a Ave-Maria!»


«Concluída a instrução primária em 1960, parte para Luanda onde seu pai conseguiu matriculá-lo…Ganha uma bolsa de estudo e parte para o Quéssua, Malange, onde faz o segundo ano liceal. Regressado a Luanda, frequenta o Colégio da Casa das Beiras…»
Nito Alves nunca esqueceu a Directora daquele Colégio, Olívia de Oliveira Martins Conde, que terá contribuído decisivamente para que ele terminasse o 2º ano do ensino liceal.

 
«Em 1966 começa a trabalhar na Direcção Geral da Fazenda e Contabilidade, em Luanda, tentando simultaneamente prosseguir os estudos, no curso nocturno do 6º ano do então chamado Liceu salvador Correia. Entretanto, vinha desenvolvendo desde 1965 intensas actividades políticas clandestinas que acabaram por o tornar alvo das atenções da PIDE. Muitos dos seus camaradas são presos e enviados para o terrível campo de S. Nicolau. Nito Alves, porém, no próprio dia em que iria ser preso (6 de Outubro de 1966), consegue escapar-se às garras daquela sinistra polícia.»


«Alves Bernardo Baptista e Lima Pombalino Martins (Tadeu )…,chegam à Primeira Região Político Militar do MPLA no dia 9 de Outubro de 1966»


«Sob o comando de um então já bem conhecido comandante militar, Jacob Alves Caetano, cuja lenda corre todo o norte de Angola como o grande Comandante Monstro Imortal…, instala-se na área do esquadrão Cienfuegos e anima-se toda a região.»


«Intenso e duro treino de guerrilhas aguarda o jovem Alves Bernardo Baptista: todo o ano de 1967 é o teste de sangue e fogo em que presta brilhantes provas. Em 1968 com a chegada de parte dos sobreviventes do Esquadrão Kamy, Nito Alves é chamado para a direcção do CIR. Até 1971 mergulha a fundo no estudo do Marxismo-Leninismo, como autodidacta que a própria luta quotidiana vai caldeando em permanente apuramento.»

 

«O ano de 1973 findava carregado e negro de perspectivas para os homens da Primeira Região. O cerco de ferro e de fogo do colonialismo agónico, apertava-se sobre a Primeira Região Militar», e foi contado assim:
«Guerra sem frente, nem retaguarda / «faltaram as munições» / «Vieram os “Flechas”», os “G.es” e “T.es” / «fizeram tiros na noite e na madrugada/ e mataram, mataram, assassinaram, assassinaram». E «vieram as doenças inimagináveis» e o monstro da fome com o seu cortejo de mortes». Porém, «O Povo não se rendeu». Na Primeira Região Militar de Angola, no mais aceso e desesperado cerco de ferro e fogo que o colonialismo cada vez mais ia apertando, «esgotaram-se todas as leis da guerrilha e toda a inteligência militar», reúnem-se os responsáveis político militares …
 

Nestes excertos do seu livro, faz-se referência a um dos momentos mais decisivos da luta da 1ª Região Político Militar. Esse momento em, que reunidos os mais velhos, se encarou a hipótese de parar a luta pelas dificuldades inultrapassáveis face à pressão do exército colonial, da FNLA e ao isolamento a que esta região militar estava votada pela impossibilidade de receber apoios da Direcção do MPLA no exterior. No entanto, esse isolamento era também na altura a realidade de todo o MPLA, que esteve mesmo em vias de ser esmagado no exterior de Angola, pela pressão de muitos estados Africanos contra a direcção de Agostinho Neto.

 
Nito Alves teve neste contexto, em meados de Janeiro de 1974, um papel decisivo quando foi designado pelos mais velhos para ir a Luanda clandestinamente em busca de apoios e para estudar hipóteses de lançar a guerrilha urbana. Fê-lo juntamente com o seu velho companheiro de aventura e guerrilha o camarada Adão. Sabe-se que muitas portas se lhes fecharam quando se anunciaram aos contactos de ligação que existiam. Ficaram por se saber alguns desses nomes que bateram as portas, no entanto dois nomes ficaram na história de um encontro, o de Albertino Almeida e do Dr. Macmahon Vitória Pereira. Estes receberam e apoiaram Nito Alves que no seu regresso levou à 1ª Região as boas novas que por lá soaram como um sopro de esperança de uma reviravolta eminente em Portugal. Cerrou-se então fileiras entre os combatentes para resistir por todos os meios ao desânimo que se apoderava de todos.
 

Nito Alves regressa a Luanda em Maio de 1974, depois do 25 de Abril em Portugal. Os contactos com Zé Van-Dunem,Valentin, Betinho e outros nessa ocasião, preparam as condições para se deslocar a Brazzavile a um encontro em Agosto com o Presidente Dr. Agostinho Neto. Participa depois em representação da 1ª Região Político Militar no Congresso de Lusaka na Zâmbia aonde apoia Agostinho Neto contra as oposições internas da Revolta Activa e da revolta de Chipenda. Participa na Conferência Inter-Regional de Militantes nas chanas do Leste de Angola, logo depois do Congresso e da assinatura dos acordos de paz com o Exército Português.

 

Na CIRM de 1974, o também chamado congresso dos partidários de Agostinho Neto, dá-se o encontro dos combatentes das matas vindos das várias regiões político militares com os do exílio e com os activistas das células clandestinas de Luanda. Nito Alves como representante da I Região Político Militar em estreita ligação com José Van Dunem dos comités clandestinos, tem ali um papel determinante na adesão da maioria dos dirigentes e chefes militares à liderança política de Agostinho Neto bem como da caução política que este recebe dos sectores simpatizantes dos centros urbanos . É eleito para membro do Comité Central entre os 34 militantes que sai da CIRM.


Nito Alves tem um papel importante no afluxo em massa de centenas de jovens citadinos aos CIR- Centros de Instrução Revolucionária a partir do mês de Setembro, destacando-se durante toda a segunda guerra de libertação nacional , contra as forças concertadas da África do Sul e do Zaire, que tentaram impedir a Independência de Angola a 11 de Novembro de 1975.


Grande mobilizador da massa militante do MPLA nas cidades, à frente do DOM Nacional (Departamento de Organização de Massas), homem com grande capacidade organizativa, dedicado às tarefas da revolução a cada momento, Nito Alves foi nomeado a 15 de Novembro de 1975 Ministro da Administração Interna da jovem República Popular de Angola. Nessas funções, dirigiu a organização Administrativa do país até à III reunião Plenária do Comité Central do MPLA em Outubro de 1976, implementando a Administração do território através da figura dos comissários provinciais. Foi ainda o obreiro da lei do poder popular, que criou ao nível local organismos de gestão dos problemas das populações.


Na III reunião plenária, em Outubro de 1976, Nito Alves é suspenso das funções que desempenhava no governo e no Movimento, juntamente com José Van Dunem a pretexto da acusação de terem sido protagonistas de um 2º MPLA. Estes dirigentes teriam segundo a versão oficial, de uma forma Fraccionista, reunido numa estrutura paralela grande parte da massa militante do MPLA. Estes dois dirigentes ficaram suspensos das suas funções durante um período de mais de 6 meses, aguardando as conclusões de uma suposta comissão de inquérito que apenas os ouviu em Fevereiro de 1977. Acabaram por ser expulsos do MPLA a 21 de Maio de 1977, numa reunião magna de militantes, convocada pela direcção, presidida por Agostinho Neto e realizada na cidadela em Luanda.


Vendo-lhe negado o direito à defesa e sujeito a toda uma campanha de calúnias e ataques pessoais públicos, conduzidos pelo único órgão de imprensa existente, o Jornal de Angola, dirigido por Costa Andrade, N`Dunduma, Nito Alves acabou por ser condenado antes mesmo de ser ouvido. Em legítima defesa, escreveu então as famosas “13 Teses da minha defesa “, com o intuito de dar a conhecer aos restantes membros do MPLA, bem como às organizações de massas e regionais as razões do seu afastamento.


Tal documento, ao ser divulgado indiscriminadamente, deu origem ao aumento da repressão sobre a massa militante , tendo na altura muitos deles sido conduzidos às cadeias, apenas pelo simples facto de as terem lido ou de a elas se referirem.

 
Nos seis dias posteriores a 21 de Maio, Nito Alves terá então encabeçado um movimento de contestação aberto às medidas repressivas da direcção do MPLA, em particular em Luanda, que não tendo as características de um golpe de estado , que lhe atribuíram, teve contudo o apoio dos sectores militares determinantes.

 
Estes acontecimentos terminaram a 27 de Maio de 1977, com a intervenção do exército cubano, em defesa da ala de Agostinho Neto. Não se sabe até hoje se Neto terá sido o principal mentor da acção repressiva que se seguiu ao dia 27 de Maio, ou se manietado por uma outra força mais poderosa e sombria, ficou prisioneiro das sua opções de momento ao apoiar a minoria contra a massa de militantes contestatários.

 

No rescaldo dos dias posteriores ao chamado “ Golpe de Estado “, Nito Alves terá fugido para a sua região de origem, a célebre I Região Político Militar do MPLA, aonde acabou por ser apresentado à televisão como supostamente capturado pelas populações locais. A confirmar-se a hipótese de ter sido feita uma montagem da sua captura, tal confirmaria a hipótese apontada por muitos de se ter ele próprio vindo entregar a Luanda a fim de evitar mais mortes. Sabe-se também que depois de preso, foi selvaticamente torturado e humilhado. Recentemente, houve o testemunho de um militar de nome João Kandada, a residir em Espanha, que assumiu o ónus de o ter fuzilado sob ordens de Iko, Onambwe e Carlos Jorge, estando ainda a assistir Ludy Kissassunda Veloso e outros. Este confesso assassino diz ter cometido tal crime a mando da chefia da DISA, reconhecendo ainda que corpo do lendário comandante da I Região Político Militar, foi posteriormente atirado ao mar com pesos para se afundar. Confessou também na mesma entrevista, publicada no jornal “folha 8” de 26 de Maio de 2001, que a célebre ambulância com os heróis carbonizados, teria feito parte do plano para diabolizar os apoiantes de Nito Alves tendo sido o mesmo concebido e executado por pessoas da DISA.


O mistério da sua morte, obscurece-se com o passar dos anos, em que os dirigentes ainda vivos, silenciando as suas vozes se mostraram até agora incapazes de confessar os hediondos crimes, pretendendo ocultar às gerações futuras factos históricos relevantes da Nação Angolana. Sabe-se também, que a título póstumo, Nito Alves terá recentemente sido promovido de Major a Brigadeiro.

 

Nito Alves disse um dia: « Os que fazem a História nem sempre podem escrevê-la»
 

A fracassada Intentona Golpista Ocorrida em Angola em 1977:


24 Anos de Omissão e de Duvidas.

O 27 de Maio de 1977 entrou para história de Angola, como um dos momentos de maior convulsão popular que o país já viveu, ultrapassando de longe os acontecimentos ocorridos no período pós eleições em 1992, neste dia um grupo de militantes do MPLA tentou sem sucesso aplicar um golpe de Estado e derrubar do poder , o regime do presidente Antônio Agostinho Neto.

 
Este foi liderado por Nito Alves, que lutara no MPLA desde 1961, após a primeira sublevação do movimento ter falhado. Quando se deu o golpe militar em Portugal, em 1974, ele era o líder militar e político do MPLA, na difícil e densamente arborizada região dos Dembos, a nordeste da capital - Luanda, isolada e, em conseqüência, consideravelmente independente de outros lideres, com as suas bases instaladas e refúgios fora do pais. Durante o período do governo de transição, transformou-se no líder dos militantes do MPLA nos musseques de Luanda, onde organizou os comités denominados <>, que lutaram primeiro contra os portugueses brancos, antes de se voltarem contra a FNLA e expulsá-la da cidade.


Angola conquistará a independência um ano e alguns meses antes e havia no seio do MPLA segundo os fraccionistas , uma desvirtuação dos ideais para os quais muitos militantes haviam lutado.

 
Houve uma grave cisão, no seio do MPLA, entre os chamados "moderados" empenhados num crescimento cuidadoso e gradual, congregados à volta de Agostinho Neto e Lopo do Nascimento, e uma fracção "radical", com Nito Alves a cabeça, que objetava à predominância de mestiços e brancos no governo.

 
Segundo os radicais "as pessoas brancas e de sangue misto desempenhavam um papel fortemente desproporcionado no funcionamento do governo de uma nação predominantemente negra". Porém , naquela época já existiam negros que faziam parte do poder, ate porque o presidente Neto insistia na tese de querer implantar em Angola um governo multirracial, mas alguns desses integrantes do governo viam a oportunidade de conquistar mais fatia do poder lançando abertamente um apelo racista às massas, como Nito Alves quando em um comício em dos bairros periféricos de Luanda, afirmou que " Angola, só seria verdadeiramente independente quando brancos, mestiços e negros passassem a varrer as ruas juntos".


Nito Alves era considerado por alguns como o segundo homem do poder, a seguir a Agostinho Neto, e fora nomeado ministro do Interior, quando o MPLA formou o primeiro Governo de Angola. Porém, o descontentamento de Nito Alves com a alegada orientação de Agostinho Neto a favor dos intelectuais urbanos mestiços, tais como Lúcio Lara, influente histórico e um dos principais ideólogos do partido, o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Jorge, e o ministro da Defesa, <> Carreira ( morto recentemente), constituiu foco de visão no seio do Governo e, em Outubro de 1976, Nito Alves foi condenado por fraccionismo e expulso do seu ministério.


Nito Alves conservou o seu lugar no Comité Político Central do partido dos camaradas, mas espalharam-se rumores de que, juntamente com outros <>, como chamavam os seus adeptos, conspirava contra o Governo. Apareceram panfletos clandestinos em que atacavam, em termos racistas, os portugueses brancos que trabalhavam como cooperantes para o Governo Angolano.

 
Neto mandou então que fosse criada uma comissão de inquérito para investigar as alegações segundo as quais Nito Alves e um outro membro do comité central, José Van Dunem, comissário político das Forças Armadas Angolanas, no Sul de Angola, e outros nitistas no seio do MPLA teriam, deliberadamente, engendrado carências alimentares, de forma a gerar o descontentamento das massas. O Comité Central reuniu-se a 20 e 21 d Maio de 1977 e expulsou Nito Alves e José Van Dunem.


Seis dias mais tarde, tiveram inicio as tentativas de golpe de Estado, quando as tropas nitistas atacaram a prisão de São Paulo, em Luanda, e outros pontos chave com morteiros e espingardas automáticas. Foram mortos dez líderes superiores do Governo e militares, incluindo três membros do Comité Central, e o ministro das Finanças, Saydi Mingas. Os cubanos não se mantiveram neutros. Aliaram-se ao Presidente Agostinho Neto e, os fraccionistas tomaram ainda vários pontos estratégico de Luanda sendo o mais importante a Rádio Nacional que serviu por algumas horas como o principal meio propagandistico dos nitistas na qual era efusivamente pedido que o povo saísse as ruas em apoio aos camaradas Nito Alves e Zé Van Dunem que teriam sido expulsos " injustamente " do comité central dos camaradas, a Rádio Nacional de Angola foi retomada, por volta do meio-dia com ajuda das tropas cubanas que usaram entre outros equipamentos militares tanques de guerra, os nitistas fugiram para os musseques, com alguns reféns.

 

Com o poder governamental precariamente restabelecido em Luanda, foi imposto um recolher obrigatório desde o nascer ao pôr do Sol, com barreiras de rua por toda a cidade. Cubanos, em tanques e carros blindados, guardavam os edifícios públicos. A 31 de Maio, Agostinho Neto proferiu um emotivo discurso, durante o qual afirmou que os resistentes tinham adeptos em algumas províncias e em organizações de massas, tais como a Juventude do MPLA, a Organização da Mulher Angolana, (OMA), a Divisão Militar das Mulheres e a Polícia Militar.


Embora Agostinho Neto Inicialmente mostrasse que alguma clemência seria adaptada em relação aos golpistas, preparava-se para breve uma repressão em massa. Os comissários do MPLA e comités directivos em oito províncias, que tinham sido nomeados por Nito Alves, foram afastados. Foram presas milhares de pessoas ( algumas, anos mais tarde viriam a integrar importantes cargos dentro do governo angolano) e milhares de nitistas foram demitidos dos seus empregos.


Inicialmente os líderes do golpe escaparam; contudo, José Van Dunem foi capturado em Junho. Nito Alves foi capturado em Julho, quando Agostinho Neto anunciou, em público, a formação de um tribunal militar especial para julgar os que fossem presos por cumplicidade na tentativa do golpe. A investigação oficial sobre o golpe referia-se ao sucesso de Nito Alves, um campeão na defesa de laços mais estreitos com Moscovo e visitante assíduo da Embaixada Soviética, na forma de iludir Estados <>.


Os Soviéticos falharam por não terem avisado com antecedência Agostinho Neto das intenções de Nito Alves e o embaixador soviético foi, em conseqüência, obrigado a partir discretamente, os soviéticos tinham grande interesse em dividir o MPLA com a finalidade de tirar dividendos para aumentar o seu poder em Angola e por conseqüência na região Austral de África.

 
Os trabalhos do Tribunal Militar Especial (criado pela pressão de varias famílias que escreviam para o presidente Neto, em busca de dados dos seus familiares), foram levados a efeito em segredo e os veredictos e sentenças nunca foram anunciados oficialmente. Não se sabe quantos mais casos foram apresentados ao Tribunal e quantos sumariamente foram tratados pela polícia de segurança.


A 1 de Agosto de 1977, Agostinho Neto revelou que alguns líderes do golpe haviam sido fuzilados, quando afirmou, com veemência, durante uma cerimónia pública <> Em 1978, o escritor australiano Wilfred Burchett confirmou que Nito Alves fora executado, incluíam José Van Dunem, o ministro do Comércio Interno, David Aires Machado, Sitta Valles (a mulher de José Van Dunem), dois comandantes superiores de exército do MPLA, Jacob João Caetano (popularmente conhecido como <> e Ernesto Eduardo Gomes da Silva <> (um dos juízes no julgamento dos mercenários britânicos), assim como outros líderes importantes do MPLA.

 
A revolta nitistas reduzira o Comité Central do MPLA a um terço - três assassinados na tentativa de golpe, cinco conspiradores executados posteriormente, e dois suspensos por não terem revelado o seu conhecimento prévio das intenções dos golpistas. Este fato levou a que Agostinho Neto passasse a exercer um controle mais severo no seio do partido. Quando o MPLA levou a efeito o seu congresso, de 4 a 11 de Dezembro de 1977, Lúcio Lara anunciou planos para o substituir por um novo partido de vanguarda das classes trabalhadoras, o MPLA – Partido dos Trabalhadores. Isso, afirmou Neto, faria com que Angola se aproximasse cada vez mais de um governo marxista. O partido devia fortalecer a participação dos trabalhadores e exercer o controle absoluto sobre todas as instituições estatais, segundo a doutrina clássica leninista.


Análise

Muitos são de opinião que coisas do passado devemos deixar de lado, quando pensei em fazer um artigo sobre este tema alguns questionaram o porque de remexer neste tabu que deixou imensas feridas em milhares de famílias angolanas, mesmo sendo muito jovem e desconhecer a maioria dos fatos que aconteceram naqueles dias, decidi seguir em frente com este desafio que nos remete para um momento doloroso e ao mesmo tempo histórico na tentativa de mostrar o que esteve por traz de um dos maiores momentos de transgressão as leis constitucionalmente estabelecidas em Angola.


Como vimos, na verdade os fatos tem o inicio dias antes, com o anuncio do Presidente Neto da expulsão dos camaradas Nito Alves e de Zé Van Dunem como membros do comité central do MPLA, pelo fato de supostamente estes liderarem uma corrente de insatisfação dentro do partido, pois bem, a partir daí, dá-se ao inicio do levante popular que segundo os números poderão ter vitimados mais de 30 mil pessoas.


Outro ponto contraditório do 27 de Maio de 1977 e que volta e meio quando estes acontecimentos vem a tona é questionar quem foi que começou com os massacres, como descrevemos acima, as primeiras mortes são cometidas pelos fraccionistas que liquidaram quadros como Saidy Mingas, Helder Neto, entre outros e que é a partir dessas mortes segundo relatos muito ouvidos em Angola que o Presidente Neto teria dado a " ordem de prender ou fuzilar os fraccionista ".

 
Este fato nos leva a repensar e coloca a figura do presidente Agostinho Neto, como o homem que liderou o massacre de mais de 30 mil angolanos, que por eles bravamente lutou pela sua independência e liberdade, há no entanto uma indagação que poderíamos colocar; como um presidente da república reagiria a um levante de dissidentes do seu partido que queriam tomar o poder a força e ate poderiam atentar contra a sua vida? Naturalmente a primeira resposta que poderia advir é que Neto teria que mandar reprimir energicamente a intentona e manter a estabilidade institucional do país.

 
Se pudéssemos responder de novo a mesma questão e acredito que todos nós faríamos, será que poderíamos ter evitado o levante popular? alguém diria mas não foi o Neto que começou, foram eles (fraccionistas), do outro lado ouviríamos o seguinte: espera ai, mas foi o Neto que expulsou o Nito e o Zé Van Dunem do Comité Central do MPLA e o Nito estava certo porque todos lutaram mas só os brancos e mulatos estavam realmente a tirar as benesses da independência.

 
Poderíamos ficar horas e horas a discutir sobre este assunto e nunca chegaríamos a lado nenhum, mas a verdade é que foi nesta altura que Angola perdeu os seus melhores filhos e milhares de famílias ficaram sem os seus chefes de família, filhos, irmãos, amigos, etc.

 
Certa vez conversando com uma menina angolana que tem a mesma idade que eu, perguntei qual era a maior frustração na vida dela, ela prontamente respondeu que era porque nunca tinha visto o rosto do seu pai desaparecido no fraccionismo, ela contou que seu pai foi arrancado de casa e nunca mais voltaria ao lar como milhares de angolanos, será que ele estaria entre as montanhas de mortos que foram incendiados ou jogados em valas comuns no período que sucedeu a intentona?

 
Não existe por nossa parte a intenção de fazer qualquer tipo de julgamento deste episódio, o que nós queremos é que gerações mais novas e as futuras tenham acesso a esta historia, para que no futuro evitemos acontecimentos como estes, " partimos do principio que um país não pode imaginar o seu futuro se não resolver as feridas do passado e a questão se torna ainda premente quando as pessoas que vivenciaram aquele momento, omitem os fatos para gerações mais novas, estamos perante a um cerceamento de uma parte da história contemporânea de Angola, que precisa ser revista e esclarecida ", vários países também tiveram acontecimentos dolorosos mas, que mais tarde foram esclarecidas um exemplo é a África do Sul que reviu toda o histórico do regime do apartheid na <> presidida pelo Nobel da paz, Arcebispo Desmontutu, a Alemanha teve o seu <>, recentemente o chileno Pinochet teve (vai) dar explicações das suas carnificinas, esta agora em curso na América do Sul investigações para se esclarecer a participação de vários governos latinos na <> - que tinha como objetivo eliminar os oposicionistas aos seus regimes.


Falar do 27 de Maio é doloroso para qualquer família que teve um ente querido fuzilado ou como muitos ainda que foram inocentemente presos, torturados, enfim, as questões ideológicas as vezes ultrapassam o senso da razão e criam dentro do ser humano um clima permanente de vingança, fica difícil acreditar como e que pessoas que ao longo de anos lutaram por ideal comum, e mais tarde por intolerância política são obrigadas a se confrontarem.


Uma das coisas que mais lamento do 27 de Maio de 1977, foram as mortes de três grandes compositores angolanos, Urbano de Castro, Artur Nunes e David Zé , este ultimo, talvez um dos músicos angolanos mais politizados , com as mortes desses exímios cantores Angola perdeu não apenas vozes da nossa música urbana de raiz mas cidadãos que lutaram em prol de uma nova consciência nacional, quem já ouviu as musicas panfletárias de David Zé a favor do presidente Neto, percebe bem esta minha colocação, como na musica o guerrilheiro quando entoava " se és do MPLA, interessas a todo Mundo ", só que em 1977, nem todas as pessoas que eram do MPLA interessavam a todo Mundo, talvez a alguém.

 

No mês de Maio de 2010, esta é a forma mais digna que nôs encontramos para homenaguear homens, mulheres e crianças que nunca aceitaram o neo-colonialismo, a humilhação de um partido que se dizia lutar pela libertação de Angola quando lutavam por interesses pessoais...