Londres - Os nomes africanos, tal como as línguas nacionais, não escaparam à saga assimilatória imposta pelos portugueses durante os cerca de 500 anos de colonialismo a que submeteram Angola.


Fonte: José Gomes

Cometeram-se erros  a exaltar  nomes estrangeiros

Neste país, por causa da profunda assimilação pelos portugueses duma importante parte da população, criaram-se certas superficialidades em termos de conhecimento de outrem, que são básicas às nossas heranças culturais e abarca igualmente os nomes.

 

Muitas vezes torna-se deprimente para um pai verificar que ao querer registar o seu filho com um nome dos seus antepassados, é negado o registo por alegadamente o mesmo não seguir um determinado padrão, impingindo-o um nome europeu, particularmente português.

 

O mais grave ainda é o facto de actualmente as pessoas, independentemente do seu nível intelectual e da sua classe social, pronunciarem os nomes estrangeiros com muita facilidade e, por complexo de inferioridade ou por ignorância, encontrarem ou fingirem ter dificuldades em pronunciar um nome em língua nacional.

 

Nomes de líderes que defenderam com intransigência o país e lideraram revoltas contra a dominação colonial, como a rainha Njinga Mbandi, os reis Ekwikwi II, Mandume, Ngola Kilwanji, Tulanta Mbuta, Mwata Yamvwa e muitos outros deveriam ser exaltados.


Embora cada pai tenha a liberdade de nomear o seu filho como entender, o que se verifica é que os angolanos dão nomes estrangeiros, particularmente brasileiros, portugueses, franceses americanos, russos CHINESES e alemães ao seus filhos, mas, contrariando o sentido biunívico, os expatriados ignoram os nomes angolanos.


Como disse um intelectual angolano contactado por mim, o facto de muitos cidadãos deste país darem aos seus filhos nomes ocidentais, sem que em contrapartida aqueles países se interessem por nomes africanos, ilustra uma certa alienação cultural.


Pouco depois da independência de Angola, em Novembro de 1975, talvez por euforia, falta de experiência ou ignorância, cometeram-se erros e, ao invés de se começar a exaltar os nomes dos nossos antepassados, foram exaltados nomes estrangeiros como Lénine, Yuri Gagarine, Julius Fucik, Marx, Jean Paul Sartre e outros.


Angola é actualmente considerada como um mosaico cultural que convive com o mesmo ideário: o de construir uma Nação nos seus actuais limites fronteiriços.


A pergunta deve ser feita é a seguinte: Como é que vamos construir a Nação angolana? Em termos de afirmação identitárias vamos matar essas identidades? Como vamos recuperá-las?


Tudo isso exige um debate sobre um pacto de convivência nacional.


* Gentilmente cedido ao Club-k.net