Luanda - O mês de março, conhecido como "Março Mulher", é tempo de celebração e reconhecimento das mulheres angolanas como guerreiras e batalhadoras. No entanto, mais de mil mulheres da Empresa Fabril de Calçados e Uniformes (EFCU-EP), ligada ao Ministério da Defesa, Antigos Combatentes e Veteranos de Guerra, encontram-se em uma situação preocupante.

*Elias Muhongo
Fonte: Club-k.net

As trabalhadoras da EFCU-EP, responsáveis pela produção de botas e fardamentos militares, estão enfrentando baixos salários, condições de trabalho precárias, abusos constantes e cinco meses sem receber salário. As denúncias, feitas pelo coletivo de trabalhadoras da empresa, pedem anonimato.

 

Segundo relatos, a direção da empresa, liderada pelo Presidente do Conselho, Eng. Químico Têxtil Artur Augusto Luís Tombias, não tem proporcionado um ambiente de trabalho adequado, tratando as trabalhadoras com desrespeito. Muitas delas estão passando por dificuldades financeiras extremas, enfrentando até mesmo a fome, e precisam caminhar longas distâncias para chegar ao trabalho.

 

As trabalhadoras afirmam que, apesar das promessas do governo de regularizar os salários atrasados, até o momento não receberam nenhum pagamento referente aos meses de novembro e dezembro de 2023, assim como o décimo terceiro salário. Além disso, expressam preocupação com a falta de esclarecimentos sobre os episódios de desmaios ocorridos devido à possível intoxicação por produtos químicos na empresa.

Há ainda questionamentos sobre a gestão da EFCU-EP, uma vez que, apesar de um despacho presidencial ter concedido a gestão da fábrica a uma empresa chinesa, os trabalhadores relatam que a administração continua sob responsabilidade de Tombias.

 

A situação é agravada pelo acumular de prejuízos na empresa, que herdou vícios de má gestão e corrupção do sistema anterior. Apesar das promessas de ser uma grande produtora de vestuário e calçados em Angola, a realidade é de aumento dos prejuízos e condições de trabalho insatisfatórias.

 

O Club-k tentou contatar o presidente do conselho da EFCU-EP, mas não obteve sucesso. As portas do jornal continuam abertas para qualquer esclarecimento por parte da direção da empresa.

 

Diante dessa situação alarmante, as trabalhadoras clamam por justiça e esperam que as autoridades competentes intervenham para garantir seus direitos trabalhistas. É essencial que medidas urgentes sejam tomadas para resolver esse problema e assegurar condições dignas de trabalho para todas as mulheres da EFCU-EP.


Além das dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras da EFCU-EP em relação aos salários em atraso e às más condições de trabalho, há também preocupações sobre a gestão da empresa e sua viabilidade financeira. Apesar de herdar o patrimônio da antiga Fábrica de Botas e Uniformes, a EFCU-EP tem registrado prejuízos acumulados e enfrentado desafios para cumprir sua missão de reduzir os custos de importação de uniformes e calçados militares.

A gestão da empresa tem sido alvo de críticas, com relatos de uma administração que não tem sido capaz de angariar recursos suficientes para o pagamento dos salários em atraso. Além disso, há questionamentos sobre a transparência na utilização dos recursos públicos destinados à empresa e sobre a eficácia das medidas adotadas para melhorar sua situação financeira.


A situação é ainda mais preocupante diante da falta de pronunciamento claro por parte das autoridades competentes, incluindo o Ministério da Defesa e o Comandante-Em-Chefe das Forças Armadas Angolanas. A ausência de uma resposta oficial sobre os problemas enfrentados pela EFCU-EP levanta questões sobre a responsabilidade do Estado em garantir condições dignas de trabalho para seus cidadãos, especialmente para as mulheres que compõem a maioria da força de trabalho na empresa.


Diante desse cenário, é fundamental que as autoridades ajam com urgência para resolver os problemas enfrentados pela EFCU-EP e garantir que todas as trabalhadoras recebam os salários devidos e possam desempenhar suas funções em um ambiente seguro e digno. Além disso, é necessário promover uma gestão transparente e eficiente da empresa, visando assegurar sua sustentabilidade financeira e sua capacidade de cumprir sua missão de produzir uniformes e calçados para as Forças Armadas Angolanas e demais órgãos de defesa e segurança do país.